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DESENVOLVIMENTO
Forma de atuação do BNDES motiva discórdia durante encontro promovido pelo presidente em SP
Lessa e Furlan divergem na frente de Lula
GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.
O ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, e o provável presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social), Carlos Lessa, têm visões divergentes sobre a
forma de atuação do BNDES.
A divergência ficou clara durante encontro entre os dois realizado em São Paulo a portas fechadas, no dia 20 de dezembro, com a
presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O senador eleito
Aloizio Mercadante (PT-SP) também participou do encontro.
De acordo com o que a Folha
apurou, houve momentos de tensão entre Furlan e Lessa durante a
reunião. O encontro foi promovido pelo presidente Lula para que
os dois pudessem se conhecer e
chegar a um entendimento, já que
Lessa foi convidado pelo próprio
Lula para assumir a presidência
do BNDES, apesar de o banco ser
subordinado ao Ministério de Desenvolvimento.
O ponto central da divergência
foi o fato de Furlan achar que o
banco deveria sofrer pouca mudanças na sua forma de atuação.
Carlos Lessa deixou bem claro
que, ao assumir a presidência do
BNDES, iria mudar bastante a
forma de atuação do banco.
De acordo com o que a Folha
apurou, Lessa defende o conceito
de um BNDES mais próximo à
forma de atuação do BID (Banco
Interamericano de Desenvolvimento), mais pró-ativo em políticas orientadas tanto para o crescimento do país como para a área
social.
O modelo defendido por Lessa
foi bastante alterado há pouco
mais de um ano, na reforma feita
pelo ex-presidente do BNDES
Francisco Gros. A reforma promovida por Gros fez com que o
banco passasse a agir de forma
muito parecida aos grandes bancos de investimento internacionais, como Goldman Sachs e
Morgan Stanley. O banco passou
a dar prioridade ao atendimento
ao cliente e não mais ao projeto.
Ao dar prioridade aos clientes, a
reforma do BNDES fez com que o
banco desmontasse boa parte das
equipes técnicas da instituição especializadas no estudo e na elaboração de projetos e de uma política industrial para o país.
Lessa considerou "desastrosa"
essa reforma, apesar de a instituição ter ficado com cara de banco
de Primeiro Mundo.
Outra idéia defendida por Furlan foi a de estudar uma eventual
divisão do BNDES em duas áreas.
Numa área o BNDES concentraria suas funções de banco de fomento. Na outra, o banco funcionaria como um Eximbank, voltado para a exportação.
A idéia era de deixar o banco de
fomento para Lessa e o BNDES/Eximbank para ser administrado
por alguém indicado por Furlan.
Lessa bombardeou a proposta.
Apesar da divergência dos dois,
a tese defendida por Lessa sobre o
BNDES se aproxima muito mais
do que pensa a cúpula do PT. Os
dirigentes do PT também acham
que o BNDES deve voltar a se
preocupar mais com política industrial e menos com o risco das
operações de empréstimos.
Procurados ontem, Furlan e
Lessa não responderam aos telefonemas. Em entrevista concedida à Folha no dia 26 de dezembro,
Furlan fez o seguinte comentário
sobre a reunião com Lessa: "Eu
acredito que nos conhecemos
melhor, e estruturamos um "modus operandi" que vai funcionar
bastante bem".
Considerado um experiente negociador e um conciliador por excelência, Furlan deverá mesmo
procurar estabelecer uma forma
de convívio com o estilo muitas
vezes intempestivo de Lessa na
defesa de seus pontos-de-vista.
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