|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
COMÉRCIO EXTERIOR
Para exportadores, desafio do governo é manter ganho real de 25% no câmbio; cotação está em R$ 1,72
Mercado já teme dólar abaixo de R$ 1,70
MARA LUQUET
Editora do Folhainvest
Observadores do mercado de
câmbio estão preocupados com o
dólar. Só que, desta vez, não é a alta
que preocupa, mas a queda acentuada que a moeda vem experimentando nos últimos dias.
Na última quarta-feira, o dólar
foi negociado a R$ 1,72. Para alguns economistas e exportadores,
o ideal é que sua cotação não fique
muito abaixo de R$ 1,70.
Na avaliação desses economistas, um dos grandes desafios para o
governo será o de manter uma desvalorização, já descontada a inflação do período, de 25% do real
frente ao dólar. Isso é necessário
para garantir o superávit comercial do país e dar tranquilidade para financiar seu passivo externo.
"É um grande desafio, porque a
tendência é de valorização do real,
ou seja, novas quedas na cotação
do dólar", diz Octávio de Barros,
economista-chefe do banco espanhol Bilbao Vizcaya. "O dólar deverá ser pressionado pela entrada
de capitais estrangeiros de curto
prazo", acrescenta.
O dólar barato não ajuda em nada a estimular as exportações e pode tornar ainda mais difícil alcançar superávit fiscal necessário para
não levar o país a ficar refém de capitais de curto prazo para financiar
seu passivo externo.
A meta de superávit comercial de
US$ 11 bilhões para este ano, como
quer o governo, é irreal, na avaliação de especialistas e até mesmo de
técnicos do próprio governo.
"Se conseguir fechar o ano de
1999 com um superávit comercial
de US$ 6 bilhões, já será um grande
feito", diz Alcindo Ferreira, ex-chefe do departamento de câmbio
do Banco Central e hoje um prestigiado consultor neste mercado.
"É difícil imaginar um crescimento de exportações de 10,5% no
ano", diz Barros, do Bilbao Vizcaya. Suas projeções indicam um aumento de 7% nas exportações este
ano e uma redução de 16% nas importações. O superávit ficaria em
1999, nas projeções de Barros, em
US$ 6,4 bilhões.
Papel da recessão
O preço do dólar e a redução no
nível da atividade econômica são,
basicamente, os dois pontos que
definem o volume de exportações
brasileiras. "A recessão é o que determina se vamos exportar mais
ou menos, porque não conquistamos novos mercados", diz Ferreira.
Segundo Roberto Padovani, consultor da Tendências, o preço em
queda das commodities agrícolas,
a recessão mundial e a perda de
importantes fatias de mercado de
exportadores brasileiros nos últimos anos são entraves para ver o
volume de exportações chegar ao
patamar desejado pelo governo.
Mesmo a importação, que deverá
recuar este ano e, portanto, contribuir favoravelmente para um superávit comercial, não terá redução forte o suficiente para que se
alcance a meta oficial.
Para uma recessão de 5% estimada por Padovani para este ano,
projeta-se uma queda de 16% nas
importações brasileiras. Para alcançar os US$ 11 bilhões de superávit, a redução das importações precisaria chegar a 28,5%. "Neste caso, precisaríamos de uma recessão
mais profunda", diz.
"Será necessário um esforço do
setor exportador que não se consegue no curto prazo", diz Padovani.
"O aumento significativo no saldo
deverá ser mais fácil no próximo
ano", acrescenta.
Nos últimos dez anos, a exportação de produtos básicos, que corresponde a 25% das exportações
brasileiras, cresceu de US$ 9,4 bilhões para US$ 13 bilhões, o que
significa uma taxa média de crescimento de apenas 3% ao ano.
Alcindo Ferreira observa também que a decisão de exportar ou
não de grandes empresas multinacionais não está no Brasil, mas na
matriz dessas empresas. Em 1998,
11% das exportações foi gerada por
sete multinacionais, sendo que
cinco são montadoras de automóveis.
Texto Anterior: Painel S/A Próximo Texto: Governo tenta atualizar modelo exportador Índice
|