São Paulo, terça-feira, 03 de novembro de 2009

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Avanço econômico encarece os funerais

O setor teve impulso nos últimos dois anos devido à estabilização da moeda e ao aumento da renda média do brasileiro

Além de aumentarem as despesas com esse tipo de serviço, os consumidores também estão preferindo itens mais sofisticados

DENYSE GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL

O equilíbrio da economia e o aumento da renda no país não significam somente que a população está vivendo melhor. Significam, também, que o brasileiro está "morrendo" melhor. De cerca de dois anos para cá, o setor funerário tem experimentado um forte aquecimento, pois os gastos dos consumidores com esse tipo de serviço estão subindo em quantidade e em qualidade.
No cotidiano, os vasinhos de crisântemos continuam sendo os preferidos porque duram muito tempo nos cemitérios. Entretanto, em datas especiais, os vendedores observam que a saída de arranjos de rosas, lírios e girassóis, mais caros, cresceu. As coroas fúnebres sofisticaram-se e tornaram-se vistosas.
O preço das flores, de acordo com a medição da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), teve alta de 8,34% na cidade de São Paulo neste ano até setembro, enquanto a inflação no município ficou em 2,91% no mesmo período.
"Quando as pessoas passam a ganhar melhor, as suas necessidades básicas são satisfeitas com facilidade, aí sobra dinheiro para gastos supérfluos", diz Antonio Evaldo Comune, coordenador da pesquisa do IPC (Índice de Preços ao Consumidor) da instituição. "Percebemos que, neste momento, as despesas que estão inflando são justamente as com serviços." Os preços de limpeza de jazigos -inclusive a realizada informalmente por senhoras nos cemitérios- subiram 6,21% nos primeiros nove meses do ano, segundo a Fipe.

Da cerimônia ao túmulo
Fora os poucos itens que aparecem nos levantamentos sobre inflação, não existem estatísticas específicas a respeito do segmento. Mas os profissionais do ramo são unânimes em apontar os avanços.
A procura pelos cemitérios privados, por exemplo, é um bom indicador. Antes, os seus grandes diferenciais em relação aos jazigos públicos eram apenas o paisagismo e as confortáveis salas para velório. Diante do crescimento da demanda, porém, os estabelecimentos viram-se obrigados a inovar: inserem novos recursos nas cerimônias, fornecem ajuda psicológica para os familiares enlutados e providenciam tratamentos especiais para que o corpo fique bem conversado até o sepultamento.
O Grupo Primaveras, que administra dois cemitérios e um crematório em Guarulhos, na Grande São Paulo, é um dos mais criativos: já chegou a organizar um ciclo de cinema para que os filmes servissem de gancho a debates sobre a morte.
Além de contabilizar um bom aumento nos negócios, Jayme Adissi, proprietário da empresa, notou uma mudança importante nas vendas de planos de assistência funerária: os clientes agora buscam os intermediários em vez de escolherem os baratos. Os mais simples, que custam R$ 28 por mês, dão direito a coroa de flores pequena e caixão de bronze, enquanto os medianos oferecem velas e enfeites extras.
Optando-se pelo mais caro, a R$ 110 por mês, pode-se contar com um bufê de pratos frios e quentes no velório.
Dar crédito ajuda bastante a conquistar o consumidor, destaca Adissi. "Não recuso ninguém. Não levanto ficha, parcelo no cartão e no cheque."
Entretanto, tais facilidades não evitaram que o setor sentisse as consequências da crise econômica entre o final do ano passado e o início deste.
"Este sim é o ramo que recua primeiro e é o último a retomar", diz Ercy Soares, presidente do Sincep (Sindicato Nacional dos Cemitérios e Crematórios Particulares).
A inadimplência teve elevação e caíram as vendas de novos pacotes. Até espaços públicos foram afetados. "De janeiro a março, contabilizamos uma redução de aproximadamente 3% nas receitas", afirma Celso Jorge Caldeira, superintendente do Serviço Funerário do Município de São Paulo.

Planejamento
Para Waldyr Gaboni Junior, gerente de vendas do Cemitério de Congonhas, que atende a classe média alta na capital paulista, um dos fatores que contribuíram para o impulso ao setor foi a cultura de planejamento nascida com a estabilização da moeda.
"Fica difícil decidir questões tão delicadas de última hora. Mas, com antecedência, é possível negociar", explica Gaboni. Dessa maneira, consegue-se até adquirir um jazigo nas áreas nobres, como as próximas à entrada, à capela, ou, no Congonhas, ao chafariz. Nesse caso, o lote pode sair por R$ 25 mil -e a disputa tem sido grande.


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