São Paulo, sábado, 04 de abril de 2009

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Na crise, jornais crescem com inovações

Na Europa, empresas jornalísticas exploram a internet e diversificam publicações para aumentar circulação e receitas

Maior jornal da Europa, "Bild" cresce diante da crise e avalia a aquisição de títulos na Alemanha, no Leste Europeu e nos EUA


ERIC PFANNER
DO "NEW YORK TIMES", EM PARIS

Enquanto a contagem de mortos no setor americano de jornais aumentava em março, a empresa alemã Axel Springer, proprietária do "Bild", o maior jornal da Europa, anunciava o maior lucro de seus 62 anos.
Na sede da Springer em Berlim, não se ouvem discussões desesperadas sobre como sobreviver à recessão e à revolução digital. Em lugar disso, seu executivo-chefe, Mathias Döpfner, disse que está procurando oportunidades de expansão, buscando aquisições na Alemanha, no Leste Europeu e possivelmente até nos EUA.
"Não acredito no fim do jornalismo", disse Döpfner. "Pelo contrário, acho que a crise pode ter um impacto positivo. O número de atores vai diminuir, mas os mais fortes podem sair da crise mais estáveis."
Os jornais americanos são vistos em grande parte do mundo como o padrão de ouro do jornalismo. Mas o modelo econômico dos diários americanos parece estar falido. Embora boa parte da Europa enfrente iguais problemas, alguns publishers vêm encontrando maneiras inovadoras não apenas de sobreviver, mas de crescer diante da recessão e da internet.
A Axel Springer gera 14% de sua receita on-line, mais do que a maioria dos jornais americanos. Uma razão disso, segundo Döpfner, é que ousou competir com ela mesma. Em lugar de tentar proteger publicações existentes, vem adquirindo ou criando novas, algumas das quais distribuem conteúdo igual a públicos diferentes.
Em uma Redação em Berlim, por exemplo, jornalistas produzem textos para seis publicações, entre jornais e sites. Embora os anúncios tenham caído, a Springer compensa parte da queda elevando o preço de publicações como o popular "Bild", que vende mais de 3 milhões de exemplares.
Mas mesmo na Europa o cenário é difícil e, em alguns países, os jornais se encontram em situação pior do que nos Estados Unidos. Vários diários franceses continuam vivos à custa de subsídios públicos. No ultracompetitivo mercado britânico, os jornais nacionais estão lutando para ganhar dinheiro, enquanto os periódicos locais vêm desaparecendo.
Mas há sinais de vida jornalística no continente. A circulação dos jornais vem caindo mais lentamente que nos EUA. A maioria dos jornais foi menos afetada pela recessão que os diários americanos, porque dependem de seus leitores, mais que dos anunciantes, que tendem a ser mais volúveis.

Inovações
Embora ninguém tenha encontrado uma solução mágica, algumas empresas europeias acharam maneiras de fazer frente aos desafios. Na empresa de jornais Schibsted, sediada em Oslo (Noruega), as atividades on-line -que incluem jornais, sites de classificados e outros- garantem um quarto da receita da empresa e a grande maioria dos lucros.
O melhor desempenho on-line é do VG Nett, um site filiado, embora não estreitamente, ao jornal tabloide "Verdens Gang". O VG Nett tem margem de lucro de mais de 30% e concorre com o Google como o site mais popular da Noruega.
Como a maioria dos sites de jornais, o VG Nett gera a maior parte de sua receita com anúncios, mas começa a levantar dinheiro de seus usuários. Cerca de 150 mil pessoas pagam até 599 coroas -cerca de R$ 200- por ano para participar de um clube de emagrecimento.
Recentemente o VG Nett começou a cobrar até R$ 270 por ano dos usuários que assistem partidas de futebol ao vivo em vídeos de seu site. E uma rede social ligada ao VG Nett cobra dos usuários para atualizar seus perfis. Mas o acesso às notícias continua a ser gratuito.

Música
A inspiração para alternativas de financiamento também vem da indústria musical, um setor que perdeu mais de um quarto de suas vendas globais nos últimos dez anos. Ao lado dos destroços deixados pela pirataria digital, novos modelos econômicos estão emergindo no segmento, e a Europa está na vanguarda deles.
Poucos europeus se dispõem a pagar diretamente por música através de serviços como o iTunes, então, em vez disso, a indústria passou a empacotar os custos de música numa assinatura de banda larga, como fazem os canais de TV paga.
O Projeto de Excelência em Jornalismo, sediado em Washington, cético quanto à aplicação de micropagamentos de leitores a jornais, sugeriu que se ofereça acesso a sites de jornais em troca de uma taxa paga já ao provedor de acesso à internet.
Ainda no mundo virtual, a concorrência com o Google preocupa. Um grupo de jornais belgas conseguiu, há dois anos, que um tribunal determinasse ao Google que removesse o conteúdo deles de seu serviço Google News, que resume artigos de jornais e fornece links para os sites originais. Os jornais belgas argumentaram que o Google News violara seus direitos autorais. Recurso contra a decisão ainda será julgado.
Isso não tem ajudado os jornais a ganhar dinheiro on-line, mas Margaret Boribon, secretária-geral da organização de jornais belgas, a Copiepresse, defende que "a principal questão para nós é não termos gigantes nos matando".


Tradução de CLARA ALLAIN


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