|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Aneel vê aumento imediato de energia
Agência de energia que fixa preços e regula setor diz que cobertor é curto para atender demanda maior e teme racionamento
Diretor-geral da Aneel afirma que os grandes consumidores serão afetados pela alta de preços no mercado livre de energia
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A redução na quantidade de
gás natural fornecida pela Petrobras às usinas térmicas imporá um "imediato aumento no
custo de energia elétrica", além
de risco de racionamento de
energia, afirmou à Folha o diretor-geral da Aneel (Agência
Nacional de Energia Elétrica),
Jerson Kelman.
"É um cobertor curto", argumentou, sobre a oferta insuficiente de gás para atender o
consumo crescente do produto
e a conseqüente competição
entre usinas térmicas, indústrias e veículos que usam o produto como combustível.
No caso do abastecimento
das usinas térmicas, o consumo de gás não é contínuo e depende muito do nível de água
dos reservatórios das usinas hidrelétricas -quando estão baixos, usa-se o gás.
Mas a Petrobras, por meio de
um termo de compromisso assinado em maio, se comprometeu a entregar combustível suficiente para a geração de 2,3
mil megawatts de energia no
segundo semestre do ano caso
a seca fizesse acionar as usinas
térmicas.
Kelman avalia que a impossibilidade de a Petrobras cumprir o compromisso imporá
uma "repactuação" do acordo
para fornecimento de gás. Sem
a garantia de combustível para
o funcionamento das usinas
térmicas, argumenta o diretor
da agência, o sistema elétrico
operará com incertezas que
elevarão o custo da energia.
"No curto prazo, isso vai afetar os grandes consumidores",
concluiu Kelman. O aumento
do custo da energia vai se refletir no chamado mercado livre,
ao qual recorrem consumidores de mais de 3 MW/hora.
Nesse grupo estão indústrias e
até alguns shoppings centers.
A Aneel é quem fixa os preços para a energia elétrica. Por
lei, cabe à agência regular e fiscalizar a produção, a transmissão, a distribuição e a comercialização de energia elétrica.
No mercado livre ou spot, o
preço é calculado mensalmente por meio de modelos matemáticos que levam em conta o
custo de produção adicional de
energia elétrica. Esse preço é
influenciado pelo nível de armazenamento dos reservatórios das usinas hidrelétricas,
pelo ritmo da demanda e pela
disponibilidade atual e futura
de energia.
O sistema atualmente funciona de forma a evitar a repetição do apagão de energia de
2001, quando os reservatórios
de água das hidrelétricas ficaram reduzidos a 21% da sua capacidade. Os reservatórios da
região Sudeste chegaram a 52%
em média na seca deste ano.
Quando o nível de água baixa, o
sistema aciona as usinas térmicas que usam gás como combustível. O consumidor paga
por essa espécie de "seguro"
antiapagão.
O termo de compromisso entre a Aneel e a estatal prevê a
possibilidade de adequação do
cronograma de fornecimento
de gás às térmicas quando
ocorrerem fatos que "comprovadamente escapem ao controle da Petrobras".
Segundo Kelman, esse é o caso da liminar concedida pela
Justiça a pedido do governo do
Estado do Rio de Janeiro. A liminar determinou que a Petrobras restabelecesse o suprimento de gás à CEG, a distribuidora local, reduzido em
17%. A estatal recorre da decisão e seu presidente, José Sérgio Gabrielli, já disse que não
há como atender o crescimento
da demanda por gás.
Não é a primeira vez que o
termo de compromisso entre
Aneel e Petrobras é descumprido. Em agosto, pouco mais de
três meses depois da assinatura
do acordo, a Aneel multou a estatal em R$ 84,7 milhões por
falha no fornecimento de gás às
usinas térmicas. Recurso da
Petrobras contra o pagamento
da multa é analisado pela direção da agência reguladora.
O termo de compromisso estabelece garantia de fornecimento crescente de gás às usinas térmicas até 2011.
A expectativa do governo é
que a produção de gás no país
cresça a partir do ano que vem.
"A estratégia de maior oferta
de gás só vai começar a se concretizar em 2008, e parte dos
investimentos vão melhorar a
situação a partir de 2010", acena o presidente da EPE (Empresa de Pesquisa Energética),
Maurício Tolmasquim.
Texto Anterior: Mercado Aberto Próximo Texto: Floyd Norris: Às escuras em Wall Street Índice
|