São Paulo, quarta-feira, 03 de dezembro de 2008

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Aracruz não chega a acordo com bancos

Analistas acreditam que instituições atenderão a empresa, mas já esperam venda de parte da fabricante de celulose

Para especialistas, Aracruz não tem como pagar dívida e continuar funcionando; quebra geraria demissões em toda a cadeia produtiva


CRISTIANE BARBIERI
DA REPORTAGEM LOCAL

A Aracruz informou, na noite de segunda-feira, que não chegou a acordo com os bancos sobre o pagamento das operações financeiras atreladas ao dólar -os chamados derivativos cambiais. Feitos para proteger as exportações da empresa ante o fortalecimento do real, os derivativos geraram perda de US$ 2,13 bilhões à Aracruz com a alta súbita do dólar.
No dia 3 de novembro, a fabricante de celulose informara que o acordo com os bancos havia sido fechado e as negociações dos valores e dos termos do pagamento aconteceriam até o fim do mês. Agora, a empresa apresentou prazo até 11 deste mês para a conclusão das negociações.
Apesar de a Aracruz não responder a pedidos de informações de analistas e jornalistas, a postergação do acordo já era esperada pelo mercado. "Diante do cenário de estreitamento de liquidez, das somas significativas envolvidas e da falta de visibilidade do cenário de curto prazo, as divergências sobre a reestruturação da dívida são ainda mais representativas", afirma Mônica Araújo, analista da Ativa Corretora. "A notícia é negativa, mas já era esperada."

Expectativa de acordo
Do mesmo modo, os especialistas também esperam que os bancos credores e a fabricante de celulose cheguem a um acordo. "Os bancos têm interesse em receber, e a empresa é grande geradora de caixa, com excelentes margens", diz Felipe Ruppenthal, analista do banco Geração Futuro.
Segundo Peter Ping Ho, analista da corretora Planner, os bancos deverão ceder a exigências da Aracruz. Isso porque, a Aracruz não tem caixa para manter as atividades operacionais e, ao mesmo tempo, quitar a dívida. Além disso, diz Ping Ho, dificilmente os bancos levarão a cobrança à última instância, uma vez que a cadeia produtiva da companhia é grande. "Se a Aracruz parar, gerará outras quebras e muitas demissões em várias áreas."
Assim que o acordo estiver concluído, os analistas esperam que a Aracruz vá buscar alguma forma de capitalização, provavelmente vendendo parte da empresa a investidores.
"Mesmo que o acordo seja concluído, a Aracruz ainda precisará se capitalizar para honrar os compromissos", afirma Ping Ho.
Uma das alternativas da empresa seria a venda de sua participação na Veracel. A sócia Stora Enso já manifestou interesse no negócio, mas a Aracruz não quer abrir mão de uma de suas operações mais rentáveis e com vendas garantidas à Europa. "Seria uma saída, porém dolorosa", diz Ruppenthal.
A fusão com a VCP (Votorantim Celulose e Papel), dizem os especialistas, seria benéfica às duas empresas, uma vez que o grupo Votorantim também teve perdas com derivativos cambiais e enfrenta dificuldades semelhantes, com a retração do mercado consumidor.

Transação suspensa
No entanto, a Arapar, parte vendida à VCP em agosto, parece ter entrado numa espécie de queda-de-braço com a empresa do grupo Votorantim. Na semana passada, seis representantes da Arapar no conselho de administração da Aracruz apresentaram sua renúncia. Para eles, seu afastamento foi realizado pelo fato de a venda ter sido concluída.
A VCP e a própria Aracruz, no entanto, afirmam que a transação foi suspensa devido à nova realidade da empresa. Para eles, novas negociações têm de ser feitas em razão do prejuízo e das atuais perspectivas de mercado. Procurada pela Folha, a Aracruz não respondeu ao pedido de entrevista.


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