São Paulo, domingo, 03 de novembro de 2002

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Dívida de empresas "frágeis" agora concentra a atenção do mercado

JOSÉ ALAN DIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

Com pesado endividamento em dólares, uma série de companhias desde a semana passada concentra as atenções do mercado financeiro, sacudido depois do anúncio do "reescalonamento" unilateral das dívidas da Globopar.
Um relatório divulgado pela Merrill Lynch apontou que 8 das 27 empresas analisadas não têm condição de pagar suas obrigações de curto prazo se não tiverem acesso a algum tipo de financiamento. De acordo com o documento, os nomes mais vulneráveis seriam Light, Klabin, Usiminas, Eletropaulo e Embratel.
A Klabin acumula, entre o último trimestre deste ano e o primeiro de 2003, vencimentos que totalizam US$ 700 milhões. A fabricante de papel teve um fluxo de caixa de R$ 731 milhões em 2001.
Ainda no primeiro semestre deste ano, a empresa abriu processo de renegociação com seus credores para alongar o perfil da dívida. Na sexta, os credores de um debênture de US$ 115 milhões, com vencimento em 2004, poderiam exercer o direito de "call" (resgate antes do vencimento).
Nesta semana vencem US$ 50 milhões em eurobônus e, em 28 de dezembro, outro eurobônus de US$ 60 milhões. Analistas argumentam que a empresa necessitaria de financiamento de R$ 1 bilhão para superar essa concentração de vencimentos, ou então fazer uma reestruturação.
A Klabin tem hedge (proteção) natural contra a desvalorização do real porque é exportadora. Mas esse hedge cobriria só 35% das dívidas, segundo analistas.
"Eles produzem muito papelão, papel usado em sacos de cimentos. Assim, vão depender da melhora da atividade econômica", diz o analista Mauro Giorgi.
Giorgi aponta ainda outro fator: como a situação financeira da Klabin deve-se, em grande parte, a uma enorme concentração de vencimentos de dívida em período curto, e não a uma crise do setor de papel e celulose, diminuem suas possibilidades de ser socorrida pelo governo, via BNDES.
A direção da empresa foi procurada pela Folha desde quarta, com solicitações por escrito e por telefone. Sua assessoria informou que reuniões impediam os diretores de atender a reportagem.

Telefonia e energia
Não menos desconfortável está a Embratel: em 2003, terá que enfrentar dívidas de US$ 790 milhões. Mais de um terço (38,8%) vence no primeiro trimestre.
No segundo trimestre, os vencimentos correspondem a 14,5% do total. No terceiro, estão previstos pagamentos que correspondem a 34% da dívida. Até setembro, o endividamento total da Embratel era de US$ 1,3 bilhão. Naquele trimestre, a companhia acumulou prejuízo de R$ 549 milhões, afetada pelo impacto da alta do dólar sobre sua dívida. Para renegociar suas dívidas, contratou a consultoria de Maria Silvia Bastos, ex-presidente da CSN.
"O que a Embratel está fazendo é antecipar a renegociação de seus vencimentos. Eles não teriam condições de fazer o pagamento total da dívida", diz a analista Carolina Gava, do BES (Banco Espírito Santo) Securities.
A Embratel foi procurada pela reportagem da Folha, mas sua assessoria informou que a direção da empresa não indicou porta-voz para tratar do assunto.
De sua parte, a Eletropaulo conseguiu ao longo deste ano livrar-se seguidas vezes de dar inadimplência. Em agosto, a empresa foi salva pelo BNDES, que liberou R$ 402 milhões, como parte de um contrato destinado a cobrir perdas que as distribuidoras de energia tiveram durante o racionamento. Esse repasse do BNDES permitiu à Eletropaulo quitar um bônus de US$ 120 milhões.
No mês passado, outro alento: obteve prazo de 24 meses para pagar um débito de R$ 360 milhões. No total, até setembro, a Eletropaulo devia R$ 4,3 bilhões.
"A Eletropaulo tem um fluxo contínuo de recursos, que são dos usuários de energia elétrica, e a geração de caixa é compatível com seu endividamento. O problema é que muitas dessas dívidas se concentram agora no segundo semestre", diz Cristiano Martins, analista do Sudameris Equity Research. Procurada pela Folha, a Eletropaulo informou que não iria se pronunciar.
Outra distribuidora de energia elétrica, a Light tem previsto em janeiro o pagamento de um bônus, emitido no mercado externo, de US$ 150 milhões. A empresa é uma das mais afetadas pela queda no consumo de energia após o fim do racionamento. Procurada, a Light não se comenta o assunto
No caso da Usiminas, os temores dos analistas são provocados pelo fato de a siderúrgica manter uma dívida de US$ 840 milhões, em sua maioria de curto prazo, da qual apenas um terço, segundo analistas, seria coberta por hedge. A dívida total alcança os R$ 3,93 bilhões, sendo que 60% em moeda estrangeira. Como agravante, as receitas da Usiminas no mercado interno devem cair 2% neste ano, segundo a própria empresa. A siderúrgica não se pronunciou.


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