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PRODUÇÃO
Setores responsáveis por fatias maiores do PIB têm alta discreta ou até retração de uso da capacidade instalada
"Pesos-penas" da indústria crescem mais
ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
As indústrias com mais pedidos
em carteira e, portanto, que trabalham com as máquinas a todo o
vapor têm peso insignificante para a economia brasileira. Nessa
lista estão setores como perfumaria e velas, couros e peles, que fecharam o mês de janeiro com os
índices mais baixos de ociosidade
na indústria no país.
Setores pesos pesados, como
metalurgia, mecânica e petroquímica -que respondem por até
3% do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro-, registram desempenhos bem mais tímidos.
Se esses resultados se mantiverem nesse patamar, aumenta o
risco de revisão das previsões de
PIB -composta por vários fatores como produção industrial, salários e exportação- elaboradas
pelos bancos, segundo economistas afirmam.
Velas e perfumes
A conclusão a respeito do desempenho dos setores faz parte de
um levantamento da Folha feito
com base em duas pesquisas.
A primeira saiu na última semana e foi elaborada pela FGV (Fundação Getúlio Vargas) -a respeito do desempenho industrial em
janeiro. Ela foi cruzada com informações do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística),
que reúne dados sobre o peso dos
setores na geração de riquezas do
país em 2000 -último ano com
dados atualizados.
No ranking de segmentos com
atividade industrial em alta estão,
por exemplo, o setor de perfumaria, sabões, detergentes e velas,
que responde por menos de 0,2%
do PIB. Sua taxa de uso da capacidade instalada pulou de 59,9% em
janeiro de 2002 para 72,2% em janeiro de 2003.
Em outra área, de couro e peles,
que contribui com 0,24% das riquezas no Brasil, houve expansão
no uso da capacidade de produção de 4,2 pontos -de 75,6% para 79,8% no período.
Indústrias altamente exportadoras e empregadoras -e que
são vistas pelo mercado como
uma espécie de termômetro da
economia-, como as de papel e
papelão, estão operando com elevação na atividade bem mais discreta. As companhias desse setor,
por exemplo, passaram de uma
taxa de 93,4% para 94,3%.
No setor químico e petroquímico, que contribuiu com 3,2% da
riqueza gerada no país, a alta também não fugiu muito disso -a
elevação atingiu 1,4 ponto na taxa
de uso da capacidade do setor.
"Parte desse aumento tímido é
resultado da incapacidade de expandir mais. Quando se atinge taxas superiores a 90%, fica difícil
subir muito além disso", diz Roberto Faldini, diretor da Fiesp
(Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).
Outra razão para isso é a falta de
pedidos de clientes, que ocorre
devido à lentidão maior na retomada da economia neste início de
ano, em alguns segmentos.
Essa lentidão é resultado de um
cenário econômico nada favorável. Renda em retração, desemprego elevado e dúvidas em relação à demanda no exterior forçam uma puxada no freio agora.
Há setores em situação delicada. Pelo levantamento da FGV, fabricantes da área de material elétrico e de comunicações tiveram
forte queda nas operações. Responsáveis por quase 1% do PIB do
país, registraram queda no uso da
capacidade de produção de 70,2%
em janeiro de 2002 para 63,8% no
mês passado.
O aumento nas encomendas
tende a elevar o ritmo de produção, algo que não está ocorrendo
também com a indústria de bens
de capital, um dos setores altamente geradores de divisas para o
país. A ociosidade do setor, que
estava em 24,4% em janeiro de
2002, até chegou a cair para 22,7%
neste início de ano, mas o fato não
é visto como uma retomada.
O aumento é decorrência da
forte redução nos estoques das
empresas durante 2002 -estratégia adotada para evitar acúmulo
desnecessário. Com menos mercadorias nas fábricas, foi necessário elevar um pouco a capacidade
de produção neste ano.
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