São Paulo, Domingo, 04 de Abril de 1999
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COMÉRCIO EXTERIOR
Para exportadores, desafio do governo é manter ganho real de 25% no câmbio; cotação está em R$ 1,72
Mercado já teme dólar abaixo de R$ 1,70

MARA LUQUET
Editora do Folhainvest

Observadores do mercado de câmbio estão preocupados com o dólar. Só que, desta vez, não é a alta que preocupa, mas a queda acentuada que a moeda vem experimentando nos últimos dias.
Na última quarta-feira, o dólar foi negociado a R$ 1,72. Para alguns economistas e exportadores, o ideal é que sua cotação não fique muito abaixo de R$ 1,70.
Na avaliação desses economistas, um dos grandes desafios para o governo será o de manter uma desvalorização, já descontada a inflação do período, de 25% do real frente ao dólar. Isso é necessário para garantir o superávit comercial do país e dar tranquilidade para financiar seu passivo externo.
"É um grande desafio, porque a tendência é de valorização do real, ou seja, novas quedas na cotação do dólar", diz Octávio de Barros, economista-chefe do banco espanhol Bilbao Vizcaya. "O dólar deverá ser pressionado pela entrada de capitais estrangeiros de curto prazo", acrescenta.
O dólar barato não ajuda em nada a estimular as exportações e pode tornar ainda mais difícil alcançar superávit fiscal necessário para não levar o país a ficar refém de capitais de curto prazo para financiar seu passivo externo.
A meta de superávit comercial de US$ 11 bilhões para este ano, como quer o governo, é irreal, na avaliação de especialistas e até mesmo de técnicos do próprio governo.
"Se conseguir fechar o ano de 1999 com um superávit comercial de US$ 6 bilhões, já será um grande feito", diz Alcindo Ferreira, ex-chefe do departamento de câmbio do Banco Central e hoje um prestigiado consultor neste mercado.
"É difícil imaginar um crescimento de exportações de 10,5% no ano", diz Barros, do Bilbao Vizcaya. Suas projeções indicam um aumento de 7% nas exportações este ano e uma redução de 16% nas importações. O superávit ficaria em 1999, nas projeções de Barros, em US$ 6,4 bilhões.

Papel da recessão
O preço do dólar e a redução no nível da atividade econômica são, basicamente, os dois pontos que definem o volume de exportações brasileiras. "A recessão é o que determina se vamos exportar mais ou menos, porque não conquistamos novos mercados", diz Ferreira.
Segundo Roberto Padovani, consultor da Tendências, o preço em queda das commodities agrícolas, a recessão mundial e a perda de importantes fatias de mercado de exportadores brasileiros nos últimos anos são entraves para ver o volume de exportações chegar ao patamar desejado pelo governo.
Mesmo a importação, que deverá recuar este ano e, portanto, contribuir favoravelmente para um superávit comercial, não terá redução forte o suficiente para que se alcance a meta oficial.
Para uma recessão de 5% estimada por Padovani para este ano, projeta-se uma queda de 16% nas importações brasileiras. Para alcançar os US$ 11 bilhões de superávit, a redução das importações precisaria chegar a 28,5%. "Neste caso, precisaríamos de uma recessão mais profunda", diz.
"Será necessário um esforço do setor exportador que não se consegue no curto prazo", diz Padovani. "O aumento significativo no saldo deverá ser mais fácil no próximo ano", acrescenta.
Nos últimos dez anos, a exportação de produtos básicos, que corresponde a 25% das exportações brasileiras, cresceu de US$ 9,4 bilhões para US$ 13 bilhões, o que significa uma taxa média de crescimento de apenas 3% ao ano.
Alcindo Ferreira observa também que a decisão de exportar ou não de grandes empresas multinacionais não está no Brasil, mas na matriz dessas empresas. Em 1998, 11% das exportações foi gerada por sete multinacionais, sendo que cinco são montadoras de automóveis.


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