São Paulo, quarta, 4 de março de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CRISE
Suspeita é de corrupção
Japão diz que investigará 'mister iene'

MARCIO AITH
enviado especial

Uma séria denúncia feita ontem no Parlamento japonês colocou em risco o cargo do poderoso vice-ministro das Finanças e espécie de porta-voz do governo japonês para assuntos econômicos, Eisuke Sakakibara, que carrega há anos o apelido de "mister iene" por suas declarações em defesa da moeda local.
Um deputado de oposição e ex-líder sindical denunciou no Parlamento o envolvimento de Sakakibara numa espécie de "extorsão" feita em 1991 contra a Daiwa Securities, uma das maiores corretoras do Japão.
Segundo o deputado Shozo Kusakawa, do partido Heiwa-Kaikaku (oposição), Sakakibara, então chefe de um escritório regional do ministério das Finanças, exigiu que a corretora devolvesse a um amigo seu US$ 1,7 milhão em perdas ocorridas no mercado de ações.
O amigo, presidente de uma companhia cujo nome não foi revelado, teria pago ao menos 15 jantares de cerca de US$ 400 cada para Sakakibara naquele período.
Sakakibara é considerado a maior autoridade econômica japonesa e, depois do primeiro-ministro Ryutaro Hashimoto, é o representante do governo japonês mais influente na Europa e nos Estados Unidos. A denúncia de ontem fez o iene, a moeda local, cair 0,4% frente ao dólar.
A denúncia foi feita numa comissão pública do Parlamento, diretamente ao premiê e ao ministro das Finanças, Hikaru Matsunaga.
O ministro das Finanças confirmou a existência da denúncia, mas disse que Sakakibara já havia sido inocentado em sindicância interna. Ele disse, no entanto, que iria rever a investigação para verificar se ela foi conduzida corretamente. O ministro confirmou que, durante a sindicância, foi apurado que Sakakibara havia telefonado para a corretora.
O secretário-geral do Partido Liberal-Democrata (do governo), Toshiro Muto, disse que Sakakibara apenas quis tentar consertar um erro que a corretora havia cometido nas operações do amigo.
O premiê disse que "investigações devem ser conduzidas sempre que necessário para evitar o descrédito da população com os funcionários públicos".
Especula-se que Sakakibara, em viagem aos países asiáticos, estaria sendo "queimado" pelos próprios companheiros do governo.
No mês passado, Sakakibara foi violentamente atacado por deputados da situação e da oposição por ter dito que a Constituição japonesa, formulada após a Segunda Guerra sob influência norte-americana, está obsoleta e deve ser alterada.
As denúncias contra Sakakibara ocorrem em um período de "caça às bruxas" no Japão, após denúncias de corrupção no Ministério das Finanças.
Ontem, um casal se matou devido às dificuldades financeiras na empresa da família. Yasuo Nakajima, 54, e sua mulher, Akikko, 50, se enforcaram na sala de casa, em Tóquio, capital do país.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.