São Paulo, sexta-feira, 04 de abril de 2008

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Boom de commodities é positivo, diz FMI

Economista-chefe do Fundo diz não se lembrar de descolamento tão grande entre commodities globais e mercados de crédito

FMI diz que países como Brasil fizeram "bom uso" da alta de preços dos produtos básicos que exportam e têm mostrado "resistência"

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

É positiva a alta nos preços das commodities que vem beneficiando as economias emergentes na atual crise financeira. E, diferentemente do ocorrido em ciclos anteriores, países como o Brasil fizeram bom uso dela, por isso mostram inusitada resistência à crise atual.
É o que diz o FMI (Fundo Monetário Internacional) em mais uma etapa de sua divulgação bianual das perspectivas para a economia global.
Indagado se uma queda nesses preços não prejudicaria países como o Brasil, que dependem pesadamente da exportação de matérias-primas, Simon Johnson, economista-chefe do Fundo, afirmou que estava "animado em geral pela resistência aparentemente maior [do que em crises anteriores] de muitos países exportadores de commodities".
"Eles fizeram bom uso do boom, em nossa opinião, em relação ao que aconteceu em altas anteriores, e isso deve ajudar mais adiante, seja o que for que aconteça com os preços das commodities", afirmou, ontem pela manhã na sede do FMI.
A alta experimentada atualmente por esse setor da economia tem se provado mais favorável a países que dependem dele, com exportações e investimentos crescendo rapidamente, ao mesmo tempo em que governos se endividam substancialmente menos, diz trecho do estudo "World Economic Outlook", do FMI.
Segundo o relatório, que terá sua íntegra divulgada no dia 9, véspera dos Encontros de Primavera do FMI e do Banco Mundial, a alta nos preços das commodities foi de 75% em termos reais desde 2000, e essa situação não dá mostras de mudar, mesmo com a ameaça de recessão nos EUA.
"Os mercados emergentes e os países em desenvolvimento têm feito um bom trabalho de criar as bases para um crescimento sustentado de forma que, mesmo que o preço das commodities caia um pouco, isso não deve ser muito problemático para eles", disse Johnson. "Eles não parecem tão vulneráveis hoje como estavam em episódios anteriores."
O economista-chefe do FMI disse que não consegue se lembrar de uma época em que tenha havido um descolamento tão pronunciado entre commodities globais e mercados de crédito, "cada um mandando sinais conflitantes em relação ao panorama global".
Outras análises divulgadas recentemente têm creditado ao crescimento dos países chamados emergentes, como o Brasil, a Índia, a Rússia e a China, um contrapeso à crise financeira atual que abate as economias desenvolvidas, lideradas pelos EUA. O Fundo não fez a relação de forma direta, mas deu a entender que constará do relatório que será divulgado.
Parte dele vazou à imprensa nos últimos dias, e o prognóstico que pinta sobre a economia mundial é negativo. Há uma revisão para baixo do crescimento global, a terceira desde julho, e uma expectativa de que a economia americana cresça apenas 0,5% em 2008 e 0,6% em 2009. O economista-chefe não comentou o vazamento, mas reforçou que a visão do Fundo é que a economia dos EUA está "paralisada".

Tarifa do carbono
No mesmo encontro, foram discutidos outros dois capítulos analíticos, sobre ambiente e crise hipotecária. No primeiro, o FMI defende uma tarifação das emissões de carbono de maneira "global, de longo prazo, flexível e imparcial". Salienta ainda o impacto de políticas climáticas sobre a economia global, dando como exemplo o caso da corrida ao biocombustível, que elevou o preço de alimentos.
Por fim, o Fundo pede resposta mais agressiva dos formuladores de políticas monetárias quando houver a percepção de que os preços de casas estão explodindo e em desacordo com a valorização de outros produtos. Foi o que aconteceu na recente crise hipotecária dos EUA, origem da crise atual.


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