São Paulo, sexta-feira, 04 de abril de 2008

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BID coloca em xeque "blindagem" da AL

Para organismo, fundamentos na região não são tão sólidos e acúmulo de reservas veio acompanhado de aumento da dívida

Banco diz que desempenho positivo é baseado na conjuntura externa favorável, situação que pode mudar com crise

DANIEL BERGAMASCO
ENVIADO ESPECIAL A MIAMI

"Quando um barco está navegando depressa em meio a ventos favoráveis, é difícil dizer quanto da velocidade pode ser atribuída à habilidade do capitão", diz um relatório que será apresentado hoje em um dos seminários de abertura da Reunião Anual do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), em Miami.
O barco, no documento elaborado pelo próprio BID, é a América Latina -ou suas sete economias mais importantes, que somam 91% do PIB da região (Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, México, Peru e Venezuela). Nas 40 páginas do texto, os autores jogam água fria sobre o conceito de que o grupo tem turbinas para seguir crescendo sem o embalo da prosperidade da economia mundial dos últimos anos, que levou ao crescimento do PIB na casa dos 7% anuais na região.
"Não é que estejamos sendo pessimistas. Apenas temos de mostrar à região que a crise pede muita cautela, muito mais do que se pensa", diz Alejandro Izquierdo, economista-sênior do Departamento de Pesquisa do BID, um dos coordenadores do levantamento.
Intitulado "Todo Esse Brilho Pode Não ser Ouro", o relatório tenta desconstruir o conceito de que "desta vez é diferente" para a América Latina, dizendo que uma crise econômica mundial detonada a partir dos calotes de hipotecas nos EUA poderá repetir na região os estragos de situações anteriores, como a crise da Rússia em 1998.
A razão, diz o texto, é que os fundamentos econômicos da região não são tão sólidos quanto podem parecer, especialmente porque o bom desempenho recente é muito baseado na boa conjuntura externa. "Fala-se das reservas de moeda estrangeira como garantia de a região estar mais forte contra choques financeiros. Mas esse acúmulo veio acompanhado de um aumento de passivos monetários [dívida interna] que enfraquece a região", afirma Ernesto Talvi, também coordenador do projeto. "O ideal seria que todos tivessem seguido o exemplo do Chile, que aproveitou o crescimento para reduzir a dívida pública."
Izquierdo e Talvi também vêem com ceticismo o fato de o crescimento do PIB brasileiro ser impulsionado pelo mercado interno. "Isso é bom? Claro, é bom, mas enfatizo: a demanda interna só é forte no Brasil porque a situação do resto do mundo é favorável. Uma crise poderá afetar fortemente essa situação", diz Talvi.


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