São Paulo, segunda-feira, 04 de fevereiro de 2008

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Renda de quem tem diploma é 172% maior

DA SUCURSAL DO RIO

Apesar de uma parte dos trabalhadores com nível superior estar hoje disputando vagas com quem tem nível médio, ter um diploma no Brasil continua fazendo muita diferença.
Em 2006, a Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), do IBGE, mostrava que os trabalhadores com nível superior tinham, em média, rendimentos 172% maiores que os de nível médio e a menor taxa de desemprego entre todos os grupos: 3,8%.
A Pnad mostra também que, mesmo quando estão em profissões de menor exigência de qualificação, os rendimentos dos trabalhadores com nível superior tendem a ser maiores do que os que não completaram uma universidade.
No caso de vendedores de lojas ou mercados, por exemplo, apenas 3% têm nível superior. O rendimento médio desse grupo, no entanto, é quase o dobro (92% maior) do que o verificado entre os que têm nível médio apenas.
O mesmo acontece com recepcionistas (7% com nível superior), operadores de telemarketing (9%) ou trabalhadores nos serviços de higiene e embelezamento (2%).
O gerente da Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE, Cimar Azeredo Pereira, afirma que é comum aparecer na amostra da pesquisa trabalhadores com nível superior em áreas com baixa qualificação.
"Mas são uma minoria e, mesmo deslocados profissionalmente em relação ao curso que fizeram, costumam ter melhor inserção no mercado que quem não tem nível superior."
O economista Cláudio Dedecca, da Unicamp, lembra que, quando uma pesquisa como a Pnad mostra que 3% dos vendedores de lojas ou mercados têm nível superior, o dado pode esconder perfis bem distintos.
"Nesse grupo pode haver um vendedor que ganha um salário mínimo fixo e outro em loja mais sofisticada que recebe comissão pelas vendas, com rendimentos bem mais elevados."
Para especialistas ouvidos pela Folha, a melhoria da qualificação da mão-de-obra é sempre desejável em um país onde poucos têm nível superior. Mas explicam que, quando isso acontece e o país não cresce, há um efeito em cascata.
"É um movimento antropofágico. Se o número de vagas é menor do que o de pessoas que precisam trabalhar, ocorre uma competição pelos postos de trabalho onde quem tem mais escolaridade ocupa espaços de trabalhadores de nível médio", diz Dedecca.
O caminho de muitos é o setor público. ""Virou uma forma de garantir a sustentabilidade enquanto não se consegue emprego melhor", diz Waldemar Melo, vice-presidente do Instituto de Planejamento e Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico e Científico, que faz concursos para órgãos públicos.
Ao mesmo tempo em que profissionais de nível superior não acham vagas em suas áreas de formação, um estudo do Ipea divulgado em 2007 mostrou que não há mão-de-obra para 123 mil vagas qualificadas.
Isso ocorre porque as áreas de formação desses profissionais mais qualificados nem sempre coincidem com as áreas em que há mais carência.


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