São Paulo, domingo, 04 de fevereiro de 2001

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TRABALHO

Cresce a qualificação dos ocupados, informa IBGE

Oferta de empregos aumenta em 2000, mas sem reflexo no bolso

FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

Está mais fácil encontrar uma vaga no mercado de trabalho. Mas achar um bom salário é outra conversa. A recuperação da economia resultou num aumento da oferta de vagas em vários setores, só que sem reflexos no bolso.
Levantamento do Ministério do Trabalho mostra que, de junho a novembro de 2000, quem conseguiu emprego, com carteira assinada, tinha o seguinte perfil: até 39 anos, segundo grau completo e aceitou ganhar até três salários mínimos por mês (R$ 453).
Esse salário é quase metade do rendimento médio mensal dos ocupados na região metropolitana de São Paulo, de R$ 874 no ano passado, segundo o Dieese.
Das pessoas que foram contratadas de junho a novembro -4.967.793-, 30% tinham pelo menos o segundo grau completo, segundo o Ministério do Trabalho. E, de cada quatro pessoas, uma aceitou ganhar de 1,01 (R$ 151) a 1,5 salário mínimo (R$ 226,5). Vale lembrar que foram demitidas 4.531.636 pessoas no mesmo período. Os novos empregos gerados somam 436.157.
"O salário é baixo, mas a tendência é de recuperação na medida em que cai a taxa desemprego", afirma Carlos Alberto Ramos, professor da Universidade de Brasília e consultor do Ministério do Trabalho.
O IBGE informa que o aumento da escolaridade no grupo das pessoas ocupadas está crescendo na indústria, na construção civil, no comércio e nos serviços.
Em seis regiões metropolitanas (Recife, Salvador, Belo Horizonte, São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre), a participação de trabalhadores com segundo grau completo sobre a população ocupada subiu de 22,7% em 99 para 24,3% em 2000. Esse percentual foi 15,5% em 90 e 17,7% em 94 (início do Plano Real).
Os setores da indústria que estão gerando os novos empregos são principalmente transportes, metal-mecânico, vestuário, mobiliário, extrativo mineral e alimentos. Nos serviços, são telecomunicações, oficinas mecânicas e empresas de reformas de imóveis. No comércio, hipermercados, supermercados e lojas de roupas.
A Central de Renda e Emprego, espécie de agência de emprego ligada à CUT (Central Única dos Trabalhadores), com sede em Santo André (SP), registrou no ano passado 11 mil vagas -64% foram oferecidas a partir de junho. Praticamente a metade delas não foi preenchida.
"Não está muito fácil encontrar mão-de-obra para as empresas, pois elas estão cada vez mais exigentes, mas não oferecem bons salários", afirma Valtenice de Araújo, diretor-executivo da Central de Renda e Emprego.
A agência de emprego da CUT tem cerca de 105 mil pessoas cadastradas, das mais variadas idades e níveis de qualificação.
"Mas eles querem os jovens, segundo grau completo, seis meses de experiência e não oferecem benefícios."
Alguns exemplos: a maioria das empresas, especialmente da região do ABC, procura engenheiros que falem mais de uma língua e pagam R$ 750 por mês.
A secretária tem de ser bilíngue. Salário: de R$ 800 a R$ 2.000 por mês. O torneiro mecânico precisa ter segundo grau completo e experiência mínima de um ano. Salário: de R$ 800 a R$ 1.600.
Araújo afirma que os trabalhadores estão sentindo o impacto da abertura abrupta da economia brasileiras.
"As empresas tiveram de se modernizar muito rapidamente, só que o trabalhador não se qualificou na mesma velocidade."
As vagas mais difíceis de serem preenchidas são as que exigem qualificação técnica, como engenheiros, técnicos em informática e instalador de fibra ótica. Quem sente muito isso são as empresas de telecomunicações.


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