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CONSELHO
Para diretor do Fundo, reforma ajudaria a combater a pobreza no país
Governo deve desvincular receitas e despesas, diz FMI
MARCIO AITH
DE WASHINGTON
Para o FMI (Fundo Monetário
Internacional), o Brasil será obrigado a desvincular despesas e receitas orçamentárias se quiser encontrar novos recursos para combater a pobreza de forma mais eficaz. O recado foi dado pelo diretor para o Hemisfério Ocidental
do Fundo, Anoop Singh, segundo
o qual o país deve repensar seu
sistema orçamentário e tributário
para que os gastos sociais não
comprometam o equilíbrio macroeconômico nem exijam elevação de receitas.
Em entrevista a uma publicação
interna do FMI, Singh disse que o
desafio atual dos países da América Latina é combater a desigualdade social, mantendo, ao mesmo
tempo, a estabilidade macroeconômica. "Muitos países têm rigidez de despesas e receitas orçamentárias que, se destravadas,
permitiriam uma maior eficácia
dos gastos sociais", disse ele. "Vamos pegar o Brasil [como exemplo", cuja arrecadação tributária
ultrapassa 30% do PIB. Apesar
disso, uma grande proporção das
receitas é vinculada para certos
usos, deixando pouco espaço para gastos discricionários [aqueles
sobre os quais o governo tem liberdade de decidir"."
Segundo Singh, o desafio de
conciliar programas sociais com
equilíbrio macroeconômico é difícil, mas possível. "Tem que ser
feito. Não é possível ter sustentabilidade econômica sem sustentabilidade social... Tenho consciência de que vai exigir um consenso
muito forte em muitos países para
vencer direitos adquiridos e tomar as medidas necessárias à
construção da sustentabilidade
fiscal e ao crescimento."
A mensagem de Singh não contradiz a orientação da política
econômica do governo Lula. O
ministro Antonio Palocci (Fazenda) criticou a "vinculação excessiva de rubricas" em seu discurso
de posse, propondo maior liberdade à execução do orçamento.
No entanto, ao enfatizar a necessidade de reformas, Singh não
só eleva a expectativa de elas sejam aprovadas como também sinaliza que o FMI não vai relaxar
sua exigência de equilíbrio macroeconômico caso Lula não as
obtenha.
"Receitas vinculadas" estabelecem ligação obrigatória entre fontes e gastos. Elas haviam sido
completamente eliminadas em
1984 e foram restabelecidas pela
Constituição de 1988. Desde então, formou-se um consenso de
que elas engessam a ação do Estado e financiam gastos desnecessários.
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