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Brasil prefere rodada ampla à Alca
DO ENVIADO ESPECIAL A GENEBRA
Para o Brasil, que estará tanto
na Alca como na eventual "Rodada do Milênio", qual das duas é
mais importante?
A resposta consensual do governo é: "Rodada do Milênio", se
tomada como sinônimo de negociações multilaterais.
Até Armínio Fraga, o presidente
do BC, assumido entusiasta da Alca, diz que, ainda que o bloco
americano venha a se constituir,
"haverá uma perda" se não for
possível avançar no plano global.
Celso Amorim, o embaixador
em Genebra, prefere uma comparação pugilística: "Se eu tiver que
ficar numa sala com o Mike
Tyson, prefiro que haja muita
gente na sala, para haver uma distribuição das pancadas".
Claro que o Tyson da metáfora é
a economia dos EUA e seu insuperável "punch". Ou seja, é melhor para o Brasil negociar com
muitos, para poder praticar o habitual toma lá dá cá desse tipo de
entendimentos, do que ter que
discutir só com os EUA (a rigor, a
Alca é uma negociação entre EUA
e Brasil ou Mercosul).
Tanto na Alca como na "Rodada do Milênio", o governo brasileiro continuará tocando a música da abertura do mercado agrícola de Estados Unidos e Europa.
A diferença é que, no âmbito da
OMC, a negociação agrícola já está em andamento há um ano. Foi
um dos temas que a "Rodada
Uruguai" mandou renegociar a
partir do ano 2000.
O problema é que a renegociação começou no imediato pós-Seattle, com todo o azedume entre os países que sobrou do fiasco.
As conversações revelaram uma
divisão entre três grandes blocos.
O primeiro é comandado pelos
países do grupo de Cairns (os
grandes produtores agrícolas,
Brasil incluído), que não cansam
de cobrar a liberalização do setor.
O segundo bloco é, a rigor, a
União Européia, que insiste em
que a abertura deve ser mais gradual e em pôr ênfase no que chama de "aspectos não-comerciais"
da agricultura (defesa do meio
ambiente, por exemplo).
Por fim, os mais intransigentes,
comandados pelo Japão, com
apoio da Coréia. Não só não querem avançar como até recuar em
relação aos tímidos progressos liberalizantes da Rodada Uruguai.
Onde houve avanço foi no que
Celso Amorim chama de "sintonia fina" das propostas preparadas pelo grupo de Cairns.
Antes, o grupo limitava-se a gritar, por exemplo, pela eliminação
dos subsídios à exportação, considerado o elemento que mais distorce o comércio. Agora, a proposta do grupo é mais específica:
pede uma forte redução inicial, a
ser seguida por um calendário de
outras reduções progressivas, até
a completa eliminação.
Parece mais palatável para os
países europeus, que, reconhecidamente, têm dificuldades políticas internas para aceitar uma eliminação abrupta dos subsídios às
exportações agrícolas.
(CR)
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