São Paulo, terça-feira, 04 de março de 2008

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Superávit da balança é o mais baixo desde 2002

Saldo em fevereiro fica em US$ 882 mi, segundo mês seguido abaixo de US$ 1 bi

Importações crescem 56%, e as exportações, 20%; preço alto de commodities ajuda a segurar saldo enquanto câmbio turbina importações

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Graças ao aumento das importações, o saldo da balança comercial ficou abaixo de US$ 1 bilhão pelo segundo mês consecutivo em fevereiro, segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio. O superávit, de US$ 882 milhões, foi o mais baixo já registrado desde junho de 2002.
Nos dois primeiros meses de 2008, as exportações superaram as importações em US$ 1,826 bilhão. Já em fevereiro de 2007 o saldo havia sido de US$ 2,899 bilhões -ou seja, em um único mês do ano passado o superávit da balança foi mais de 50% maior do que o apurado no último bimestre.
Nas últimas duas semanas de fevereiro, a balança chegou a apresentar déficit, o que não acontecia desde 2002, com as importações superando as exportações em US$ 175 milhões.
Apesar desses números, o secretário de Comércio Exterior do ministério, Weber Barral, disse que a expectativa do governo é que os resultados de janeiro e fevereiro não se repitam, na mesma magnitude, nos próximos meses. "Não acreditamos que seja uma tendência."
Segundo Barral, o aumento das importações -especialmente na segunda metade de fevereiro- se deve a motivos isolados, como uma concentração de embarques de trigo argentino e maiores gastos com a compra de petróleo, devido ao aumento na cotação do barril.
No mês passado, as importações somaram US$ 11,918 bilhões. Se considerada a média das encomendas por dia útil, o aumento, na comparação com fevereiro de 2007, foi de 56%. As exportações foram de US$ 10,129 bilhões, crescimento de 20% pelo mesmo critério.
Sem citar números, Barral disse que as importações devem continuar crescendo mais que as exportações, mas não no ritmo do primeiro bimestre.
Ontem, o governo aumentou de US$ 172 bilhões para US$ 180 bilhões sua meta para exportações em 2008. Se confirmado, representará aumento de 12% em relação a 2007.

Preço
Para José Augusto de Castro, vice-presidente da AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil), a nova meta pode ser alcançada, mas não deve ser entendida que as exportações brasileiras estão efetivamente em expansão. "Não é o Brasil que está aumentando as exportações. O que está aumentando é o preço [dos exportados], e quem determina o preço é o mercado internacional. Se amanhã o mundo virar de cabeça para baixo, muda tudo."
Castro cita os reajustes nos preços de produtos como minério de ferro e soja para explicar o desempenho das exportações nos últimos meses, mesmo com o dólar em queda.
Já o economista Tomás Goulart, da Modal Asset Management, fala que o crescimento da economia é o fator que, com a ajuda da valorização do real, estimula a procura por produtos importados. "A maior demanda interna, principalmente, é que apresenta maior pressão sobre as importações", afirma.
Segundo Goulart, o saldo da balança comercial deste ano deve ficar em US$ 29 bilhões, contra US$ 40 bilhões em 2007 -o Banco Central projeta superávit de US$ 30 bilhões. Essa queda se explica, justamente, pelo crescimento mais forte nas importações.
Relatório preparado pelo Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial) afirma que o dólar barato fez com que os importados tomassem mercado da produção doméstica, tanto em relação a bens de consumo quanto a matérias-primas.


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