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CRISE NO AR
Aérea não paga dívidas, e Varig Log, acusada de "laranja" de fundo norte-americano, tem oferta de US$ 350 mi
Ex-subsidiária quer agora comprar Varig
MAELI PRADO
DA REPORTAGEM LOCAL
JANAÍNA LAGE
DA SUCURSAL DO RIO
Em um momento em que a própria diretoria da Varig não descartava a possibilidade de a empresa parar até o final desta semana por falta de caixa, a Varig Log
(sua ex-subsidiária de transporte
de cargas, vendida para uma empresa constituída pelo fundo
americano Matlin Patterson) propôs ontem comprar a companhia
aérea por US$ 350 milhões.
A proposta será apresentada
hoje aos credores, que, assim como a recém-criada Anac (Agência
Nacional de Aviação Civil) e a Justiça, tem que dar o aval para o negócio. Na avaliação de credores
ouvidos pela Folha, apesar de ser
uma saída polêmica (há suspeita
de que a Varig Log pertença a estrangeiros, o que inviabilizaria o
negócio), seria a única solução rápida para a Varig neste momento.
A própria Varig Log, em comunicado distribuído ontem à imprensa, afirmou que a proposta
visa "possibilitar a continuidade
das atividades da mais antiga
companhia aérea do Brasil".
Sem gerar caixa, a Varig até agora não pagou aos arrendadores de
aeronaves, com exceção da empresa de leasing ILFC, e estes estão avaliando a possibilidade de
retomar aviões. A própria ILFC já
teria manifestado que não quer
renovar seu contrato com a Varig.
A situação com a Infraero, que
administra os aeroportos, também se complica dia a dia. Apesar
de ter combinado com a estatal
que os pagamentos de tarifas aeroportuárias seriam retomados
ontem, até as 18h a aérea não havia depositado o valor devido.
A Varig tampouco pagou a parcela da dívida que venceu na última sexta-feira com o fundo de
pensão Aerus. A companhia havia combinado com o fundo de
postergar a quitação da parcela
que venceu em fevereiro, que
também não havia sido paga, para
9 de maio. Mas isso estava condicionado ao pagamento da parcela
de março, o que não ocorreu.
A relação da Varig com sua outra ex-subsidiária, a VEM, empresa de manutenção vendida para a
portuguesa TAP, também vai de
mal a pior. A Varig havia acordado bancar o quadro de funcionários da VEM como forma de ir
quitando sua dívida com a empresa, que realiza a manutenção
das aeronaves da aérea.
Desde janeiro deste ano, entretanto, a Varig não vem honrando
esses pagamentos. O presidente
da companhia, Marcelo Bottini,
havia marcado uma reunião no
mês passado para negociar o assunto com o presidente da TAP,
Fernando Pinto. Bottini, entretanto, não compareceu à reunião,
em Portugal. Mandou um representante, o que piorou os ânimos.
A VEM deu mais dez dias de
prazo para a Varig pagar o que deve. Se a manutenção da Varig deixar de ser feita pela ex-subsidiária,
a continuidade de suas operações
se torna praticamente impossível.
A venda da Varig para a Volo,
empresa que foi constituída no
Brasil pelo Matlin Patterson para
comprar a Varig Log, pode ser
uma solução de emergência para
todos esses problemas, mas é recheada de obstáculos. Isso porque
o Snea (Sindicato Nacional das
Empresas Aéreas) afirma que a
Volo é uma espécie de "laranja"
do fundo e já havia contestado a
venda da Varig Log, em setembro
do ano passado, para essa empresa constituída pelo Matlin.
Pela legislação brasileira, os estrangeiros podem deter no máximo 20% das companhias aéreas.
"O Matlin Patterson, que é um
fundo aventureiro, criou um simulacro de empresa usando laranjas", afirmou Anchieta Hélcias, diretor do Snea. "Vamos fazer o possível para impedir a desnacionalização da aviação."
A Volo, por sua parte, afirma
que a empresa é brasileira e diz
que o Matlin Patterson tem uma
participação de menos de 20% da
Varig Log. Agora que a empresa
quer comprar também a Varig, a
polêmica promete ressurgir.
A proposta da Varig Log pela
Varig neste momento em que a
aérea tem urgência de capitalização é compreensível, já que ela depende da "barriga" dos aviões da
companhia para transportar cargas. Se a Varig quebrar, todo investimento é perdido.
A Varig não informou se houve
demissões na empresa ontem -a
aérea deve dispensar cerca de
2.000 pessoas para cortar custos.
A presidente do Sindicato Nacional dos Aeronautas, Graziela Baggio, afirmou não ficou sabendo de
demissões na companhia ontem.
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