São Paulo, terça-feira, 04 de março de 2008

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VINICIUS TORRES FREIRE

Bife, feijão, batata frita e inflação


Dados do Dieese indicam queda nos preços da comida, na cesta básica, depois de um semestre de carestia feia


O PREÇO DA COMIDA caiu pela primeira vez depois de mais ou menos um semestre de carestia feia, segundo os dados de fevereiro do Dieese para os alimentos da cesta básica, divulgados ontem. O instituto sindical de estatísticas não divulga uma inflação média da cesta de 13 produtos nas 16 capitais que pesquisa. Mas, nas 12 cidades que também são pesquisadas pelo IBGE para elaborar seu IPCA, a inflação da cesta básica caiu em 9. Na pesquisa do IBGE, essas nove cidades correspondem às regiões metropolitanas que têm peso de 83% no IPCA, o índice oficial de inflação.
Antes que especialistas gritem, ressalte-se que não são imediatamente comparáveis as variações de preço pesquisadas por IBGE e Dieese, nem regiões geográficas nem os métodos de coleta e análise de dados são os mesmos. Mas há correlação relevante entre as variações de preços de produtos da cesta de cada índice de preços. Prévias do IPCA e índices da FGV também indicam tendências semelhantes para a inflação da comida, que tirou o IPCA de sua trajetória de estabilidade em 2007.
Os preços dos produtos que mais prejudicaram o orçamento popular estão subindo bem menos, caindo ou variando de maneira menos dramática. Em São Paulo, na medida do Dieese, o feijão vinha de alta mensal de 11%, 20% e 34% no último trimestre de 2007. Subiu mais 19% em janeiro. Em fevereiro, acalmou-se, porém numa alta ainda forte de uns 6%. Carne e batata caíram no bimestre. O Dieese dá estabilidade no leite, embora todos os índices mostrem queda desde o final de 2007.
Ainda assim, em um ano a cesta básica subiu quase 22% em São Paulo, 15% no Rio, 11% em BH e 16% em Porto Alegre. Os preços estão amargos, o poder de compra do salário caiu, mas a inflação da comida está menor. Tende a cair também no índice geral se estiver correta a tese de que o pulo de meados de 2007 para cá se deveu principalmente a choques negativos de oferta em meia dúzia de alimentos in natura. Isto é, os preços haviam subido devido ao tempo ruim e a reduções temporárias de áreas plantadas de certas culturas e de rebanhos. O preço médio dos produtos industriais está subindo, mas devagar.
A incerteza maior parece advir do ritmo ainda muito forte da atividade econômica e dos inefáveis serviços. Mais adiante no semestre, no risco das safras. Câmbio é sempre uma incógnita, dúvida multiplicada pelas indas e vindas das expectativas sobre a crise americana. Mas o dólar está em baixa histórica e, sem alterações maiores no cenário, terá influência de neutra a positiva sobre a inflação, mesmo no caso do preço de commodities agrícolas negociadas no mercado global, que estão em fase agitada de mania.
O mar ainda não está para peixe nem para carnes, massas e farinhas, cujo preço depende de grãos cada vez mais caros. A crise americana ainda não desabrochou de todo e o ano mal começa. Não se sabe ainda se a novidade inflacionária do ano, depois da comida, virá de produtos industriais, por ora bem comportados. Mas arrefeceu a tendência altista de preços que parecia se configurar no final de 2007. Pode ocorrer, pois, a novidade de dois anos de PIB forte, inflação na meta e juro no nível mais baixo da história.

vinit@uol.com.br


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