São Paulo, domingo, 04 de fevereiro de 2001

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ENTENDA

Incerteza nos EUA pode elevar déficit nas contas

DA REPORTAGEM LOCAL

As incertezas que cercam a economia norte-americana podem contribuir para aumentar o rombo nas contas externas brasileiras. Uma recessão na maior economia no mundo significaria menos dólares destinados ao Brasil e menor procura por produtos do país no mercado internacional. Com sinais mais claros de que os EUA podem estar à beira da recessão, investidores estão mais cautelosos e temem que a conjuntura econômica arranhe os resultados das empresas.
O resultado dessa desconfiança pode ser uma fuga do mercado de ações e queda nos índices das Bolsas. Se esse for o caso, a tendência é que, para cobrir perdas nos mercados acionários, os investidores vendam papéis de governos e empresas de países emergentes.
Em épocas de grande incerteza, ocorre também o que os analistas chamam de fuga para a qualidade: fundos e bancos preferem investir em papéis com riscos menores, evitando, mais uma vez, papéis de países emergentes. Em ambos os casos, o resultado seria menos dólares para o Brasil.
A queda das exportações também pode ser significativa. O JP Morgan, por exemplo, calcula que os EUA deixarão de comprar US$ 1 bilhão do Brasil em 2001. Esse seria apenas o efeito direto da retração da economia dos EUA na balança comercial brasileira.
Muitos outros países também venderão menos para a maior economia mundial. Ou seja, terão menos dinheiro em caixa para importar do Brasil. Um bom exemplo são os tigres asiáticos, economias muitos abertas, com grande dependência das relações comerciais com os norte-americanos.
Em bloco, não respondem por mais do que 15% das exportações brasileiras. Mas são consumidores que importarão menos produtos brasileiros.
O fortalecimento do euro, moeda da União Européia, alimentou as esperanças de alguns exportadores: com moeda mais forte, os europeus importariam mais. Os europeus são responsáveis por cerca de 60% de nossas vendas externas.
No entanto a contribuição das compras européias não deve ser impressionante. A maioria dos economistas prevê crescimento de 2,5% para este ano, ante 3,4% no ano passado.
Os preços das commodities, cuja reação poderia amenizar o rombo das contas externas, não devem sofrer grandes alterações este ano. Elas correspondem à parte significativa dos produtos exportados pelo Brasil e seu preço caiu muito no mercado internacional.
Com crescimento mundial modesto, é improvável que haja uma recuperação desses preços: como a procura pelos produtos não deve subir muito ou mesmo pode diminuir, a tendência esperada pelos analistas é de estabilidade de preços.
Mesmo a economia que o país faria com a redução dos preços do petróleo, avaliada pelo JP Morgan em US$ 1 bilhão, se perderia com a diminuição de vendas para os EUA, segundo a avaliação do banco.


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