São Paulo, segunda-feira, 03 de novembro de 2008

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Fundo de banco externo registra mais saques

Fundo estrangeiro perdeu 18% em quatro meses

MARIA CRISTINA FRIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

Clientes de fundos ligados a instituições estrangeiras resgataram mais recursos de suas aplicações do que os investidores de bancos nacionais em outubro. De junho para cá, o percentual de saques dos estrangeiros tem sido superior ao dobro dos nacionais.
O CEF/FGV (Centro de Estudos em Finanças da Fundação Getulio Vargas) fez, a pedido da Folha, uma pesquisa sobre captação líquida em fundos de investimentos. O CEF adotou uma amostra de 752 fundos abertos. Foram excluídos fundos que tinham problemas com dados, como, por exemplo, captação zero em algum mês.
Em 30 de junho deste ano, data-base do estudo, o patrimônio líquido de fundos ligados a instituições estrangeiras era de R$ 105,34 bilhões e o de nacionais, R$ 283,14 bilhões.
Em 20 de outubro, o patrimônio líquido dos estrangeiros havia caído para R$ 86,049 bilhões, enquanto o dos nacionais recuou para R$ 259,56 bilhões. Uma queda de 18,32% nos estrangeiros e de 8,33% nos nacionais, em menos de quatro meses.
Para especialistas, além do temor de problemas em bancos com sede fora do Brasil, há um movimento de cobertura de prejuízos. Investidores no exterior têm perdas mais significativas em outros países e, no caso de necessidade de caixa, são obrigados a vender os ativos onde a liquidez existe, como no Brasil, e onde as perdas são menores.
"Vejo duas explicações: de um lado, investidores com um pé fora do Brasil, estrangeiros e multinacionais tiraram para acertar seu VAR ["Value at Risk", índice que mede o risco em uma carteira de investimentos] no exterior ou para cobrir prejuízos. E de outro lado, brasileiros com medo de quebra das instituições estrangeiras migraram para [instituições] locais", diz William Eid Júnior, coordenador do CEF.

Risco
Para Eid Júnior, em fundos de investimentos não há com o que se preocupar, porque não existe risco de crédito.
Em caso de quebra da instituição financeira, os cotistas elegem um novo administrador para seguir em frente.
"No meio da crise é melhor não se mexer. O investidor de classe média não consegue se antecipar a certos movimentos, como à cota negativa [dos fundos]. Não deve sair; quem fica no fundo, recupera a diferença. No pânico, os ativos estão mal precificados. Imagine como está quem comprou dólar a R$ 2,50 há poucos dias", diz.
Num fundo, o que precisa ser analisado com atenção por quem aplica é onde o fundo investe. "Os cotistas de um fundo correm o risco dos ativos que compõem as carteiras dos fundos e, não, o risco das empresas", afirma Márcia Dessen, da consultoria BankRisk. "O gestor presta o serviço de gerir os recursos financeiros do investidor, por sua conta e risco (do investidor)."
Quem aplica deve observar o "mandato" do contrato, o regulamento do fundo, mas é dever do investidor monitorar essa gestão e entender o que está sendo feito com seu patrimônio. A composição detalhada da carteira dos fundos pode ser encontrada no site da CVM. Se for cotista de um fundo FIC, o investidor deve procurar a carteira do FI. Além disso, pode pedir explicações ao administrador do fundo.
"Não deve fazer disso uma exercício de fiscalização no sentido de procurar riscos não autorizados ou ainda, fazer disso uma preocupação diária", diz Dessen.
"O monitoramento da carteira deve ser feito com uma freqüência que deixe o investidor confortável à medida que percebe que o gestor está fazendo o que é pago para fazer. Ou o investidor acha que o administrador sabe fazer melhor do que ele sozinho e permanece na carteira ou transfere seus recursos para um fundo mais adequado ao seu perfil e objetivos, ou ainda, gerencia sua própria carteira pessoalmente."

Outras aplicações
No caso de outras aplicações ou conta corrente, caso o banco quebre no exterior, "credor de um banco estrangeiro é credor aqui e lá. O risco é o mesmo", afirma Dessen.
"Pode acontecer de outro banco se interessar por comprar a operação desse banco estrangeiro no Brasil e seguir em frente, como ocorreu com o Itaú que comprou a operação do antigo BankBoston no Brasil, por outras razões."
No caso de falência da instituição financeira, a perda com dinheiro em conta corrente, caderneta de poupança e CDBs (Certificado de Depósito Bancário), dentre outras aplicações tem cobertura do Fundo Garantidor de R$ 60 mil por CPF ou CNPJ.
Fundos não têm essa garantia porque podem ser transferidos para outro administrador.


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