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Na crise, jornais crescem com inovações
Na Europa, empresas jornalísticas exploram a internet e diversificam publicações para aumentar circulação e receitas
Maior jornal da Europa, "Bild" cresce diante da crise e avalia a aquisição de títulos na Alemanha, no Leste Europeu e nos EUA
ERIC PFANNER
DO "NEW YORK TIMES", EM PARIS
Enquanto a contagem de
mortos no setor americano de
jornais aumentava em março, a
empresa alemã Axel Springer,
proprietária do "Bild", o maior
jornal da Europa, anunciava o
maior lucro de seus 62 anos.
Na sede da Springer em Berlim, não se ouvem discussões
desesperadas sobre como sobreviver à recessão e à revolução digital. Em lugar disso, seu
executivo-chefe, Mathias
Döpfner, disse que está procurando oportunidades de expansão, buscando aquisições na
Alemanha, no Leste Europeu e
possivelmente até nos EUA.
"Não acredito no fim do jornalismo", disse Döpfner. "Pelo
contrário, acho que a crise pode
ter um impacto positivo. O número de atores vai diminuir,
mas os mais fortes podem sair
da crise mais estáveis."
Os jornais americanos são
vistos em grande parte do mundo como o padrão de ouro do
jornalismo. Mas o modelo econômico dos diários americanos
parece estar falido. Embora boa
parte da Europa enfrente iguais
problemas, alguns publishers
vêm encontrando maneiras
inovadoras não apenas de sobreviver, mas de crescer diante
da recessão e da internet.
A Axel Springer gera 14% de
sua receita on-line, mais do que
a maioria dos jornais americanos. Uma razão disso, segundo
Döpfner, é que ousou competir
com ela mesma. Em lugar de
tentar proteger publicações
existentes, vem adquirindo ou
criando novas, algumas das
quais distribuem conteúdo
igual a públicos diferentes.
Em uma Redação em Berlim,
por exemplo, jornalistas produzem textos para seis publicações, entre jornais e sites.
Embora os anúncios tenham
caído, a Springer compensa
parte da queda elevando o preço de publicações como o popular "Bild", que vende mais de 3
milhões de exemplares.
Mas mesmo na Europa o cenário é difícil e, em alguns países, os jornais se encontram em
situação pior do que nos Estados Unidos. Vários diários franceses continuam vivos à custa
de subsídios públicos. No ultracompetitivo mercado britânico, os jornais nacionais estão
lutando para ganhar dinheiro,
enquanto os periódicos locais
vêm desaparecendo.
Mas há sinais de vida jornalística no continente. A circulação dos jornais vem caindo
mais lentamente que nos EUA.
A maioria dos jornais foi menos
afetada pela recessão que os
diários americanos, porque dependem de seus leitores, mais
que dos anunciantes, que tendem a ser mais volúveis.
Inovações
Embora ninguém tenha encontrado uma solução mágica,
algumas empresas europeias
acharam maneiras de fazer
frente aos desafios. Na empresa
de jornais Schibsted, sediada
em Oslo (Noruega), as atividades on-line -que incluem jornais, sites de classificados e outros- garantem um quarto da
receita da empresa e a grande
maioria dos lucros.
O melhor desempenho on-line é do VG Nett, um site filiado,
embora não estreitamente, ao
jornal tabloide "Verdens
Gang". O VG Nett tem margem
de lucro de mais de 30% e concorre com o Google como o site
mais popular da Noruega.
Como a maioria dos sites de
jornais, o VG Nett gera a maior
parte de sua receita com anúncios, mas começa a levantar dinheiro de seus usuários. Cerca
de 150 mil pessoas pagam até
599 coroas -cerca de R$ 200-
por ano para participar de um
clube de emagrecimento.
Recentemente o VG Nett começou a cobrar até R$ 270 por
ano dos usuários que assistem
partidas de futebol ao vivo em
vídeos de seu site. E uma rede
social ligada ao VG Nett cobra
dos usuários para atualizar
seus perfis. Mas o acesso às notícias continua a ser gratuito.
Música
A inspiração para alternativas de financiamento também
vem da indústria musical, um
setor que perdeu mais de um
quarto de suas vendas globais
nos últimos dez anos. Ao lado
dos destroços deixados pela pirataria digital, novos modelos
econômicos estão emergindo
no segmento, e a Europa está
na vanguarda deles.
Poucos europeus se dispõem
a pagar diretamente por música através de serviços como o
iTunes, então, em vez disso, a
indústria passou a empacotar
os custos de música numa assinatura de banda larga, como fazem os canais de TV paga.
O Projeto de Excelência em
Jornalismo, sediado em Washington, cético quanto à aplicação de micropagamentos de leitores a jornais, sugeriu que se
ofereça acesso a sites de jornais
em troca de uma taxa paga já ao
provedor de acesso à internet.
Ainda no mundo virtual, a
concorrência com o Google
preocupa. Um grupo de jornais
belgas conseguiu, há dois anos,
que um tribunal determinasse
ao Google que removesse o
conteúdo deles de seu serviço
Google News, que resume artigos de jornais e fornece links
para os sites originais. Os jornais belgas argumentaram que
o Google News violara seus direitos autorais. Recurso contra
a decisão ainda será julgado.
Isso não tem ajudado os jornais a ganhar dinheiro on-line,
mas Margaret Boribon, secretária-geral da organização de
jornais belgas, a Copiepresse,
defende que "a principal questão para nós é não termos gigantes nos matando".
Tradução de CLARA ALLAIN
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