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Boom de commodities é positivo, diz FMI
Economista-chefe do Fundo diz não se lembrar de descolamento tão grande entre commodities globais e mercados de crédito
FMI diz que países como Brasil fizeram "bom uso" da alta de preços dos produtos básicos que exportam e têm mostrado "resistência"
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
É positiva a alta nos preços
das commodities que vem beneficiando as economias emergentes na atual crise financeira.
E, diferentemente do ocorrido
em ciclos anteriores, países como o Brasil fizeram bom uso
dela, por isso mostram inusitada resistência à crise atual.
É o que diz o FMI (Fundo
Monetário Internacional) em
mais uma etapa de sua divulgação bianual das perspectivas
para a economia global.
Indagado se uma queda nesses preços não prejudicaria países como o Brasil, que dependem pesadamente da exportação de matérias-primas, Simon
Johnson, economista-chefe do
Fundo, afirmou que estava
"animado em geral pela resistência aparentemente maior
[do que em crises anteriores]
de muitos países exportadores
de commodities".
"Eles fizeram bom uso do
boom, em nossa opinião, em relação ao que aconteceu em altas
anteriores, e isso deve ajudar
mais adiante, seja o que for que
aconteça com os preços das
commodities", afirmou, ontem
pela manhã na sede do FMI.
A alta experimentada atualmente por esse setor da economia tem se provado mais favorável a países que dependem
dele, com exportações e investimentos crescendo rapidamente, ao mesmo tempo em
que governos se endividam
substancialmente menos, diz
trecho do estudo "World Economic Outlook", do FMI.
Segundo o relatório, que terá
sua íntegra divulgada no dia 9,
véspera dos Encontros de Primavera do FMI e do Banco
Mundial, a alta nos preços das
commodities foi de 75% em
termos reais desde 2000, e essa
situação não dá mostras de mudar, mesmo com a ameaça de
recessão nos EUA.
"Os mercados emergentes e
os países em desenvolvimento
têm feito um bom trabalho de
criar as bases para um crescimento sustentado de forma
que, mesmo que o preço das
commodities caia um pouco, isso não deve ser muito problemático para eles", disse Johnson. "Eles não parecem tão vulneráveis hoje como estavam
em episódios anteriores."
O economista-chefe do FMI
disse que não consegue se lembrar de uma época em que tenha havido um descolamento
tão pronunciado entre commodities globais e mercados de
crédito, "cada um mandando
sinais conflitantes em relação
ao panorama global".
Outras análises divulgadas
recentemente têm creditado ao
crescimento dos países chamados emergentes, como o Brasil,
a Índia, a Rússia e a China, um
contrapeso à crise financeira
atual que abate as economias
desenvolvidas, lideradas pelos
EUA. O Fundo não fez a relação
de forma direta, mas deu a entender que constará do relatório que será divulgado.
Parte dele vazou à imprensa
nos últimos dias, e o prognóstico que pinta sobre a economia
mundial é negativo. Há uma revisão para baixo do crescimento global, a terceira desde julho,
e uma expectativa de que a economia americana cresça apenas 0,5% em 2008 e 0,6% em
2009. O economista-chefe não
comentou o vazamento, mas
reforçou que a visão do Fundo é
que a economia dos EUA está
"paralisada".
Tarifa do carbono
No mesmo encontro, foram
discutidos outros dois capítulos analíticos, sobre ambiente e
crise hipotecária. No primeiro,
o FMI defende uma tarifação
das emissões de carbono de
maneira "global, de longo prazo, flexível e imparcial". Salienta ainda o impacto de políticas
climáticas sobre a economia
global, dando como exemplo o
caso da corrida ao biocombustível, que elevou o preço de alimentos.
Por fim, o Fundo pede resposta mais agressiva dos formuladores de políticas monetárias quando houver a percepção de que os preços de casas
estão explodindo e em desacordo com a valorização de outros
produtos. Foi o que aconteceu
na recente crise hipotecária
dos EUA, origem da crise atual.
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