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Proposta de Palocci baseia-se em trabalho feito por Armínio
GUSTAVO PATÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A proposta de uma Lei de Responsabilidade Monetária, defendida anteontem pelo ministro
Antonio Palocci Filho (Fazenda)
se baseia -a começar pelo nome- em um trabalho conduzido
pelo ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga e sua diretoria,
mantida nos cargos.
Armínio aproveitou a boa aceitação da Lei de Responsabilidade
Fiscal para batizar um projeto, até
hoje não divulgado, que estabelece algo que sempre gerou resistência entre governistas e oposicionistas: a autonomia operacional do BC, com a concessão de
mandatos fixos para os dirigentes
da instituição.
O modelo imaginado se inspira
no implantado pelo governo trabalhista de Tony Blair no Reino
Unido, segundo o qual o Banco da
Inglaterra tem autonomia limitada ao cumprimento de metas estabelecidas com antecedência pelo governo.
Não se trata, portanto, de uma
independência como a concedida
nos EUA ao Federal Reserve (o
banco central norte-americano).
Metas
O projeto concebido por Armínio e assimilado por Palocci e sua
equipe, em diversas conversas
durante o período de transição de
governo, adapta a autonomia ao
regime de metas de inflação, também adotado no modelo inglês.
Uma vez definida a inflação a
ser perseguida, além de outras
possíveis responsabilidades como
a fiscalização do sistema financeiro, o presidente e os diretores do
BC têm, com os mandatos, liberdade para conduzir as políticas
monetária e cambial que julguem
necessárias para atingir o objetivo
-com a obrigação de prestar informações periódicas sobre a evolução da conjuntura econômica e
os motivos das decisões tomadas.
A duração e a coincidência dos
mandatos são questões que serão
definidas no texto a ser enviado
ao Congresso. O mais lógico é que
sejam de quatro anos e não coincidentes entre si, permitindo com
que parte da equipe seja mantida
em um governo posterior.
Resistências
Embora encampadas por Palocci e pelo presidente do BC, Henrique Meirelles, tais idéias tendem a
encontrar resistências mesmo
nos setores mais moderados do
PT. Até a campanha eleitoral, a
autonomia do BC era vista no
partido como uma tentativa de
perpetuar a política ortodoxa de
Armínio no governo Luiz Inácio
Lula da Silva.
Outro ponto de atrito é o princípio básico do regime de metas de
inflação, segundo o qual a missão
básica do BC é assegurar a estabilidade de preços -no passado recente, o PT professou a tese de
que a política de juros deveria se
preocupar também em promover
o crescimento econômico.
Numa reunião anteontem com
a bancada petista na Câmara, Palocci usou o pragmatismo como
argumento para tentar convencer
os deputados mais renitentes: o
sacrifício de posições ideológicas,
disse, será compensado pela boa
receptividade da medida nos
mercados doméstico e externo.
Burocracia
Para levar o projeto adiante, será necessário alterar o artigo 192
da Constituição, sobre o sistema
financeiro, de forma a permitir
que ele possa ser regulamentado
por diversas leis em separado
-da forma como está redigido, o
artigo, que contém pontos polêmicos como o limite de 12% para
os juros anuais, tem de ser regulamentado por uma única lei.
A modificação necessária já foi
aprovada pelo Senado. Faltam,
porém, os três quintos dos votos
da Câmara, ou seja, 308 dos 513
deputados. Só aí o projeto da Lei
de Responsabilidade Monetária
poderá ser enviado ao Congresso.
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