|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
MERCADO TENSO
Instituições recomendam papéis brasileiros; Santander discorda
Bancos não vêem contágio das eleições nos mercados
ANA PAULA RAGAZZI
DA REPORTAGEM LOCAL
O espanhol Santander foi o
quarto banco a reduzir suas recomendações de compra de títulos
brasileiros nesta semana.
Na contramão, JP Morgan,
Lloyds TSB, ING Barings, Barclays e Dresdner Bank mantiveram suas recomendações para esses papéis do Brasil ontem.
A manifestação desses bancos
acalmou o mercado, que encerrou de forma mais positiva uma
semana bastante turbulenta.
A Bovespa subiu 0,57%. O dólar
teve pequena alta de 0,46%, para
R$ 2,408. Os C-Bonds, títulos da
dívida externa brasileira, subiram
0,82%. O risco-país, medido pelo
índice Embi+, do JP Morgan, caiu
quatro pontos ou 0,45%, para 879
pontos.
Na segunda-feira, Merrill Lynch
e Morgan Stanley reduziram suas
recomendações para os títulos
brasileiros. Anteontem o ABN
Amro fez o mesmo. A justificativa
das instituições foram as incertezas políticas no país, com a melhora no desempenho do pré-candidato da oposição Luís Inácio
Lula da Silva (PT) nas pesquisas
de intenções de voto para as eleições presidenciais deste ano.
O Santander informou que sua
decisão nada teve a ver com o cenário político-eleitoral do país.
Pelo menos não diretamente. A
justificativa espanhola foi a onda
de pessimismo que tomou os
mercados em relação ao Brasil
após os anúncios de rebaixamentos feitos pelos outros três bancos.
Esses desencontros, que alternam pessimismo e otimismo, por
vezes extremados, são característicos do mercado. Ontem, em minutos, os indicadores financeiros
que projetavam mais um dia de
fortes perdas, se recuperaram.
"O mercado passou por um
ajuste, necessário há um bom
tempo. Os relatórios de bancos
são corriqueiros e não tiveram o
peso que está sendo atribuído a
eles", diz Alan Gandelman, da
corretora Ágora Sênior, de volta
ao Brasil após uma temporada no
banco de investimentos Goldman
Sachs. Ele lembra que, há um mês,
se falava em um otimismo que levou o dólar para baixo de R$ 2,30.
"Houve a crise do petróleo, com
os problemas no Oriente Médio, o
agravamento da situação argentina e o mercado praticamente ignorou. Agora incorpora isso e,
também, o mau desempenho do
candidato do governo," diz.
Dawber Gontijo, estrategista-chefe do HSBC, concorda: "O que
houve nos últimos dias foi um
pessimismo superdimensionado
por todos". Ainda segundo os
analistas, deve se ressaltar que nada impede que as avaliações desses bancos mudem em um mês.
"É como se os bancos tirassem
uma fotografia de um país", explica Gandelman. "A partir dela, eles
elaboram o relatório. O texto reflete apenas um momento isolado. Uma mudança de avaliação
vai depender do que uma nova foto revelar." Para ele, cabe discutir
se é correto ou não soltar uma
avaliação sobre um fato não consumado. "Faltam cinco meses para as eleições e elas não estão nem
ganhas nem perdidas para o governo. E, qualquer que seja o candidato eleito, não há nenhum sinal concreto hoje de que ele irá
promover uma ruptura com a
atual política econômica".
Um indicativo do quanto a avaliação de um banco de investimento pode ser efêmera foi dado
ontem pelo próprio Merrill
Lynch. Após rebaixar a recomendação para títulos brasileiros, a
instituição manteve sua recomendação positiva para a compra de
ações de empresas do Brasil.
O estrategista de renda variável
para a América Latina da Merrill
Lynch, Robert Berges, em entrevista à Folha afirmou que a decisão sobre os títulos se baseia no curtíssimo prazo. "Minha avaliação sobre o mercado de ações brasileiro abrange um horizonte maior, de três a seis meses. Acredito que José Serra [PSDB] vencerá a eleição, que os preços do petróleo irão se estabilizar e haverá espaço para a redução dos juros e para a melhora do risco do país."
Texto Anterior: Empate: Bancos se contradizem, mercado se acalma Próximo Texto: Análise de instituições é precipitada, diz Malan Índice
|