São Paulo, domingo, 03 de outubro de 2004

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Temor de analistas é desaceleração brusca

DE LONDRES

Economistas são unânimes ao afirmar que vários sinais apontam para uma desaceleração da economia mundial. Mas, como questiona a revista "The Economist" desta semana, em material sobre o assunto, "ela (a economia) se desacelerará suavemente ou se chocará contra a parede?".
Tudo vai depender, dizem analistas, de como os principais riscos -que não são poucos- se equacionarão.
Os que mais preocupam são: preço do petróleo, possível queda forte e rápida do crescimento chinês, desequilíbrio dos chamados déficits gêmeos (fiscal e externo) dos EUA, estouro da bolha imobiliária em países avançados e do endividamento excessivo dos norte-americanos e o perigo de atentados terroristas.
Para quem vê as análises de fora, chama a atenção o fato de que cada economista coloca um risco diferente no topo de sua lista de preocupações, o que pode significar que alguns perigos estejam sendo subavaliados nos cenários e que o problema como um todo seja maior do parece.
O grupo dos economistas otimistas moderados, no entanto, aposta que a economia vai se desacelerar de forma suave, sem grandes efeitos colaterais negativos. A minoria pessimista vota na hipótese do choque contra a parede, apostando em uma desaceleração brusca.
"Atualmente, o maior risco de todos, claramente, são os preços do petróleo", diz James Knightely, economista do ING Financial Markets.
Segundo Jim Croft, analista do Commerzbank, embora alguma ação especulativa tenha contribuído para a alta, boa parte da pressão vem mesmo de desequilíbrios entre oferta e demanda. Os dois analistas, no entanto, apostam em desaceleração lenta da economia global, sem maiores efeitos colaterais.
Em relação aos EUA, analistas prevêem que, depois das eleições, independente do resultado, o governo terá de reverter a política de agressivos cortes de impostos que ajudaram a resgatar a economia. Outro problema que deverá ser atacado, dizem, é a questão dos "déficits gêmeos". "Esse é um problema bastante preocupante", diz John Bowler, da EIU.
A dúvida é como a economia norte-americana reagirá a menos estímulos e a uma possível elevação mais forte dos juros para atacar os déficits.
Além disso, a China, um dos principais motores da economia mundial, é também fonte de dor de cabeça. O artificialismo da taxa de câmbio, as fragilidades do sistema bancário e uma bolha imobiliária no país preocupam.
"A bolha imobiliária na China precisa de uma vasta quantidade de novo dinheiro para sustentá-la. A política de elevação de juros do Fed [banco central dos EUA] tem dificultado a entrada de dinheiro na China. A grande fotografia não sugere que a bolha imobiliária chinesa pode durar muito tempo", diz trecho de relatório recente do Morgan Stanley.
A bolha imobiliária chinesa não é a única que atrai temores. O inchaço do mercado de casas nos EUA e o endividamento excessivo dos consumidores do país também continuam representando riscos consideráveis.
Não bastasse há o temor constante de um atentado terrorista de grande impacto como os ataques de 11 de setembro de 2001.
"A instabilidade geopolítica é um risco muito grande e, o pior de tudo, imprevisível", diz a economista Paola Subacchi, do instituto britânico Chatham House.
Nesse cenário de tantas fontes de preocupação distintas, o risco maior de todos, aponta Wilber Colmerauer, da Liability Solutions, é que mais de um desses problemas estoure ao mesmo tempo, o que, para ele, não é improvável. (EF)


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