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CURTO-CIRCUITO
Empresa do grupo tem patrimônio negativo de US$ 200 mi
Auditoria faz BNDES rever
acordo firmado com a AES
GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.
HUMBERTO MEDINA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Uma auditoria feita na Eletropaulo e em outras empresas controladas pela AES apontou problemas que complicam ainda
mais o acordo entre o BNDES
(Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e o
grupo energético americano.
De acordo com o que a Folha
apurou, o BNDES descobriu que a
AES Uruguaiana, uma termelétrica que compõe a nova holding (a
Novacom) criada para dar solução à dívida de US$ 1,2 bilhão da
AES com o banco, está com o patrimônio líquido negativo em
US$ 200 milhões. Diante disso, o
BNDES quer tirar a Uruguaiana
da Novacom ou simplesmente
cancelar o acordo.
A auditoria foi feita a pedido do
BNDES e concluída na semana
passada. Compromisso assinado
em setembro pelo banco e pela
empresa previu o próximo dia 15
como prazo limite para a assinatura final do acordo.
Ação na Justiça
Carlos Lessa, presidente do
BNDES, admitiu ontem, em Brasília, que está pronto para acionar
a AES na Justiça caso a empresa
não honre o acordo feito com o
banco. "Nós cumprimos inteiramente a nossa parte. Eles não
cumpriram as cláusulas acordadas", disse. "Se eles não cumprirem as cláusulas, vamos para o
pau na Justiça", afirmou Lessa.
Ele disse ainda que o prazo para
que o memorando de entendimento entre a AES e o BNDES seja
assinado -15 deste mês- não
será prorrogado.
A Novacom foi a saída encontrada pela AES para quitar sua dívida com o BNDES.
A nova companhia, da qual o
BNDES teria participação de 50%
menos uma ação, iria agrupar os
ativos da Eletropaulo, da AES
Uruguaiana, da geradora de energia AES Tietê (a mais rentável unidade do grupo) e da distribuidora
AES Sul -avaliadas pelo acordo
em US$ 600 milhões.
A AES teria o controle da nova
companhia (metade mais uma
ação). O saldo restante da dívida
(US$ 600 milhões) seria refinanciado, segundo o compromisso
inicial.
Reavaliação
Como a Uruguaiana tem patrimônio líquido negativo de US$
200 milhões, o BNDES acha que
será preciso reavaliar o valor dos
ativos da Novacom.
Procuradas pela Folha, a AES e
a Eletropaulo preferiram não se
pronunciar.
O patrimônio líquido negativo
da Uruguaiana é mais um obstáculo na tumultuada negociação
entre a AES e o BNDES para concluir o acordo até o próximo dia
15 deste mês.
Lessa disse que já esperava impasses entre o banco e a AES. "A
posição [da AES] foi pouco correta, porém não me surpreendeu
porque nossas relações sempre
foram difíceis", afirmou.
"Está tudo pronto para ir à Justiça. O problema é que a Justiça é
um caminho de muitos anos",
disse.
Garantia de empréstimo
Além do passivo da Uruguaiana, o BNDES enfrenta outro grande problema. Trata-se da inclusão
da AES Tietê na Novacom.
A AES se comprometeu, no memorando de entendimento, a entregar as ações da Tietê livres e desembaraçadas de qualquer ônus.
O problema é que a Tietê já foi
dada como garantia de um empréstimo de US$ 300 milhões
contraído pela AES fora do país.
Para liberar as ações da Tietê desse empréstimo, a empresa precisaria da aprovação dos credores
externos.
A AES tentou e não conseguiu
que os credores abrissem mão da
geradora. Como o BNDES não
abre mão da Tietê, criou-se também um impasse.
Para não ter que entregar a Tietê
à Novacom, a AES fez uma contraproposta ao BNDES nas últimas duas semanas. Lessa confirmou a oferta dessa contraproposta -cujo conteúdo não divulgou-, mas disse tê-la rejeitado.
"A contraproposta que eles fizeram é não cumprir o acordo. Esse
tipo de contraproposta não vale."
Holdings e "subholdings"
O BNDES descobriu também
peculiaridades dos ativos da AES
e de suas subsidiárias. Todas as
empresas não são controladas diretamente pela AES Corp., mas
por holdings e "subholdings"
com sede em paraísos fiscais.
A AES Tietê, por exemplo, é
controlada por uma holding no
Brasil, que, por sua vez, é controlada por uma outra holding, nas
Ilhas Cayman, que é controlada
por uma terceira holding, localizada nas Ilhas Virgens Britânicas.
Só esta última holding é controlada pela empresa-mãe, a AES
Corp.
O objetivo desse modelo societário, segundo o BNDES, seria
"blindar" a matriz contra dívidas
contraídas por empresas controladas. Para o BNDES, trata-se de
um complicador adicional para
que se chegue a um acordo.
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