São Paulo, domingo, 03 de outubro de 2004

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TRABALHO

Disputa por espaço dentro do sindicato e aparente falta de coordenação inviabilizam acordo articulado com bancos

Política "alimenta" greve dos bancários

Alan Marques - 29.set.04/Folha Imagem
Bancária usa máscara do presidente Lula durante passeata em Brasília


CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL

A disputa interna por poder no movimento sindical às vésperas da eleição municipal, aliada à falta de coordenação entre o que querem os trabalhadores e o que negociam os sindicalistas, levou a greve dos bancários a um impasse que completa amanhã 20 dias.
De olho nas eleições para o comando do Sindicato dos Bancários de São Paulo (filiado à CUT) em 2005, o PSTU utilizou o horário eleitoral para convocar os bancários a recusarem a proposta salarial negociada por quase três meses entre sindicalistas e representantes dos bancos.
A proposta previa reajuste de 8,5% a 12,77%, dependendo da faixa salarial, o que na prática significava aumento real de 1,7% a 5% nos salários, além de participação nos lucros e resultados. Apesar de os sindicalistas preverem o oposto, ela foi barrada em assembléia no último dia 14. Os bancários decidiram então iniciar uma paralisação que já atingiu 24 capitais pelo país, provocou o fechamento de diversas agências e causou apreensão no governo.
A categoria pede 25% de reajuste, o que inclui reposição da inflação mais 17,68%. Os representantes dos bancos dizem que não vão melhorar sua oferta, sistematicamente rejeitada em assembléias com cerca de 2.000 grevistas.
Dos 88 diretores do sindicato, quatro são ligados ao PSTU -entre eles, o candidato do partido à Prefeitura de São Paulo, Dirceu Travesso. "O que está por trás dessa greve é a insatisfação dos trabalhadores com um sindicato comprometido com a política do governo. O sindicato levou para a assembléia uma proposta distante daquela que os bancários querem. Fomos à TV mostrar isso."
Na prática, o PSTU ocupou um espaço em um momento em que a direção do sindicato não estava em sintonia com a vontade da categoria, avaliam bancários e militantes consultados pela Folha.
Os sindicalistas ligados ao partido já prometiam "fazer barulho" nas campanhas salariais deste ano desde que deixaram a CUT em julho para montar uma nova central sindical -a Conlutas.
"A direção do sindicato ficou batendo na tecla de que a proposta negociada com os bancos trazia aumento real. O PSTU queria a paralisação por fins políticos. Os funcionários dos bancos públicos estavam insatisfeitos com as perdas salariais acumuladas em anos sem reajuste. O resultado foi a greve", disse o bancário Flávio Apolinário, que participou da assembléia que detonou a greve.
No Banco do Brasil há três anos e meio, ele avalia que houve "falta de percepção" do sindicato e da Confederação Nacional dos Bancários ao defenderem a aprovação da oferta feita pelos bancos.
Para o presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Luiz Cláudio Marcolino, que pertence à corrente Articulação Sindical, majoritária no comando da entidade, a greve não tem só motivação política, mas sim econômica. O sindicato representa 106 mil funcionários na capital, Osasco e região -cerca de 25% do total dos bancários no país.
"Nos últimos quatro anos, os bancos pagaram abonos em vez de aumento real. A paralisação ocorreu porque a categoria avaliou que a proposta era insuficiente. Inicialmente foi defendida pelo sindicato, mas desde que foi rejeitada buscamos abrir negociação com a Fenaban [Federação Nacional dos Bancos]. A greve só vai chegar aos 20 dias porque os bancos não querem negociar."
A rentabilidade dos bancos subiu de 9,8% em 1994 para 20% no ano passado, enquanto o piso salarial caiu de 4,3 salários mínimos para 2,6 no mesmo período.
Na avaliação do sindicalista, o PSTU sempre foi "do contra". "Essa não foi uma posição isolada. Por isso não dá para falar que a greve é política", diz Marcolino.
O que explica em parte a dificuldade de um acordo e a maior paralisação da história entre os bancários, segundo juízes do Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo que acompanham de perto a greve, é o fato de os bancos públicos -Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal- estarem negociando pela primeira vez com os bancos privados.
Segundo os juízes, o setor público resiste em aceitar "pouco" porque quer tirar o atraso de oito anos sem reajuste -o que lhes rendeu perdas salariais da ordem de 40% nos cálculos do Dieese.
No ano passado, para obterem aumento de 12,6% -igual ao dado pelos bancos privados [ante uma inflação de cerca de 17%]-, os funcionários do BB e da CEF também tiveram de cruzar os braços no país por dias.
O governo já ameaçou descontar os dias parados dos grevistas.


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