São Paulo, domingo, 04 de fevereiro de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Brasil prefere rodada ampla à Alca

DO ENVIADO ESPECIAL A GENEBRA

Para o Brasil, que estará tanto na Alca como na eventual "Rodada do Milênio", qual das duas é mais importante?
A resposta consensual do governo é: "Rodada do Milênio", se tomada como sinônimo de negociações multilaterais.
Até Armínio Fraga, o presidente do BC, assumido entusiasta da Alca, diz que, ainda que o bloco americano venha a se constituir, "haverá uma perda" se não for possível avançar no plano global.
Celso Amorim, o embaixador em Genebra, prefere uma comparação pugilística: "Se eu tiver que ficar numa sala com o Mike Tyson, prefiro que haja muita gente na sala, para haver uma distribuição das pancadas".
Claro que o Tyson da metáfora é a economia dos EUA e seu insuperável "punch". Ou seja, é melhor para o Brasil negociar com muitos, para poder praticar o habitual toma lá dá cá desse tipo de entendimentos, do que ter que discutir só com os EUA (a rigor, a Alca é uma negociação entre EUA e Brasil ou Mercosul).
Tanto na Alca como na "Rodada do Milênio", o governo brasileiro continuará tocando a música da abertura do mercado agrícola de Estados Unidos e Europa.
A diferença é que, no âmbito da OMC, a negociação agrícola já está em andamento há um ano. Foi um dos temas que a "Rodada Uruguai" mandou renegociar a partir do ano 2000.
O problema é que a renegociação começou no imediato pós-Seattle, com todo o azedume entre os países que sobrou do fiasco.
As conversações revelaram uma divisão entre três grandes blocos.
O primeiro é comandado pelos países do grupo de Cairns (os grandes produtores agrícolas, Brasil incluído), que não cansam de cobrar a liberalização do setor.
O segundo bloco é, a rigor, a União Européia, que insiste em que a abertura deve ser mais gradual e em pôr ênfase no que chama de "aspectos não-comerciais" da agricultura (defesa do meio ambiente, por exemplo).
Por fim, os mais intransigentes, comandados pelo Japão, com apoio da Coréia. Não só não querem avançar como até recuar em relação aos tímidos progressos liberalizantes da Rodada Uruguai.
Onde houve avanço foi no que Celso Amorim chama de "sintonia fina" das propostas preparadas pelo grupo de Cairns.
Antes, o grupo limitava-se a gritar, por exemplo, pela eliminação dos subsídios à exportação, considerado o elemento que mais distorce o comércio. Agora, a proposta do grupo é mais específica: pede uma forte redução inicial, a ser seguida por um calendário de outras reduções progressivas, até a completa eliminação.
Parece mais palatável para os países europeus, que, reconhecidamente, têm dificuldades políticas internas para aceitar uma eliminação abrupta dos subsídios às exportações agrícolas. (CR)





Texto Anterior: Globalização: OMC volta a negociar "Rodada do Milênio"
Próximo Texto: Seattle causa "fuga para o deserto"
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.