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LUÍS NASSIF
O Brasil e o Iraque
Negociadores brasileiros
que participaram da reconstrução do Iraque em guerras passadas já haviam alertado que, desta vez, havia possibilidades concretas de o Brasil
participar do esforço de reconstrução.
Consultores com acesso a fontes do Pentágono confirmam
esse quadro.
O plano original dos "falcões"
de George W. Bush era de haver
controle total do Iraque pelos
Estados Unidos, com uma administração civil colonial. Já
circulam listas de fundamentalistas para assumir o Iraque,
como o general da reserva Jay
Garner, para governador do
Iraque, James Woolsey, ex-diretor da CIA, para ministro da
Informação e porta-voz, Robert
Reilly, ex-diretor da Voz da
América, para assessor do governador e assim por diante.
Por essa estrada, não haverá espaço para outros países, segundo esses observadores.
O fracasso da proposta de
guerra curta está fortalecendo
outra vertente dentro do Executivo, que defende as Nações
Unidas como organizadora da
reconstrução.
Segundo esses observadores,
dentro da coalizão, essa linha é
defendida pelo secretário de Estado dos Estados Unidos, Colin
Powell, pelo primeiro-ministro
britânico, Tony Blair, e pela
área mais política do Exército,
chefiada pelo chefe do Estado
Maior Conjunto, general Richard Meyers. Fora da coalizão, França e Alemanha deverão pressionar nessa direção.
Que papel pode ter o Brasil
nesse processo, indagam esses
consultores? Muito ou nada,
dependendo de uma série de
ações de nosso governo, segundo esses observadores.
O Brasil é o único país da
América Latina com histórico
de relações bilaterais especiais
com o Iraque. Foi dos maiores
parceiros do Iraque na década
de 80, comprando petróleo e
pagando com produtos e serviços. Para financiar o intercâmbio, em 1981 chegou a ser fundado um banco, tendo como sócios em partes iguais o Banco
do Brasil e o Raffidain Bank, o
banco estatal do Iraque. A fundação foi solenemente comemorada em Badgá, com um
jantar entre o então ministro
da Fazenda Ernane Galvêas e o
presidente Saddam Hussein. O
Banco Brasileiro Iraquiano
S.A. existe até hoje e opera no
Rio, dirigido por funcionários
do Banco do Brasil.
Nos anos 80, o Brasil foi o
maior fornecedor de serviços de
construção de obras públicas
no Iraque. Na exploração do
petróleo, coube à Petrobras descobrir a maior reserva do Iraque, o campo de Majnoon, no
norte do país, tomado por Saddam sem indenização.
Fora isso, o Brasil tem a
maior população com sangue
árabe do mundo fora do Oriente Médio, cerca de 16 milhões de
brasileiros, um em cada dez.
Já na fase do embargo, o Brasil é dos maiores compradores
do petróleo iraquiano, dentro
do programa "Petróleo por Alimentos" da ONU (Organização
das Nações Unidas). Por várias
razões, inclusive o futebol, o
Brasil é muito bem visto no
país.
Obviamente, o país precisará
se preparar para isso, alertam
esses observadores. O processo é
basicamente político e diplomático.
Nos anos 80, a parceria brasileira com o Iraque foi operada
pelo governo brasileiro. Terá
que ser agora. E um programa
que ofereça serviços por petróleo tem lógica e será vendável
desde que o Brasil desde já coloque o pé na porta, aconselham
esses consultores.
E-mail - LNassif@uol.com.br
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