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Avanço econômico encarece os funerais
O setor teve impulso nos últimos dois anos devido à estabilização da moeda e ao aumento da renda média do brasileiro
Além de aumentarem as despesas com esse tipo de serviço, os consumidores também estão preferindo itens mais sofisticados
DENYSE GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL
O equilíbrio da economia e o
aumento da renda no país não
significam somente que a população está vivendo melhor.
Significam, também, que o brasileiro está "morrendo" melhor. De cerca de dois anos para
cá, o setor funerário tem experimentado um forte aquecimento, pois os gastos dos consumidores com esse tipo de
serviço estão subindo em quantidade e em qualidade.
No cotidiano, os vasinhos de
crisântemos continuam sendo
os preferidos porque duram
muito tempo nos cemitérios.
Entretanto, em datas especiais,
os vendedores observam que a
saída de arranjos de rosas, lírios
e girassóis, mais caros, cresceu.
As coroas fúnebres sofisticaram-se e tornaram-se vistosas.
O preço das flores, de acordo
com a medição da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), teve alta de 8,34% na
cidade de São Paulo neste ano
até setembro, enquanto a inflação no município ficou em
2,91% no mesmo período.
"Quando as pessoas passam a
ganhar melhor, as suas necessidades básicas são satisfeitas
com facilidade, aí sobra dinheiro para gastos supérfluos", diz
Antonio Evaldo Comune, coordenador da pesquisa do IPC
(Índice de Preços ao Consumidor) da instituição. "Percebemos que, neste momento, as
despesas que estão inflando são
justamente as com serviços."
Os preços de limpeza de jazigos
-inclusive a realizada informalmente por senhoras nos cemitérios- subiram 6,21% nos
primeiros nove meses do ano,
segundo a Fipe.
Da cerimônia ao túmulo
Fora os poucos itens que aparecem nos levantamentos sobre inflação, não existem estatísticas específicas a respeito
do segmento. Mas os profissionais do ramo são unânimes em
apontar os avanços.
A procura pelos cemitérios
privados, por exemplo, é um
bom indicador. Antes, os seus
grandes diferenciais em relação aos jazigos públicos eram
apenas o paisagismo e as confortáveis salas para velório.
Diante do crescimento da demanda, porém, os estabelecimentos viram-se obrigados a
inovar: inserem novos recursos
nas cerimônias, fornecem ajuda psicológica para os familiares enlutados e providenciam
tratamentos especiais para que
o corpo fique bem conversado
até o sepultamento.
O Grupo Primaveras, que administra dois cemitérios e um
crematório em Guarulhos, na
Grande São Paulo, é um dos
mais criativos: já chegou a organizar um ciclo de cinema para
que os filmes servissem de gancho a debates sobre a morte.
Além de contabilizar um
bom aumento nos negócios,
Jayme Adissi, proprietário da
empresa, notou uma mudança
importante nas vendas de planos de assistência funerária: os
clientes agora buscam os intermediários em vez de escolherem os baratos. Os mais simples, que custam R$ 28 por
mês, dão direito a coroa de flores pequena e caixão de bronze,
enquanto os medianos oferecem velas e enfeites extras.
Optando-se pelo mais caro, a
R$ 110 por mês, pode-se contar
com um bufê de pratos frios e
quentes no velório.
Dar crédito ajuda bastante a
conquistar o consumidor, destaca Adissi. "Não recuso ninguém. Não levanto ficha, parcelo no cartão e no cheque."
Entretanto, tais facilidades
não evitaram que o setor sentisse as consequências da crise
econômica entre o final do ano
passado e o início deste.
"Este sim é o ramo que recua
primeiro e é o último a retomar", diz Ercy Soares, presidente do Sincep (Sindicato Nacional dos Cemitérios e Crematórios Particulares).
A inadimplência teve elevação e caíram as vendas de novos
pacotes. Até espaços públicos
foram afetados. "De janeiro a
março, contabilizamos uma redução de aproximadamente 3%
nas receitas", afirma Celso Jorge Caldeira, superintendente
do Serviço Funerário do Município de São Paulo.
Planejamento
Para Waldyr Gaboni Junior,
gerente de vendas do Cemitério de Congonhas, que atende a
classe média alta na capital
paulista, um dos fatores que
contribuíram para o impulso
ao setor foi a cultura de planejamento nascida com a estabilização da moeda.
"Fica difícil decidir questões
tão delicadas de última hora.
Mas, com antecedência, é possível negociar", explica Gaboni.
Dessa maneira, consegue-se
até adquirir um jazigo nas áreas
nobres, como as próximas à entrada, à capela, ou, no Congonhas, ao chafariz. Nesse caso, o
lote pode sair por R$ 25 mil -e
a disputa tem sido grande.
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