São Paulo, quarta-feira, 04 de fevereiro de 2004

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Negociação tende a chegar ao "empate"

DO ENVIADO ESPECIAL A PUEBLA

A melhor definição do que está acontecendo até agora em Puebla, nas negociações da Alca, é de Marcos Sawaya Jank, especialista em negociações agrícolas e que assessora o governo brasileiro:
"Está claro que o Brasil não perde, mas não está claro o que o Brasil ganha, se é que ganha".
Traduzindo: o Brasil não perde porque conseguiu bloquear uma Alca abrangente, que chegou a ser definida como "anexação" da América Latina pelos EUA pelo então candidato Luiz Inácio Lula da Silva, antes de se converter à extrema moderação.
Mas não se sabe o que ganha, porque não está claro se haverá ou não acesso pelo menos razoável aos mercados dos outros 33 sócios, em especial, como é óbvio, dos Estados Unidos e do Canadá, os únicos países ricos da Alca.
Parece um empate, então. "Empate significa perder. O Brasil precisa ganhar para se desenvolver. No empate, perdemos o campeonato do desenvolvimento, para usar uma metáfora tão do gosto atual", ataca Pedro de Camargo Netto, empresário de muita experiência em negociações.
Já o embaixador Adhemar Bahadian, co-presidente das negociações, em nome do Brasil prefere usar outra metáfora, mais abusada, para tentar demonstrar que a sedução da Alca pode ser uma miragem. "A Alca parece uma odalisca de cabaré barato. À luz difusa da noite, é uma deusa. Mas, quando amanhece, não é bem assim e, às vezes, nem mulher é."
Odalisca ou não, há o risco real de o Brasil não conseguir nas negociações em andamento abrir mercados. Se prevalecer a proposta do G13, que fala em abertura substancial, mas não total, pode acontecer o que aconteceu com a proposta canadense: ficaram de fora apenas 97 produtos, mas são justamente os que mais interessam ao Brasil.
Os EUA, por sua vez, colocaram à mesa tudo (claro que com prazos para a eliminação das tarifas). Se, no entanto, a reunião de Puebla sacramentar a tese de que devem ser derrubadas as barreiras para "substancialmente todo o comércio", mas não para todo ele, o lógico é supor que a proposta norte-americana será refeita para proteger seus bens "sensíveis" -os de interesse do Brasil. (CR)


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