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São Paulo, sexta-feira, 04 de abril de 2003

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LUÍS NASSIF

O Brasil e o Iraque

Negociadores brasileiros que participaram da reconstrução do Iraque em guerras passadas já haviam alertado que, desta vez, havia possibilidades concretas de o Brasil participar do esforço de reconstrução.
Consultores com acesso a fontes do Pentágono confirmam esse quadro.
O plano original dos "falcões" de George W. Bush era de haver controle total do Iraque pelos Estados Unidos, com uma administração civil colonial. Já circulam listas de fundamentalistas para assumir o Iraque, como o general da reserva Jay Garner, para governador do Iraque, James Woolsey, ex-diretor da CIA, para ministro da Informação e porta-voz, Robert Reilly, ex-diretor da Voz da América, para assessor do governador e assim por diante. Por essa estrada, não haverá espaço para outros países, segundo esses observadores.
O fracasso da proposta de guerra curta está fortalecendo outra vertente dentro do Executivo, que defende as Nações Unidas como organizadora da reconstrução.
Segundo esses observadores, dentro da coalizão, essa linha é defendida pelo secretário de Estado dos Estados Unidos, Colin Powell, pelo primeiro-ministro britânico, Tony Blair, e pela área mais política do Exército, chefiada pelo chefe do Estado Maior Conjunto, general Richard Meyers. Fora da coalizão, França e Alemanha deverão pressionar nessa direção.
Que papel pode ter o Brasil nesse processo, indagam esses consultores? Muito ou nada, dependendo de uma série de ações de nosso governo, segundo esses observadores.
O Brasil é o único país da América Latina com histórico de relações bilaterais especiais com o Iraque. Foi dos maiores parceiros do Iraque na década de 80, comprando petróleo e pagando com produtos e serviços. Para financiar o intercâmbio, em 1981 chegou a ser fundado um banco, tendo como sócios em partes iguais o Banco do Brasil e o Raffidain Bank, o banco estatal do Iraque. A fundação foi solenemente comemorada em Badgá, com um jantar entre o então ministro da Fazenda Ernane Galvêas e o presidente Saddam Hussein. O Banco Brasileiro Iraquiano S.A. existe até hoje e opera no Rio, dirigido por funcionários do Banco do Brasil.
Nos anos 80, o Brasil foi o maior fornecedor de serviços de construção de obras públicas no Iraque. Na exploração do petróleo, coube à Petrobras descobrir a maior reserva do Iraque, o campo de Majnoon, no norte do país, tomado por Saddam sem indenização.
Fora isso, o Brasil tem a maior população com sangue árabe do mundo fora do Oriente Médio, cerca de 16 milhões de brasileiros, um em cada dez.
Já na fase do embargo, o Brasil é dos maiores compradores do petróleo iraquiano, dentro do programa "Petróleo por Alimentos" da ONU (Organização das Nações Unidas). Por várias razões, inclusive o futebol, o Brasil é muito bem visto no país.
Obviamente, o país precisará se preparar para isso, alertam esses observadores. O processo é basicamente político e diplomático.
Nos anos 80, a parceria brasileira com o Iraque foi operada pelo governo brasileiro. Terá que ser agora. E um programa que ofereça serviços por petróleo tem lógica e será vendável desde que o Brasil desde já coloque o pé na porta, aconselham esses consultores.

E-mail - LNassif@uol.com.br


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