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LUÍS NASSIF
Os acadêmicos e o governo Lula
Uma das grandes forças do
PT -que está na origem
da sua fundação- são as corporações acadêmicas. São grupos basicamente corporativistas e ideológicos, em nada se
diferindo dos acadêmicos
"neoliberais", que comprometeram a política econômica do
governo Fernando Henrique
Cardoso e eram seus alvos preferenciais.
São faces da mesma moeda.
Seu método de interpretação
da realidade não se baseia na
análise dos fatos e na busca do
bom senso. O processo de conhecimento é invertido. Primeiro definem-se os princípios
ideológicos, depois adaptam-se
os fatos a eles. E, em qualquer
circunstância, querem "refundar" tudo -do que está errado
ao que deu certo.
Os "puquianos" de Fernando
Henrique caíram de cabeça na
história de que o fluxo de capitais seria contínuo e eterno e
que a estratégia correta seria liquidar com os superávits comerciais, e não colocar barreiras ao livro fluxo de capitais. O
bom senso indicava que essa
política seria suicida. Mas a
academia só aceita as verdades, mesmo quando baseada
na mais objetiva forma de conhecimento -o bom senso- ,
depois de encapsuladas em teses acadêmicas. Agora os centros de pensamento econômico
confirmam o que o bom senso
indicava, mas Inês é morta.
Do lado dos intelectuais acadêmico-petistas (para distinguir dos intelectuais mais ligados à prática e ao pensamento
contemporâneo, como Tarso
Genro, José Genoino e o atual
prefeito de Belo Horizonte, Fernando Damata Pimentel), incorre-se no mesmo método. Em
contraposição ao modelo dito
"neoliberal", se propõe um modelo econômico baseado exclusivamente na inclusão social.
Nada contra a inclusão social,
mas como se pode subordinar
inovação, tecnologia, desenvolvimento exclusivamente a esse
tema? A inclusão social deve
ser objetivo, mas também consequência de um projeto de desenvolvimento consistente.
Três áreas estão reféns desse
academicismo e desse "refundamento".
O Fome Zero é a primeira,
com essa teimosia injustificável do acadêmico José Graziano de ignorar alertas até de ícones do seu partido contra essa
tentativa de tutelar a fome.
O segundo é o Inep (Instituto
Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais), com a tentativa do seu presidente, o acadêmico Otaviano Helena, de
extirpar o provão. Alega que o
exame prevê notas de A a E independentemente da qualidade intrínseca dos cursos. E que
existem critérios melhores de
avaliar as escolas. O professor
ignora o que é o "benchmark".
Trata-se de definir, em cada
área, quem tem a melhor prática -independentemente de
ser prática ótima ou não. Essa
comparação é que estimula os
demais a competir com os
"benchmark" e estes a se aprimorar constantemente.
O terceiro é o Ministério de
Ciência e Tecnologia e a intenção manifestada pelo novo ministro de modificar a Sepin (Secretaria de Política de Informática). O álibi é que irá conferir maior abrangência a ele, como se política de informática
não fosse um tema suficientemente abrangente.
É um contraste marcante
com as áreas entregues a gente
do ramo, como a política externa, o comércio exterior e os
bancos oficiais.
E-mail - LNassif@uol.com.br
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