São Paulo, domingo, 03 de novembro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

DÍVIDAS EXTERNAS

Devedoras procuram investidores e bancos até três meses antes de vencimento para negociar rolagem

Empresas "caçam" credor antes do previsto

ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

O "efeito manada" fez disparar o período utilizado pelas empresas para ir à caça dos credores em busca do refinanciamento das suas dívidas em dólares.
Em momentos em que a tranquilidade reina, companhias sondam o mercado de três a quatro semanas antes do vencimento do débito. Hoje, empresas com dívidas a vencer apenas nos meses de fevereiro e março já têm contatado os bancos e demais investidores para ver se é possível rolar compromissos. Ou seja, faltando quatro meses, em média, para o vencimento.
"Essa estratégia é parte do atual "efeito manada". A empresa até acha que o dólar deve cair daqui para a frente, mas pensa assim: "Se todo mundo está tentando antecipar agora, vou sondar o mercado também. Quem sabe dá certo e eu fico sem essa dor de cabeça no futuro'", diz Cláudia Hausner, diretora do banco Banif Primus.
"Em momentos tranquilos, em três semanas fechamos um novo acordo. Agora, isso não dá mais."
A medida é bem vista pelos especialistas e foi confirmada à Folha por bancos como o BNP Paribas, Dresdner Bank e o Bank of America, instituições especializadas em reestruturar débitos do setor privado. "Uma atitude pró-ativa agora só vai trazer benefícios, pois, caso o mercado não se mostre aberto a renegociar o débito, a empresa terá tempo para procurar soluções", diz Gisele Luna, diretora do Bank of America.
A Light tem US$ 150 milhões a vencer em fevereiro e já está em contato com os bancos e investidores, apurou a Folha. A Eletropaulo tem US$ 100 milhões que vencem em dezembro. A Klabin tem outros US$ 110 milhões com data de vencimento para o próximo mês. As conversas com os credores começaram em setembro.
Na prática, há poucas razões para essa antecipação nas conversas entre as partes. Não há previsão de forte pressão em cima da moeda norte-americana nos primeiros dois meses do ano. Os vencimentos são de menor volume e, portanto, haverá uma demanda menor pelo dólar do que a verificada nos últimos meses deste ano.
Com uma procura menor pela moeda no primeiro trimestre de 2003, não existe uma tendência de que falte dólares no mercado e, portanto, é menor a probabilidade de que a cotação dispare.
Mas o mercado não raciocina com essa mesma tranquilidade. Ainda não se sabe se o mercado estará aberto ao Brasil no início de 2003. Até o momento as carteiras de crédito são pouco disponíveis. Além disso, é preciso lembrar que as companhias brasileiras são hoje alvo de uma avaliação rigorosa dos bancos internacionais. E isso pode continuar por um período no próximo ano, diz Ernesto Meyer, diretor do BNP Paribas.

Empresas na lista
A agência de classificação de risco Standard & Poor's, por exemplo, rebaixou na semana passada a nota da Klabin, da Globopar e da Net Serviços. Isso ocorreu porque elas estão tentando reestruturar suas dívidas e ainda não há certeza de sucesso, na avaliação da agência. Outras companhias, até então não citadas pelas agências, integraram listas recentes de companhias "com liquidez abaixo da média de mercado", informa a FitchRantings, outra companhia de classificação de risco.
Segundo a Fitch informa em seu último relatório de outubro, estão nesse grupo a Acesita e a BSE (do grupo BCP). A Merrill Lynch ainda destacou a Usiminas e a Light. No caso da Usiminas, citada pela primeira vez entre as agências, é lembrado que ela possui um grande volume de empréstimos em moeda estrangeira (US$ 839,4 milhões), mas um volume menor de operações de proteção em dólar no mercado (US$ 320 milhões, em 30 de junho de 2002).
A Light é outra que atrai as atenções por ser candidata a ter de reestruturar a sua atual carteira de débitos, na avaliação da S&P. Todas as companhias citadas foram procuradas pela Folha, mas até o final da tarde de sexta-feira não se manifestaram.
Mesmo com essa atitude de cautela dos especialistas, não há risco de repetir no país o caso da Globopar, dizem os analistas. A Globopar Comunicações e Participações anunciou uma renegociação com o reescalonamento do fluxo de pagamentos da sua dívida financeira na semana passada. A empresa deve US$ 1,5 bilhão.
Para tentar um acordo, é preciso provar que a empresa é sólida, está enxuta. E, se há um momento difícil, é devido à concentração de vencimentos da companhia num único período. Isso é o que a Embratel está dizendo aos seus credores, segundo a Folha apurou.
Segundo o balanço da companhia em junho, a dívida chegava a R$ 4,354 bilhões, sendo R$ 1,441 bilhão para vencimento em até 12 meses. Pouco mais de 25% desse valor não está "hedgeado", ou seja, não está coberto por operações de proteção no mercado.


Texto Anterior: Construtora quer contrato "flexível"
Próximo Texto: Dívida de empresas "frágeis" agora concentra a atenção do mercado
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.