São Paulo, quarta, 4 de março de 1998 |
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice LUÍS NASSIF O caso Naya e o pluralismo da mídia
O deputado Sérgio Naya é homem morto. A exposição de seu
estilo vergonhoso, como político e como empresário, é suficiente para garantir sua cassação e um amplo processo civil e
criminal. Resposta - A matéria Estruturas em Engenharia não é coisa simples. Mesmo sendo engenheiro civil, não me considero apto a opinar a respeito do desastre, porque não examinei o problema a fundo. Pergunta - Mas não está clara a responsabilidade do deputado Naya? Resposta - Não obstante o sr. Naya tenha um currículo notável de maracutaias, ações legais como réu, tráfico de influência etc., que o credenciam ao posto de vilão principal da história, as responsabilidades ainda não foram apuradas. O erro pode ter sido do projeto estrutural. No caso, a responsabilidade seria do engenheiro calculista e não do engenheiro responsável pela obra. Como a análise do projeto estrutural baseia-se em elementos eminentemente objetivos (plantas, memórias de cálculo e demais peças do projeto) é muito difícil, se não impossível, que um projetista seja responsabilizado indevidamente. Pergunta - Onde entra a responsabilidade do deputado Naya. Resposta - A responsabilidade será do sr. Naya (como engenheiro responsável pela obra) e de sua construtora caso a perícia venha a concluir pela má execução da obra como causa do desabamento. Não vi nenhuma referência da imprensa (os arquivos estão aí) sobre os casos da Gameleira, em Belo Horizonte, e do Elevado Paulo de Frontin, no Rio, em que foram responsabilizados os projetistas das estruturas. Pergunta - Mas o deputado Naya acusou obras de moradores pelo acidente. Como é possível? Resposta - A mídia contestou o argumento com a alegação de que um prédio "é feito para suportar duas vezes o peso previsto". Ora, se algum morador, principalmente dos pavimentos inferiores, cortar, durante uma reforma, elementos vitais de uma estrutura (pilares ou mesmo vigas principais) estará comprometendo toda a estrutura. Não há duas vezes o peso que resista. Não sei se ocorreu, mas é um argumento a ser investigado. Pergunta - E a responsabilidade dos poderes públicos? Resposta - Embora não morra de amores pelo prefeito do Rio, a prefeitura foi alvo de acusações no mínimo apressadas, pelo fato de o "Habite-se" ser de sua responsabilidade. O "Habite-se" é um documento emitido pela prefeitura, atestando que a obra foi feita de acordo com o projeto arquitetônico apresentado para a aprovação inicial. A prefeitura não tem nem o direito nem o dever de fiscalizar o projeto estrutural ou sua execução. Essa é uma responsabilidade do projetista, sujeito ao controle do seu órgão de classe, e do construtor. No entanto, a Prefeitura do Rio de Janeiro foi acusada seguidamente de (ser) omissa e irresponsável e o sr. Conde foi acusado de assassino, por absoluta falta de informação. E-mail: lnassif@uol.com.br Texto Anterior | Próximo Texto | Índice |
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