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ALTO-MAR
Exploração predatória e quantidade limitada de cardumes de alto valor comercial ameaçam atividade no Brasil
Pesca oceânica está no limite, diz estudo
CÍNTIA CARDOSO
DA REPORTAGEM LOCAL
A possibilidade de aumento da
produção de pescado oceânico
(de profundidade e em alto-mar)
na costa brasileira é mínima.
A exploração predatória dos recursos marítimos da ZEE (Zona
Econômica Exclusiva), aliada à
pouca quantidade de cardumes
de peixe de alto valor comercial
nas águas brasileiras, é a principal
ameaça à pesca oceânica.
As afirmações partem de dados
do Revizee (Programa de Avaliação do Potencial Sustentável de
Recursos Vivos na Zona Econômica Exclusiva).
Apesar de os dados do projeto
ainda serem preliminares, o mapeamento da ZEE brasileira até o
momento revela que o potencial
da pesca nessa região está aquém
do esperado. Prova disso é que espécies que foram recentemente
descobertas para a exploração comercial já estão em declínio.
Um exemplo é o peixe-sapo
(Lophius gastrophysus). Por ser
considerado uma iguaria em restaurantes europeus, a exploração
da espécie tornou-se a vedete do
setor pesqueiro. Em 2001, somando-se os desempenhos das costas
Sul e Central, foram desembarcadas 8.800 toneladas. Em 2002, porém, a produção declinou 50%.
Um dos principais motivos é o
ciclo de vida longo do peixe, que
leva cerca de 20 anos para atingir
o peso ideal para o comércio.
"Com um esforço de pesca muito
concentrado nessa espécie, a tendência é a queda da produção de
ano a ano", diz Alessandro Athiê,
pesquisador do Instituto Oceanográfico da USP.
O caranguejo-de-profundidade
também sofre a mesma ameaça. A
espécie, que pode pesar até 1,5 kg,
também é apreciada pelo mercado internacional. Dados do Instituto Oceanográfico da USP revelam que em 1999 -primeiro ano
da exploração com a utilização de
apenas um barco- capturaram-se 468 toneladas. No ano seguinte,
o volume capturado saltou para
1.770 toneladas. Em 2001, o número de embarcações triplicou.
No ano seguinte, porém, a produção caiu pela metade na costa do
extremo sul do Brasil.
A situação de superexploração
não é diferente em outros pontos
do litoral. Na Costa Central -do
Cabo de São Tomé a Salvador-,
o levantamento do Revizee indica
que espécies típicas de costões e
alto-mar, como a cioba, já estão
plenamente exploradas. Atualmente, são pescadas 4.000 toneladas da espécie, mas a tendência é a
de queda, na avaliação do professor Paulo Costa, da UNI-Rio.
Para o secretário especial da
Pesca, José Fritsch, porém, a pesca
na ZEE e nos mares livres ainda
são fonte de recursos para o Brasil, principalmente a captura de
atuns (não estudados pelo Revizee). "O que falta é uma estrutura
e uma coordenação mais modernas", diz. Fritsch também afirma
que a secretaria está aberta a escutar todos os setores envolvidos
com a pesca no Brasil.
Costa extensa e limitada
Possuir uma costa de cerca de
8.000 km não significa produção
excepcional de pescado.
Esse afirmação é endossada por
Carmen-Rossi Wogtsschowski,
do Instituto Oceanográfico da
USP. "Nas regiões que vão dos 100
m aos 600 m de profundidade, temos mais de 180 espécies e algumas de valor econômico elevado.
Mas a quantidade é pequena."
Essa limitação é característica
do litoral brasileiro. Na costa do
mar do Norte, por exemplo, a situação é inversa -há pouca diversidade, mas os cardumes de
espécies de alto valor comercial,
como o arenque, são abundantes.
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