São Paulo, segunda-feira, 04 de fevereiro de 2008

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Advogado acorda às 4h para entregar cartas e estuda para virar juiz

Paula Huven/Folha Imagem
Rodrigo Soares, formado em direito e que hoje é carteiro


DA SUCURSAL DO RIO

O advogado Rodrigo Braga Soares, 29, acorda às 4h para encarar o emprego de carteiro, com um objetivo fixo em mente: ser juiz antes de chegar aos 40 anos. Ele investe 60% do salário, de cerca de R$ 600, em cursos preparatórios para concurso no Tribunal de Justiça do Rio.
Sua rotina no emprego começa às 8h da manhã. De casa ao trabalho, são mais de duas horas, de ônibus. Caminha cerca de 10 km por dia, entregando cartas. Terminado o expediente, toma banho, no próprio local de trabalho, e vai estudar.
""Tento seguir minha meta. Estudarei até passar em um concurso público na área jurídica. Em nenhum momento penso em disputar o mercado de trabalho, porque não me vejo com chances. É muito concorrido", afirma.
Ele diz que o emprego de carteiro dá para custear os estudos e os gastos pessoais, mas que não cogita ficar na função em definitivo. "Não é o que tracei para mim, mas muitos colegas, também formados, se acomodam."
Waldy Pereira Barros Jr., 41, é formado em pedagogia e deu aulas em escola municipal antes de fazer o concurso para Guarda Municipal do Rio, em 2004. Ele é guarda de trânsito e dá aulas particulares, nos dias de folga, no bairro onde mora, Vila Valqueire (zona oeste do Rio).
"Planejo fazer outro concurso público, mas, enquanto estiver aqui, é o melhor lugar para trabalhar." Ele disse que prestou concurso para guarda municipal para estimular um irmão, que estava em situação difícil e também foi aprovado.
Roberta Abreu de Souza, 26, é uma das 205 mil vendedoras em lojas que, segundo a Pnad, têm superior completo. Ela é formada em pedagogia, já fez psicologia e hoje estuda jornalismo. "Fiz pedagogia só porque era um curso mais fácil e rápido. Nunca trabalhei na profissão e desde 2004 sou vendedora. Meu sonho, no entanto, sempre foi ser jornalista."
Ela hoje trabalha na loja da Oi no shopping Via Parque, na Barra (zona oeste do Rio).
O desejo de Vinícius da Fonseca, 32, formado em matemática há quatro anos, é que sua situação de gari da Comlurb também seja temporária. "Quando entrei, tinha somente o nível médio. Me formei e estou me preparando para o próximo concurso do município. Espero ganhar mais como professor do que como gari."


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