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BID coloca em xeque "blindagem" da AL
Para organismo, fundamentos na região não são tão sólidos e acúmulo de reservas veio acompanhado de aumento da dívida
Banco diz que desempenho
positivo é baseado na
conjuntura externa
favorável, situação que
pode mudar com crise
DANIEL BERGAMASCO
ENVIADO ESPECIAL A MIAMI
"Quando um barco está navegando depressa em meio a
ventos favoráveis, é difícil dizer
quanto da velocidade pode ser
atribuída à habilidade do capitão", diz um relatório que será
apresentado hoje em um dos
seminários de abertura da Reunião Anual do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), em Miami.
O barco, no documento elaborado pelo próprio BID, é a
América Latina -ou suas sete
economias mais importantes,
que somam 91% do PIB da região (Argentina, Brasil, Chile,
Colômbia, México, Peru e Venezuela). Nas 40 páginas do
texto, os autores jogam água
fria sobre o conceito de que o
grupo tem turbinas para seguir
crescendo sem o embalo da
prosperidade da economia
mundial dos últimos anos, que
levou ao crescimento do PIB na
casa dos 7% anuais na região.
"Não é que estejamos sendo
pessimistas. Apenas temos de
mostrar à região que a crise pede muita cautela, muito mais
do que se pensa", diz Alejandro
Izquierdo, economista-sênior
do Departamento de Pesquisa
do BID, um dos coordenadores
do levantamento.
Intitulado "Todo Esse Brilho
Pode Não ser Ouro", o relatório
tenta desconstruir o conceito
de que "desta vez é diferente"
para a América Latina, dizendo
que uma crise econômica mundial detonada a partir dos calotes de hipotecas nos EUA poderá repetir na região os estragos
de situações anteriores, como a
crise da Rússia em 1998.
A razão, diz o texto, é que os
fundamentos econômicos da
região não são tão sólidos
quanto podem parecer, especialmente porque o bom desempenho recente é muito baseado na boa conjuntura externa. "Fala-se das reservas de
moeda estrangeira como garantia de a região estar mais
forte contra choques financeiros. Mas esse acúmulo veio
acompanhado de um aumento
de passivos monetários [dívida
interna] que enfraquece a região", afirma Ernesto Talvi,
também coordenador do projeto. "O ideal seria que todos tivessem seguido o exemplo do
Chile, que aproveitou o crescimento para reduzir a dívida
pública."
Izquierdo e Talvi também
vêem com ceticismo o fato de o
crescimento do PIB brasileiro
ser impulsionado pelo mercado interno. "Isso é bom? Claro,
é bom, mas enfatizo: a demanda interna só é forte no Brasil
porque a situação do resto do
mundo é favorável. Uma crise
poderá afetar fortemente essa
situação", diz Talvi.
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