São Paulo, sexta-feira, 04 de abril de 2008

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MARK MOBIUS

Crise dos EUA não afetará emergentes


O melhor momento de investir em mercados emergentes é quando você tiver dinheiro

AVANÇANDO a passo de lesma pelo tráfego de Dubai, vejo-me forçado a contemplar a recente queda em diversos mercados emergentes de ações.
Parece existir uma forte dissonância entre o que está acontecendo nos mercados emergentes e as notícias assustadoras sobre a crise no segmento de crédito imobiliário de risco ("subprime") que emergem dos EUA e do Reino Unido.
Assim, como classificar o pessimismo e as perspectivas sombrias sobre os quais leio nos jornais e ouço de qualquer economista com quem converse? Minha recente viagem de um mês pela América Latina não parece indicar desastre iminente.
Empresários com os quais conversei no Brasil, na Argentina, no Chile, no Peru e no México diziam que os negócios iam bem e estavam planejando crescimento.
Os dados parecem indicar que não só a América Latina mas os emergentes em geral não precisam sucumbir a uma recessão nos EUA.
"Descolamento" é uma palavra da moda. Mas não existe descolamento real neste mundo de comunicações, investimento e comércio mais intensos. Estamos todos unidos.
Isso não precisa ser ruim, porque uma desaceleração ou crise em um país pode ser remediada por crescimento em outro. Os emergentes devem registrar crescimento médio de 7% no PIB neste ano, enquanto os desenvolvidos (EUA, Japão, Europa, Reino Unido, Austrália e Nova Zelândia) devem crescer pouco mais de 2%. Não seria possível que o crescimento dos emergentes anime os gigantes econômicos do planeta, mesmo que apenas um pouquinho?
De fato, o aspecto mais excitante do crescimento dos emergentes é o fato de que os dois mais populosos países do mundo registram o maior crescimento. Mais relevante é o fato de que, nesse países, o crescimento é impulsionado pelo consumo interno. Chineses e indianos são os novos consumidores do planeta, em companhia de brasileiros, russos, turcos, egípcios, mexicanos, poloneses, dos dos Emirados Árabes Unidos e de muitos outros mercados emergentes, que estão se tornando importante força no consumo mundial.
Não importa de que maneira a situação atual venha a evoluir, podemos nos reconfortar na certeza de que qualquer queda nos mercados deve ser curta.
Nossos estudos sobre os mercados emergentes indicam que altas duram mais que quedas e que as altas em geral trazem avanços superiores às perdas causadas pelas quedas, em termos percentuais.
Quando comecei a investir em mercados emergentes, com US$ 100 milhões, em 1987, nem mesmo em meus sonhos imaginaria que, hoje, eu teria US$ 40 bilhões investidos nesses mercados.
Mas não podemos esquecer que, ao longo desses 20 anos, passamos por oito ciclos de alta e queda dos mercados. As quedas foram de em média 33% e duraram em média sete meses. Mas cada uma delas foi seguida por uma alta mais impressionante, de em média 124% e com duração média de 24 meses.
Dada a melhora dramática nos fundamentos dos emergentes, o futuro parece certamente brilhante.
Assim, quando as pessoas me perguntam qual é o melhor momento para começar a investir em mercados emergentes, costumo recuar aos fatos: as altas duram mais e são mais intensas que as quedas, e os fundamentos dos mercados emergentes são de fato notáveis.
Tudo que posso dizer, portanto, talvez pareça a alguns um comentário interesseiro: o melhor momento de investir em mercados emergentes é quando você tiver dinheiro.


MARK MOBIUS é presidente da Templeton Emerging Markets. Este artigo foi publicado originalmente no "Financial Times"

Tradução de PAULO MIGLIACCI

Excepcionalmente, hoje, a coluna de LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS não é publicada.


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