São Paulo, sábado, 04 de janeiro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

DESENVOLVIMENTO

Forma de atuação do BNDES motiva discórdia durante encontro promovido pelo presidente em SP

Lessa e Furlan divergem na frente de Lula

GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.

O ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, e o provável presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), Carlos Lessa, têm visões divergentes sobre a forma de atuação do BNDES.
A divergência ficou clara durante encontro entre os dois realizado em São Paulo a portas fechadas, no dia 20 de dezembro, com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O senador eleito Aloizio Mercadante (PT-SP) também participou do encontro.
De acordo com o que a Folha apurou, houve momentos de tensão entre Furlan e Lessa durante a reunião. O encontro foi promovido pelo presidente Lula para que os dois pudessem se conhecer e chegar a um entendimento, já que Lessa foi convidado pelo próprio Lula para assumir a presidência do BNDES, apesar de o banco ser subordinado ao Ministério de Desenvolvimento.
O ponto central da divergência foi o fato de Furlan achar que o banco deveria sofrer pouca mudanças na sua forma de atuação. Carlos Lessa deixou bem claro que, ao assumir a presidência do BNDES, iria mudar bastante a forma de atuação do banco.
De acordo com o que a Folha apurou, Lessa defende o conceito de um BNDES mais próximo à forma de atuação do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), mais pró-ativo em políticas orientadas tanto para o crescimento do país como para a área social.
O modelo defendido por Lessa foi bastante alterado há pouco mais de um ano, na reforma feita pelo ex-presidente do BNDES Francisco Gros. A reforma promovida por Gros fez com que o banco passasse a agir de forma muito parecida aos grandes bancos de investimento internacionais, como Goldman Sachs e Morgan Stanley. O banco passou a dar prioridade ao atendimento ao cliente e não mais ao projeto.
Ao dar prioridade aos clientes, a reforma do BNDES fez com que o banco desmontasse boa parte das equipes técnicas da instituição especializadas no estudo e na elaboração de projetos e de uma política industrial para o país.
Lessa considerou "desastrosa" essa reforma, apesar de a instituição ter ficado com cara de banco de Primeiro Mundo.
Outra idéia defendida por Furlan foi a de estudar uma eventual divisão do BNDES em duas áreas. Numa área o BNDES concentraria suas funções de banco de fomento. Na outra, o banco funcionaria como um Eximbank, voltado para a exportação.
A idéia era de deixar o banco de fomento para Lessa e o BNDES/Eximbank para ser administrado por alguém indicado por Furlan. Lessa bombardeou a proposta.
Apesar da divergência dos dois, a tese defendida por Lessa sobre o BNDES se aproxima muito mais do que pensa a cúpula do PT. Os dirigentes do PT também acham que o BNDES deve voltar a se preocupar mais com política industrial e menos com o risco das operações de empréstimos.
Procurados ontem, Furlan e Lessa não responderam aos telefonemas. Em entrevista concedida à Folha no dia 26 de dezembro, Furlan fez o seguinte comentário sobre a reunião com Lessa: "Eu acredito que nos conhecemos melhor, e estruturamos um "modus operandi" que vai funcionar bastante bem".
Considerado um experiente negociador e um conciliador por excelência, Furlan deverá mesmo procurar estabelecer uma forma de convívio com o estilo muitas vezes intempestivo de Lessa na defesa de seus pontos-de-vista.


Texto Anterior: Comércio: Famílias esperam na chuva por liquidação com desconto de 70%
Próximo Texto: Isto é Lessa
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.