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São Paulo, terça-feira, 04 de fevereiro de 2003

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LUÍS NASSIF

Os acadêmicos e o governo Lula

Uma das grandes forças do PT -que está na origem da sua fundação- são as corporações acadêmicas. São grupos basicamente corporativistas e ideológicos, em nada se diferindo dos acadêmicos "neoliberais", que comprometeram a política econômica do governo Fernando Henrique Cardoso e eram seus alvos preferenciais.
São faces da mesma moeda. Seu método de interpretação da realidade não se baseia na análise dos fatos e na busca do bom senso. O processo de conhecimento é invertido. Primeiro definem-se os princípios ideológicos, depois adaptam-se os fatos a eles. E, em qualquer circunstância, querem "refundar" tudo -do que está errado ao que deu certo.
Os "puquianos" de Fernando Henrique caíram de cabeça na história de que o fluxo de capitais seria contínuo e eterno e que a estratégia correta seria liquidar com os superávits comerciais, e não colocar barreiras ao livro fluxo de capitais. O bom senso indicava que essa política seria suicida. Mas a academia só aceita as verdades, mesmo quando baseada na mais objetiva forma de conhecimento -o bom senso- , depois de encapsuladas em teses acadêmicas. Agora os centros de pensamento econômico confirmam o que o bom senso indicava, mas Inês é morta.
Do lado dos intelectuais acadêmico-petistas (para distinguir dos intelectuais mais ligados à prática e ao pensamento contemporâneo, como Tarso Genro, José Genoino e o atual prefeito de Belo Horizonte, Fernando Damata Pimentel), incorre-se no mesmo método. Em contraposição ao modelo dito "neoliberal", se propõe um modelo econômico baseado exclusivamente na inclusão social. Nada contra a inclusão social, mas como se pode subordinar inovação, tecnologia, desenvolvimento exclusivamente a esse tema? A inclusão social deve ser objetivo, mas também consequência de um projeto de desenvolvimento consistente.
Três áreas estão reféns desse academicismo e desse "refundamento".
O Fome Zero é a primeira, com essa teimosia injustificável do acadêmico José Graziano de ignorar alertas até de ícones do seu partido contra essa tentativa de tutelar a fome.
O segundo é o Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais), com a tentativa do seu presidente, o acadêmico Otaviano Helena, de extirpar o provão. Alega que o exame prevê notas de A a E independentemente da qualidade intrínseca dos cursos. E que existem critérios melhores de avaliar as escolas. O professor ignora o que é o "benchmark". Trata-se de definir, em cada área, quem tem a melhor prática -independentemente de ser prática ótima ou não. Essa comparação é que estimula os demais a competir com os "benchmark" e estes a se aprimorar constantemente.
O terceiro é o Ministério de Ciência e Tecnologia e a intenção manifestada pelo novo ministro de modificar a Sepin (Secretaria de Política de Informática). O álibi é que irá conferir maior abrangência a ele, como se política de informática não fosse um tema suficientemente abrangente.
É um contraste marcante com as áreas entregues a gente do ramo, como a política externa, o comércio exterior e os bancos oficiais.

E-mail - LNassif@uol.com.br


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