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EXUBERÂNCIA DE PAPEL
Preço dos imóveis no Reino Unido subiu 70% acima da inflação desde os anos 90
"Bolha imobiliária" pode minar recuperação mundial, alerta FMI
FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON
A recuperação da economia
mundial será lenta e corre o risco
de um novo ""crash" devido a um
eventual estouro da chamada
""bolha imobiliária" nos EUA e em
outros países desenvolvidos.
Relatório divulgado ontem pelo
FMI (Fundo Monetário Internacional) constata que há 40% de
chance de os preços dos imóveis
desabarem no médio prazo, aumentando a inadimplência de
mutuários e minando o sistema
bancário mundial.
Os preços dos imóveis nos EUA
subiram 27% acima da inflação
desde meados da década de 90.
No Reino Unido e na Holanda, o
aumento foi ainda maior, acima
de 70% a partir de 1994.
""Cerca de 40% dos "booms" [aumentos acelerados] imobiliários
são seguidos por estouros, levando os preços dos imóveis a uma
queda de 25% a 30%", afirma o
economista-chefe do FMI, Kenneth Rogoff.
""Desde os anos 70 não havia valorizações tão significativas. São
as maiores já vistas em nossas
análises econômicas."
Diferentemente do estouro da
""bolha" tecnológica, em 2000, um
evento do tipo no setor imobiliário pode, segundo o Fundo, comprometeria largamente a saúde
dos bancos nos Estados Unidos e
na Europa.
A análise do FMI foi feita ontem
em Washington durante a divulgação de três capítulos do "World
Economic Outlook", relatório
bianual que traça perspectivas para a economia mundial. O documento completo, com previsões
de crescimento, será divulgado na
semana que vem, durante a reunião de primavera da instituição.
Segundo o relatório, um eventual estouro da ""bolha imobiliária" terá consequências mais profundas para o sistema financeiro
como um todo, pois envolve diretamente os bancos que participaram de uma espiral de empréstimos para a venda de moradias
nos últimos anos.
Neste momento o setor já faz
provisões (reservas) de dinheiro
para cobrir perdas com a inadimplência nos empréstimos a mutuários. Atrasos e suspensões nos
pagamentos crescem desde que
os americanos viram seus portfólios de ações (a sua poupança)
derreter com o mercado acionário nos dois últimos anos.
Outra consequência de uma
eventual queda abrupta nos preços é que muitos americanos e europeus fazem empréstimos bancários dando como garantia seus
imóveis -que podem passar rapidamente a valer menos, o que
criaria um enorme descompasso
nas carteiras dos bancos.
O Fundo constata também que
as consequências do superinvestimento de alguns setores que culminou com o estouro da bolha no
setor de tecnologia há pouco mais
de dois anos ainda está longe do
seu fim.
O comportamento defensivo
dos bancos também vem fazendo
sobrar menos dinheiro para financiar a economia real e a produção, que vive uma escassez de
recursos de seus acionistas desde
o final de 2000.
Uma das análises apresentadas
no Outlook revela que a queda no
preço dos ativos (ações, títulos e
valores de empresas), como a
ocorrida em 2000, acontece, em
média, a cada 13 anos.
A recuperação costuma ser relativamente rápida. Leva, em média, dois anos e meio.
O Fundo assinala que a queda
nos preços dos ativos no atual ciclo seguiu um padrão diferente.
Foi mais acentuada, refletindo investimentos excessivos feitos por
empresas antes da desaceleração
geral da economia.
No caso do estouro da ""bolha"
de 2000, grande parte do problema ficou concentrada nas empresas de tecnologia e comunicação,
que fizeram os maiores investimentos nos últimos anos por conta da febre da internet.
Nos EUA, a crise não chegou a
respingar no setor bancário, pois
os empréstimos foram tomados
no mercado de capitais.
Na Europa, diz o Fundo, a recuperação tende a ser ainda mais
lenta. Sem mercados acionários
gigantescos como nos EUA, as
companhias européias recorreram aos bancos, que acabaram
sendo afetados.
Rogoff afirma que o endividamento empresarial excessivo cortou em até três pontos percentuais o crescimento na zona do
euro no ano passado e em um
ponto percentual nos EUA.
Recessão
Numa análise otimista, sem as
consequências imprevisíveis de
um eventual estouro da ""bolha
imobiliária", o mundo corre 15%
de risco de entrar em recessão.
O Fundo pondera que a explosão nos preços dos imóveis pode
refletir não somente especulação
e desorganização do mercado
imobiliário mas ser o resultado do
aumento da imigração para os
EUA e Europa e do maior acesso a
financiamentos bancários. Se isso
se confirmar, a hipótese de estouro da ""bolha" será menor.
Em seu relatório, o Fundo expressou dúvidas de que as empresas tenham se enquadrado depois
das fraudes do ano passado.
Na entrevista concedida ontem
para divulgar o documento, diretores do Fundo não quiseram comentar os efeitos de um crescimento mais lento sobre o déficit
fiscal norte-americano -projetado para mais de US$ 300 bilhões
neste ano- nem dos gastos do
país na guerra contra o Iraque.
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