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Concorrentes vão à SDE contra garrafa da AmBev
Eles vêem abuso de concorrência em nova embalagem com marca da fabricante
Empresa nega acusações; para rivais, o principal problema está na garrafa de 600 ml, que é compartilhada pelas indústrias há cem anos
FÁTIMA FERNANDES
CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL
A nova fábrica de garrafas de
vidro da AmBev (Skol, Brahma
e Antarctica) levou a Abrabe
(Associação Brasileira de Bebidas), a Afrebras (Associação
dos Fabricantes de Refrigerantes do Brasil) e a Indústria e Comércio de Bebidas Imperial a
pedirem ontem à SDE (Secretaria de Direito Econômico) investigação por eventual abuso
de concorrência nos mercados
de cervejas e de refrigerantes.
Prevista para ser inaugurada
no Rio de Janeiro oficialmente
neste mês, a fábrica de garrafas
de vidro da AmBev, segundo as
duas associações, vai dar vantagens tributárias e competitivas
à companhia sobre os concorrentes. Nas novas embalagens,
será grafado o nome da AmBev.
Os concorrentes querem que a
AmBev seja impedida de personalizar as garrafas.
Para os fabricantes que recorreram à SDE, o principal
problema está no segmento de
garrafa de vidro retornável de
600 ml -compartilhada pelos
fabricantes de cervejas e refrigerantes há cerca de cem anos.
Estima-se que existam hoje
cerca de 12 bilhões de garrafas
de 600 ml de cerveja e refrigerante circulando no país e que
70% delas pertencem à AmBev.
Se a AmBev passar a grafar seu
nome nessas garrafas, os outros fabricantes não poderão
mais utilizar essas embalagens,
segundo as duas associações.
"O nosso pedido é que seja
interrompida imediatamente a
produção de garrafas de 600 ml
personalizadas pela AmBev. É
preciso preservar o mercado
que hoje funciona com o sistema de uso comum dessas embalagens retornáveis. É um
modelo que favorece as indústrias, os pontos-de-venda e os
consumidores", afirma Rosana
Galvão, diretora da Abrabe.
"Como a AmBev é líder no
mercado de cerveja, isso significa que os concorrentes estarão mais restritivos nas vendas
para bares, restaurantes e supermercados. Quem tem garrafa de 600 ml da AmBev [ou
de 630 ml, como será a nova
versão], só vai poder trocar
com a AmBev. Se os órgãos de
defesa da concorrência não interferirem nisso, vamos ter
problemas nesse mercado", diz
Fernando Rodrigues de Bairros, presidente da Afrebras.
Na representação à SDE, a
Afrebras diz que, se a AmBev,
que tem 70% do mercado de
cervejas, grafar seu nome nos
vasilhames, "os demais usuários das garrafas serão obrigados a propagar a marca da AmBev". Mais: "O poder econômico da representada [AmBev]
elimina a concorrência no setor de refrigerantes regionais
por via oblíqua, pois os regionais dependem das garrafas de
vidro âmbar para manter-se no
mercado, dada sua maior rentabilidade e divulgação perante
o público consumidor." Essas
garrafas também são utilizadas
para vinhos e cachaças.
A fábrica da AmBev custou
R$ 160 milhões e produzirá
450 milhões de garrafas por
ano. As novas garrafas de 630
ml, fabricadas hoje pela Saint
Gobain, já são vendidas no Rio.
Na semana passada, propaganda da AmBev anunciou que
a Skol chega ao mercado "mais
cheia de Skol, vem com 630
mil" e sem custo extra: "mais
Skol, pelo mesmo preço". O
anúncio também orienta os comerciantes sobre como pode
ser feita a troca das garrafas.
Se a AmBev não precisa mais
comprar garrafas de vidro no
mercado, segundo a Afrebras,
também não terá de arcar com
impostos (ICMS, PIS e Cofins)
na compra dessas embalagens,
como vai ocorrer com todos os
outros fabricantes de cerveja.
"Os fabricantes serão ressarcidos dos tributos pagos, mas
só após a venda. A AmBev, que
não precisa mais comprar garrafas, vai pagar tributos só na
venda do produto pronto e,
portanto, será beneficiada."
Clóvis Panzarini, consultor
tributário, diz que, no caso das
embalagens retornáveis, os fabricantes de refrigerantes e
cervejas que não produzem as
garrafas vão sair perdendo só
no ICMS. Isso porque a embalagem retornável, considerada
bens de uso e consumo, não dá
direito a crédito de ICMS.
As garrafas retornáveis são
fabricadas por três indústrias
de vidro no país: Companhia
Industrial de Vidro, Saint-Gobain e Owens Ilinois, que juntas têm cinco fábricas no país,
segundo informa a Abividro.
"A decisão da AmBev de verticalizar a produção e decidir
fabricar garrafas de vidro vai,
com certeza, beneficiá-la em
relação à concorrência, considerando a atual política tributária desenhada para o setor",
afirma Lucien Belmonte, superintendente da Abividro.
O PIS e a Cofins para a garrafa retornável, segundo ele,
equivalem a 130% do preço da
garrafa. "Se a AmBev verticaliza a produção, não tem que recolher os tributos na compra
de garrafas. Isso é resultado de
distorção na legislação de PIS e
Cofins, que beneficia a AmBev", afirma Belmonte.
Joaquim Saraiva de Almeida,
diretor social da Abrasel, associação que representa bares e
restaurantes, não vê problema
na troca de garrafa de 600 ml
pela AmBev. "Querem dar
identificação ao produto deles.
Bares e restaurantes vão continuar comprando os produtos
que costumavam. Quem vai sofrer mais com isso são as fabricantes de garrafas que vendiam
para a AmBev. Provavelmente,
as outras fabricantes de cerveja
também deverão identificar
suas garrafas."
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