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LUÍS NASSIF
Parafuso sextavado
É inacreditável como a
discussão macroeconômica perdeu o eixo, a capacidade
de se guiar pelos princípios básicos que regem a economia e
os mercados. Por que se perdeu
o eixo, por que esse parafuso
sextavado que gira, gira e não
sai do lugar?
A pior herança de Fernando
Henrique Cardoso foi uma tecnologia de governabilidade
que ele foi buscar nas raízes
brasileiras, que é basicamente
burocrata e imobilista, mas
acabou sendo incorporada pelo governo petista.
De um lado há os coronéis regionais. A administração de
suas demandas é relativamente simples. Distribuem-se cargos, verbas, atrapalha-se a gestão, mas as demandas são administráveis.
A questão é quando entram
as demandas das forças econômicas. Nos Estados Unidos há
uma visão de país que se sobrepõe aos interesses imediatos
dos grupos econômicos. Historicamente o Brasil não conseguiu desenvolver esses valores.
Novos grupos assumem posições dominantes e tentam eternizá-las. Aí se cria uma estratificação econômica, um imobilismo que vai bater na dívida
pública -por meio da emissão
de títulos ou de moedas- e se
resolve via crise.
Estadistas rompem com essas
armadilhas. Governantes sem
visão estratégica preferem contemporizar e cuidar só do aspecto tático da política. E acabam engolidos pela tática, como ocorreu com FHC.
Um projeto de país tem que
contemplar papéis claros para
cada setor. Há que criar um
ambiente econômico favorável, um estímulo ao empreendedorismo de pequenas e médias empresas; um plano de
vôo para a internacionalização dos grandes grupos; o aproveitamento saudável das multinacionais, mercado de capitais adequados, um esforço sistemático de investimento em
educação, saúde e pesquisa, investimentos em áreas críticas
de infra-estrutura.
Quando se busca a governabilidade pela governabilidade,
sem plano de vôo, perde-se a
noção de conjunto, atendem-se
as demandas pontuais e fica-se
prisioneiro do modelo.
O primeiro governo FHC subordinou a política econômica
ao mercado financeiro e aos
grandes grupos nacionais e
multinacionais. Dividiu o Brasil em dois: aquele com acesso a
dólares -juros módicos e capital abundante- e aquele preso ao real. Essa subordinação
aprisionou o governo à armadilha cambial, que explodiu
em 1999. No final do governo,
apenas o setor financeiro ainda apoiava FHC.
O governo Lula está indo pelo mesmo caminho. O leque de
alianças foi ampliado, mas o
dinheiro é um só. Numa ponta,
o Banco Central se subordina
aos interesses do mercado. Há
um aumento de pressão dos
grandes grupos industriais. Aí
se oferece a eles o fim da cumulatividade da Cofins. Como
não há plano de vôo, nem gestão de despesa, nem visão sistêmica de país, para quem vai a
conta? Para os grupos não-organizados, pequenas e médias
empresas e todos os grupos demandantes de serviços públicos. E aí o país não decola mesmo.
Alienista
O vice-presidente José Alencar é um marciano. Suas declarações são das poucas manifestações de bom senso e objetividade desse país de cabeças de
planilha. Onde ele pensa que
está? Nos EUA?
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
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