São Paulo, domingo, 4 de maio de 1997.

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IMÓVEIS
Secovi critica alteração que o Conselho Monetário Nacional fez no cálculo que define financiamentos obrigatórios para o setor habitacional
Bancos e construtoras disputam poupança

GABRIEL J. DE CARVALHO
da Redação

A enxurrada de recursos depositados nas cadernetas de poupança de novembro a fevereiro reanimou antiga disputa entre bancos e construtoras de imóveis.
O saldo do SBPE (Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo) pulou de R$ 52,6 bilhões para R$ 65,5 bilhões em apenas seis meses.
Durante quase todo o ano passado ele esteve estacionado na casa dos R$ 52 bilhões.
Essa reviravolta levou dirigentes de construtoras a esfregar as mãos de contentamento. Afinal, a base de cálculo de quanto os bancos precisam emprestar para o setor habitacional é justamente a média dos saldos em poupança.
A expectativa de receber mais alguns bilhões em crédito foi quebrada quando o Conselho Monetário Nacional, há cerca de dez dias, alterou a forma de cálculo do direcionamento de recursos da poupança para financiamentos habitacionais.
Para definir a base de cálculo dos 70% que devem ir para a habitação -15% são o compulsório, e os outros 15%, a faixa livre-, os bancos podem optar agora entre a média dos saldos em seis meses, como era antes, e a dos últimos 12.
"Ficamos surpresos. A resolução do CMN rebaixou a média", queixa-se Ricardo Yazbek, presidente do Secovi-SP (sindicato da habitação em São Paulo).
O Banco Central justificou a mudança com o mesmo argumento que os bancos costumam usar: a poupança tem prazo de 30 dias, enquanto os financiamentos imobiliários são de 10, 15 anos.
Nos bancos, há quem entenda que a alteração na base de cálculo foi inócua.
O raciocínio é o seguinte: a diferença entre a média de seis meses e a de 12 deve ser recolhida ao Banco Central para render TR mais 6% ao ano, como é o custo de captação da poupança.
Não haveria, portanto, qualquer lucro, e talvez gerasse até prejuízo porque existem outros custos, além dos 6% pagos ao poupador.
Então, seria melhor optar pela velha média dos seis meses, como se nada tivesse mudado, e emprestar normalmente para a habitação a 12% ao ano mais TR.
Yazbek considera o raciocínio razoável e espera que isso de fato aconteça. Mas revela certo ceticismo. "Ninguém no setor foi ouvido antes da mudança", reclama.

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