São Paulo, domingo, 04 de fevereiro de 2001

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Seattle causa "fuga para o deserto"

DO ENVIADO ESPECIAL A GENEBRA

O estado de sítio a que as ONGs (Organizações Não-Governamentais) submeteram Seattle provocou o que o sindicalista Philip Jennings chama de "fuga para o deserto".
É uma alusão ao fato de que a 4ª Conferência Ministerial da OMC foi marcada para o remoto Qatar, país que limita severamente o direito de manifestação e reunião.
"Podem se esconder no deserto, mas não podem fugir à necessidade de reformar a OMC", dispara Jennings, secretário-geral da Uni (Union Network International), uma central sindical de 15 milhões de membros em 146 países, que representa essencialmente trabalhadores dos serviços e da chamada nova economia.
Na verdade, a OMC não tomou deliberadamente a decisão de "fugir para o deserto". Mas seus países-membros, diante do que aconteceu em Seattle, acabaram se retraindo e nenhum deles se ofereceu para hospedar a 4ª Conferência Ministerial, órgão que obrigatoriamente deve se reunir a cada dois anos.
Só o Qatar se apresentou.
Como o Qatar exige visto de entrada para os cidadãos da maioria dos países, é razoável supor que imporá dificuldades para o ingresso de manifestantes, até inviabilizar protestos como os que têm caracterizado todo evento importante desde Seattle.
Mas será apenas a "fuga para o deserto" que atrapalhará os protestos, porque até um diplomata hábil como o brasileiro Celso Amorim admite que, "se há uma área (da OMC) em que houve pouca evolução, foi na de transparência externa". É o jargão para designar as relações entre a OMC e a sociedade civil.
A agenda de parte da sociedade civil, em relação à OMC, é a introdução das cláusulas social e ambiental nos acordos comerciais.
Traduzindo: países que usem, por exemplo, crianças para produzir um dado bem seriam punidos nas suas exportações (cláusula social). Ou seriam punidos por devastar o meio ambiente para, por exemplo, produzir móveis de madeira (cláusula ambiental).
Os EUA, no governo Clinton, funcionaram, nesses campos, como advogados das ONGs. O governo Bush, no entanto, é visto como "menos militante" que seu antecessor, como diz Amorim.
Portanto em tese menos inclinado a defender a tese da vinculação entre acordos comerciais e padrões trabalhistas e ambientais.
O Brasil é contra essa vinculação, mas com certa discrição. Outros (Índia, Egito, Paquistão, por exemplo) são tão frontalmente contra que levantar a questão diante deles é o mais curto caminho para incinerar qualquer negociação comercial. (CR)


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