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Negociação tende a chegar ao "empate"
DO ENVIADO ESPECIAL A PUEBLA
A melhor definição do que está
acontecendo até agora em Puebla,
nas negociações da Alca, é de
Marcos Sawaya Jank, especialista
em negociações agrícolas e que
assessora o governo brasileiro:
"Está claro que o Brasil não perde, mas não está claro o que o Brasil ganha, se é que ganha".
Traduzindo: o Brasil não perde
porque conseguiu bloquear uma
Alca abrangente, que chegou a ser
definida como "anexação" da
América Latina pelos EUA pelo
então candidato Luiz Inácio Lula
da Silva, antes de se converter à
extrema moderação.
Mas não se sabe o que ganha,
porque não está claro se haverá
ou não acesso pelo menos razoável aos mercados dos outros 33
sócios, em especial, como é óbvio,
dos Estados Unidos e do Canadá,
os únicos países ricos da Alca.
Parece um empate, então. "Empate significa perder. O Brasil precisa ganhar para se desenvolver.
No empate, perdemos o campeonato do desenvolvimento, para
usar uma metáfora tão do gosto
atual", ataca Pedro de Camargo
Netto, empresário de muita experiência em negociações.
Já o embaixador Adhemar Bahadian, co-presidente das negociações, em nome do Brasil prefere usar outra metáfora, mais abusada, para tentar demonstrar que
a sedução da Alca pode ser uma
miragem. "A Alca parece uma
odalisca de cabaré barato. À luz
difusa da noite, é uma deusa. Mas,
quando amanhece, não é bem assim e, às vezes, nem mulher é."
Odalisca ou não, há o risco real
de o Brasil não conseguir nas negociações em andamento abrir
mercados. Se prevalecer a proposta do G13, que fala em abertura substancial, mas não total, pode acontecer o que aconteceu
com a proposta canadense: ficaram de fora apenas 97 produtos,
mas são justamente os que mais
interessam ao Brasil.
Os EUA, por sua vez, colocaram
à mesa tudo (claro que com prazos para a eliminação das tarifas).
Se, no entanto, a reunião de Puebla sacramentar a tese de que devem ser derrubadas as barreiras
para "substancialmente todo o
comércio", mas não para todo ele,
o lógico é supor que a proposta
norte-americana será refeita para
proteger seus bens "sensíveis"
-os de interesse do Brasil.
(CR)
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