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Aracruz não chega a acordo com bancos
Analistas acreditam que instituições atenderão a empresa, mas já esperam venda de parte da fabricante de celulose
Para especialistas, Aracruz
não tem como pagar dívida
e continuar funcionando;
quebra geraria demissões
em toda a cadeia produtiva
CRISTIANE BARBIERI
DA REPORTAGEM LOCAL
A Aracruz informou, na noite
de segunda-feira, que não chegou a acordo com os bancos sobre o pagamento das operações
financeiras atreladas ao dólar
-os chamados derivativos
cambiais. Feitos para proteger
as exportações da empresa ante
o fortalecimento do real, os derivativos geraram perda de US$
2,13 bilhões à Aracruz com a alta súbita do dólar.
No dia 3 de novembro, a fabricante de celulose informara
que o acordo com os bancos havia sido fechado e as negociações dos valores e dos termos
do pagamento aconteceriam
até o fim do mês. Agora, a empresa apresentou prazo até 11
deste mês para a conclusão das
negociações.
Apesar de a Aracruz não responder a pedidos de informações de analistas e jornalistas, a
postergação do acordo já era
esperada pelo mercado. "Diante do cenário de estreitamento
de liquidez, das somas significativas envolvidas e da falta de
visibilidade do cenário de curto
prazo, as divergências sobre a
reestruturação da dívida são
ainda mais representativas",
afirma Mônica Araújo, analista
da Ativa Corretora. "A notícia é
negativa, mas já era esperada."
Expectativa de acordo
Do mesmo modo, os especialistas também esperam que os
bancos credores e a fabricante
de celulose cheguem a um acordo. "Os bancos têm interesse
em receber, e a empresa é grande geradora de caixa, com excelentes margens", diz Felipe
Ruppenthal, analista do banco
Geração Futuro.
Segundo Peter Ping Ho, analista da corretora Planner, os
bancos deverão ceder a exigências da Aracruz. Isso porque, a
Aracruz não tem caixa para
manter as atividades operacionais e, ao mesmo tempo, quitar
a dívida. Além disso, diz Ping
Ho, dificilmente os bancos levarão a cobrança à última instância, uma vez que a cadeia
produtiva da companhia é
grande. "Se a Aracruz parar, gerará outras quebras e muitas
demissões em várias áreas."
Assim que o acordo estiver
concluído, os analistas esperam que a Aracruz vá buscar alguma forma de capitalização,
provavelmente vendendo parte
da empresa a investidores.
"Mesmo que o acordo seja
concluído, a Aracruz ainda precisará se capitalizar para honrar os compromissos", afirma
Ping Ho.
Uma das alternativas da empresa seria a venda de sua participação na Veracel. A sócia Stora Enso já manifestou interesse
no negócio, mas a Aracruz não
quer abrir mão de uma de suas
operações mais rentáveis e com
vendas garantidas à Europa.
"Seria uma saída, porém dolorosa", diz Ruppenthal.
A fusão com a VCP (Votorantim Celulose e Papel), dizem os
especialistas, seria benéfica às
duas empresas, uma vez que o
grupo Votorantim também teve perdas com derivativos cambiais e enfrenta dificuldades semelhantes, com a retração do
mercado consumidor.
Transação suspensa
No entanto, a Arapar, parte
vendida à VCP em agosto, parece ter entrado numa espécie de
queda-de-braço com a empresa
do grupo Votorantim. Na semana passada, seis representantes da Arapar no conselho
de administração da Aracruz
apresentaram sua renúncia.
Para eles, seu afastamento foi
realizado pelo fato de a venda
ter sido concluída.
A VCP e a própria Aracruz,
no entanto, afirmam que a
transação foi suspensa devido à
nova realidade da empresa. Para eles, novas negociações têm
de ser feitas em razão do prejuízo e das atuais perspectivas de
mercado. Procurada pela Folha, a Aracruz não respondeu
ao pedido de entrevista.
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