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Seattle causa "fuga para o deserto"
DO ENVIADO ESPECIAL A GENEBRA
O estado de sítio a que as ONGs
(Organizações Não-Governamentais) submeteram Seattle
provocou o que o sindicalista Philip Jennings chama de "fuga para
o deserto".
É uma alusão ao fato de que a 4ª
Conferência Ministerial da OMC
foi marcada para o remoto Qatar,
país que limita severamente o direito de manifestação e reunião.
"Podem se esconder no deserto,
mas não podem fugir à necessidade de reformar a OMC", dispara
Jennings, secretário-geral da Uni
(Union Network International),
uma central sindical de 15 milhões de membros em 146 países,
que representa essencialmente
trabalhadores dos serviços e da
chamada nova economia.
Na verdade, a OMC não tomou
deliberadamente a decisão de "fugir para o deserto". Mas seus países-membros, diante do que
aconteceu em Seattle, acabaram
se retraindo e nenhum deles se
ofereceu para hospedar a 4ª Conferência Ministerial, órgão que
obrigatoriamente deve se reunir a
cada dois anos.
Só o Qatar se apresentou.
Como o Qatar exige visto de entrada para os cidadãos da maioria
dos países, é razoável supor que
imporá dificuldades para o ingresso de manifestantes, até inviabilizar protestos como os que têm
caracterizado todo evento importante desde Seattle.
Mas será apenas a "fuga para o
deserto" que atrapalhará os protestos, porque até um diplomata
hábil como o brasileiro Celso
Amorim admite que, "se há uma
área (da OMC) em que houve
pouca evolução, foi na de transparência externa". É o jargão para
designar as relações entre a OMC
e a sociedade civil.
A agenda de parte da sociedade
civil, em relação à OMC, é a introdução das cláusulas social e ambiental nos acordos comerciais.
Traduzindo: países que usem,
por exemplo, crianças para produzir um dado bem seriam punidos nas suas exportações (cláusula social). Ou seriam punidos por
devastar o meio ambiente para,
por exemplo, produzir móveis de
madeira (cláusula ambiental).
Os EUA, no governo Clinton,
funcionaram, nesses campos, como advogados das ONGs. O governo Bush, no entanto, é visto
como "menos militante" que seu
antecessor, como diz Amorim.
Portanto em tese menos inclinado a defender a tese da vinculação entre acordos comerciais e
padrões trabalhistas e ambientais.
O Brasil é contra essa vinculação, mas com certa discrição. Outros (Índia, Egito, Paquistão, por
exemplo) são tão frontalmente
contra que levantar a questão
diante deles é o mais curto caminho para incinerar qualquer negociação comercial.
(CR)
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