São Paulo, sexta-feira, 03 de dezembro de 2004

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ZONA DO EURO

Decisão surpreende mercados; se houvesse aumento, seria para conter expectativas quanto a riscos inflacionários

Após cogitar alta, BCE mantém juro em 2%

Michael Probst/Associated Press
O presidente do BCE, Jean-Claude Trichet, durante entrevista coletiva ontem em Frankfurt


JONATHAN GOULD
DA REUTERS

O BCE (Banco Central Europeu) surpreendeu os mercados financeiros ao revelar que tinha estudado elevar as taxas de juros, apesar da desaceleração da economia européia, alegando preocupação quanto aos riscos inflacionários.
Os preços elevados do petróleo estão reduzindo as perspectivas de crescimento e a alta do euro ameaça as exportações, alimentando preocupações políticas e entre os empresários, mas o BCE informou que uma reunião dos 18 membros de seu conselho supervisor deixara claro que não havia a previsão de corte dos juros.
O presidente do BCE, Jean-Claude Trichet, informou em entrevista coletiva que o órgão decidira manter as taxas inalteradas em 2%, seu mais baixo marco histórico, com forte apoio do conselho à decisão, mas que a vigilância quanto a uma possível alta da inflação continuaria forte.
"Eu disse que não examinamos cortes de juros. Examinamos outras opções quanto a eles", disse Trichet. As outras opções são manter a taxa inalterada ou aumentar os juros.
"Nossa conclusão, por uma maioria bastante grande, era de que as taxas de juros estão no ponto correto, no momento, e que era essencial manter a vigilância."
Os mercados financeiros se assustaram com a idéia de que o BCE tivesse levado em consideração aumentar o custo do dinheiro no mesmo dia em que o euro estabeleceu novo recorde, cotado a US$ 1,3383.
Taxas de juros mais altas poderiam reforçar ainda mais o euro e debilitar o crescimento, em um momento de estagnação para a indústria da zona do euro. A equipe do BCE anunciou, de fato, uma redução de sua projeção de crescimento para o ano que vem, a uma média de 1,9%, ante os 2,3% previstos em setembro, em comunicado divulgado ontem.
"É bastante bizarro discutir o aumento dos juros quando a confiança da indústria vem caindo de maneira tão considerável", disse Julian Callow, economista da Barclays Capital, em Londres.
"Para mim, não parece haver argumentos em favor da alta dos juros. De qualquer forma, seria inconsistente gerar preocupação quanto ao câmbio e a seguir dizer que os juros foram discutidos."
O comunicado do BCE quanto à política monetária não continha referência à alta acentuada do euro. Pressionado durante sua entrevista coletiva, Trichet se limitou à sua declaração usual, de que a recente e acentuada movimentação era desagradável e que ele "nunca" comentaria sobre intervenção cambial.
Quanto às perspectivas de crescimento, Trichet disse que "esperamos recuperação gradual das atividades na área do euro dentro dos próximos dois anos, com taxas de crescimento mais moderadas por causa do impacto dos preços do petróleo".
Mas, no geral, continua a haver condição para que o crescimento da economia se mantenha. Embora o ritmo de crescimento mundial esteja em queda, o BCE espera que continue robusto o bastante para dar sustentação ao setor de exportações. Quanto ao aspecto doméstico, as baixas taxas de juros e a reestruturação empresarial devem ajudar, e os gastos privados parecem destinados a uma recuperação.
A equipe de projeções econômicas do banco previu que o PIB (Produto Interno Bruto) se aceleraria gradualmente, atingindo crescimento anual de 2,2% em 2006, e se manteria em faixa de 1,7% a 2,7% ao ano.
A perspectiva quanto à inflação, porém, se agravou. O BCE elevou sua projeção de crescimento do Índice de Preços ao Consumidor à faixa de 1,5% a 2,5%, com média de 2%, para 2005, contra a média de 1,8% na projeção de setembro.

Tradução de Paulo Migliacci


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