São Paulo, sábado, 04 de janeiro de 2003

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BC autônomo cria "saia justa" no PT

LUCIO VAZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A resistência de deputados do PT à proposta de autonomia do Banco Central, com mandatos para os seus dirigentes, levou o novo líder do partido na Câmara, Nelson Pellegrino (BA), a marcar um seminário na bancada, com a presença do ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda), para buscar uma posição de consenso.
Na reunião da nova bancada, ontem, vários deputados criticaram a proposta do governo. O próprio líder afirmou ser contra que "a política monetária governe o país" e admitiu que esse é um tema "polêmico" na bancada, mas disse que o partido "vai sustentar" o governo Lula e que haverá uma posição consensual entre a bancada e o governo.
O ex-líder da bancada e candidato a presidente da Câmara, João Paulo Cunha (SP), procurou minimizar a crise, afirmando que a bancada quer primeiro "conhecer exatamente o que é autonomia, o que é independência e quais os limites da lei que diferencie um termo do outro". O governo vai enviar um projeto de lei ao governo, chamado de "Lei de Responsabilidade Monetária", propondo a autonomia do BC.
João Paulo reconhece que ele mesmo precisa de mais informações. "O que é autonomia operacional? Porque se for uma autonomia que não implique definir política econômica do governo, não tem problema nenhum."
Um dos mais críticos à proposta era o deputado Babá (PA), do grupo de esquerda Corrente Socialista dos Trabalhadores. "Não podemos deixar o capital financeiro tomar conta da política econômica. A autonomia do BC leva a isso. O FMI [Fundo Monetário Internacional" passou oito anos sem nem sequer discutir a autonomia do BC. E agora estão exigindo autonomia".
Babá afirmou que não foi convencido pelos argumentos de Palocci. "Ele disse que seria uma sinalização positiva para o mercado. Uma sinalização aos investidores de que eles receberão o seu dinheiro, o que traria novos investimentos."
O deputado disse que vai manter a sua posição em plenário. Lindberg Farias (RJ), ex-integrante do PSTU, afirmou que a autonomia representa "abrir mão da condução da política econômica". "A discussão não será fácil na bancada. Há um sentimento majoritário para rejeitar o mandato fixo para os dirigentes."
Presente à reunião, o senador Eduardo Suplicy (SP) ficou indeciso sobre a autonomia do BC. "No estágio atual, tenho dúvidas."
A deputada eleita Maninha (DF) afirmou que o problema está no conceito de autonomia. "A política econômica quem determina é o ministro da Fazenda. O BC não pode formular política".



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