São Paulo, terça-feira, 04 de abril de 2006

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CRISE NO AR

Aérea não paga dívidas, e Varig Log, acusada de "laranja" de fundo norte-americano, tem oferta de US$ 350 mi

Ex-subsidiária quer agora comprar Varig

MAELI PRADO
DA REPORTAGEM LOCAL

JANAÍNA LAGE
DA SUCURSAL DO RIO

Em um momento em que a própria diretoria da Varig não descartava a possibilidade de a empresa parar até o final desta semana por falta de caixa, a Varig Log (sua ex-subsidiária de transporte de cargas, vendida para uma empresa constituída pelo fundo americano Matlin Patterson) propôs ontem comprar a companhia aérea por US$ 350 milhões.
A proposta será apresentada hoje aos credores, que, assim como a recém-criada Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) e a Justiça, tem que dar o aval para o negócio. Na avaliação de credores ouvidos pela Folha, apesar de ser uma saída polêmica (há suspeita de que a Varig Log pertença a estrangeiros, o que inviabilizaria o negócio), seria a única solução rápida para a Varig neste momento.
A própria Varig Log, em comunicado distribuído ontem à imprensa, afirmou que a proposta visa "possibilitar a continuidade das atividades da mais antiga companhia aérea do Brasil".
Sem gerar caixa, a Varig até agora não pagou aos arrendadores de aeronaves, com exceção da empresa de leasing ILFC, e estes estão avaliando a possibilidade de retomar aviões. A própria ILFC já teria manifestado que não quer renovar seu contrato com a Varig.
A situação com a Infraero, que administra os aeroportos, também se complica dia a dia. Apesar de ter combinado com a estatal que os pagamentos de tarifas aeroportuárias seriam retomados ontem, até as 18h a aérea não havia depositado o valor devido.
A Varig tampouco pagou a parcela da dívida que venceu na última sexta-feira com o fundo de pensão Aerus. A companhia havia combinado com o fundo de postergar a quitação da parcela que venceu em fevereiro, que também não havia sido paga, para 9 de maio. Mas isso estava condicionado ao pagamento da parcela de março, o que não ocorreu.
A relação da Varig com sua outra ex-subsidiária, a VEM, empresa de manutenção vendida para a portuguesa TAP, também vai de mal a pior. A Varig havia acordado bancar o quadro de funcionários da VEM como forma de ir quitando sua dívida com a empresa, que realiza a manutenção das aeronaves da aérea.
Desde janeiro deste ano, entretanto, a Varig não vem honrando esses pagamentos. O presidente da companhia, Marcelo Bottini, havia marcado uma reunião no mês passado para negociar o assunto com o presidente da TAP, Fernando Pinto. Bottini, entretanto, não compareceu à reunião, em Portugal. Mandou um representante, o que piorou os ânimos.
A VEM deu mais dez dias de prazo para a Varig pagar o que deve. Se a manutenção da Varig deixar de ser feita pela ex-subsidiária, a continuidade de suas operações se torna praticamente impossível.
A venda da Varig para a Volo, empresa que foi constituída no Brasil pelo Matlin Patterson para comprar a Varig Log, pode ser uma solução de emergência para todos esses problemas, mas é recheada de obstáculos. Isso porque o Snea (Sindicato Nacional das Empresas Aéreas) afirma que a Volo é uma espécie de "laranja" do fundo e já havia contestado a venda da Varig Log, em setembro do ano passado, para essa empresa constituída pelo Matlin.
Pela legislação brasileira, os estrangeiros podem deter no máximo 20% das companhias aéreas. "O Matlin Patterson, que é um fundo aventureiro, criou um simulacro de empresa usando laranjas", afirmou Anchieta Hélcias, diretor do Snea. "Vamos fazer o possível para impedir a desnacionalização da aviação."
A Volo, por sua parte, afirma que a empresa é brasileira e diz que o Matlin Patterson tem uma participação de menos de 20% da Varig Log. Agora que a empresa quer comprar também a Varig, a polêmica promete ressurgir.
A proposta da Varig Log pela Varig neste momento em que a aérea tem urgência de capitalização é compreensível, já que ela depende da "barriga" dos aviões da companhia para transportar cargas. Se a Varig quebrar, todo investimento é perdido.
A Varig não informou se houve demissões na empresa ontem -a aérea deve dispensar cerca de 2.000 pessoas para cortar custos. A presidente do Sindicato Nacional dos Aeronautas, Graziela Baggio, afirmou não ficou sabendo de demissões na companhia ontem.


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