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São Paulo, sexta-feira, 04 de abril de 2003

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EXUBERÂNCIA DE PAPEL

Preço dos imóveis no Reino Unido subiu 70% acima da inflação desde os anos 90

"Bolha imobiliária" pode minar recuperação mundial, alerta FMI

FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON

A recuperação da economia mundial será lenta e corre o risco de um novo ""crash" devido a um eventual estouro da chamada ""bolha imobiliária" nos EUA e em outros países desenvolvidos.
Relatório divulgado ontem pelo FMI (Fundo Monetário Internacional) constata que há 40% de chance de os preços dos imóveis desabarem no médio prazo, aumentando a inadimplência de mutuários e minando o sistema bancário mundial.
Os preços dos imóveis nos EUA subiram 27% acima da inflação desde meados da década de 90. No Reino Unido e na Holanda, o aumento foi ainda maior, acima de 70% a partir de 1994.
""Cerca de 40% dos "booms" [aumentos acelerados] imobiliários são seguidos por estouros, levando os preços dos imóveis a uma queda de 25% a 30%", afirma o economista-chefe do FMI, Kenneth Rogoff.
""Desde os anos 70 não havia valorizações tão significativas. São as maiores já vistas em nossas análises econômicas."
Diferentemente do estouro da ""bolha" tecnológica, em 2000, um evento do tipo no setor imobiliário pode, segundo o Fundo, comprometeria largamente a saúde dos bancos nos Estados Unidos e na Europa.
A análise do FMI foi feita ontem em Washington durante a divulgação de três capítulos do "World Economic Outlook", relatório bianual que traça perspectivas para a economia mundial. O documento completo, com previsões de crescimento, será divulgado na semana que vem, durante a reunião de primavera da instituição.
Segundo o relatório, um eventual estouro da ""bolha imobiliária" terá consequências mais profundas para o sistema financeiro como um todo, pois envolve diretamente os bancos que participaram de uma espiral de empréstimos para a venda de moradias nos últimos anos.
Neste momento o setor já faz provisões (reservas) de dinheiro para cobrir perdas com a inadimplência nos empréstimos a mutuários. Atrasos e suspensões nos pagamentos crescem desde que os americanos viram seus portfólios de ações (a sua poupança) derreter com o mercado acionário nos dois últimos anos.
Outra consequência de uma eventual queda abrupta nos preços é que muitos americanos e europeus fazem empréstimos bancários dando como garantia seus imóveis -que podem passar rapidamente a valer menos, o que criaria um enorme descompasso nas carteiras dos bancos.
O Fundo constata também que as consequências do superinvestimento de alguns setores que culminou com o estouro da bolha no setor de tecnologia há pouco mais de dois anos ainda está longe do seu fim.
O comportamento defensivo dos bancos também vem fazendo sobrar menos dinheiro para financiar a economia real e a produção, que vive uma escassez de recursos de seus acionistas desde o final de 2000.
Uma das análises apresentadas no Outlook revela que a queda no preço dos ativos (ações, títulos e valores de empresas), como a ocorrida em 2000, acontece, em média, a cada 13 anos.
A recuperação costuma ser relativamente rápida. Leva, em média, dois anos e meio.
O Fundo assinala que a queda nos preços dos ativos no atual ciclo seguiu um padrão diferente. Foi mais acentuada, refletindo investimentos excessivos feitos por empresas antes da desaceleração geral da economia.
No caso do estouro da ""bolha" de 2000, grande parte do problema ficou concentrada nas empresas de tecnologia e comunicação, que fizeram os maiores investimentos nos últimos anos por conta da febre da internet.
Nos EUA, a crise não chegou a respingar no setor bancário, pois os empréstimos foram tomados no mercado de capitais.
Na Europa, diz o Fundo, a recuperação tende a ser ainda mais lenta. Sem mercados acionários gigantescos como nos EUA, as companhias européias recorreram aos bancos, que acabaram sendo afetados.
Rogoff afirma que o endividamento empresarial excessivo cortou em até três pontos percentuais o crescimento na zona do euro no ano passado e em um ponto percentual nos EUA.

Recessão
Numa análise otimista, sem as consequências imprevisíveis de um eventual estouro da ""bolha imobiliária", o mundo corre 15% de risco de entrar em recessão.
O Fundo pondera que a explosão nos preços dos imóveis pode refletir não somente especulação e desorganização do mercado imobiliário mas ser o resultado do aumento da imigração para os EUA e Europa e do maior acesso a financiamentos bancários. Se isso se confirmar, a hipótese de estouro da ""bolha" será menor.
Em seu relatório, o Fundo expressou dúvidas de que as empresas tenham se enquadrado depois das fraudes do ano passado.
Na entrevista concedida ontem para divulgar o documento, diretores do Fundo não quiseram comentar os efeitos de um crescimento mais lento sobre o déficit fiscal norte-americano -projetado para mais de US$ 300 bilhões neste ano- nem dos gastos do país na guerra contra o Iraque.


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