São Paulo, sábado, 04 de maio de 2002

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MERCADO TENSO

Instituições recomendam papéis brasileiros; Santander discorda

Bancos não vêem contágio das eleições nos mercados

ANA PAULA RAGAZZI
DA REPORTAGEM LOCAL

O espanhol Santander foi o quarto banco a reduzir suas recomendações de compra de títulos brasileiros nesta semana.
Na contramão, JP Morgan, Lloyds TSB, ING Barings, Barclays e Dresdner Bank mantiveram suas recomendações para esses papéis do Brasil ontem.
A manifestação desses bancos acalmou o mercado, que encerrou de forma mais positiva uma semana bastante turbulenta.
A Bovespa subiu 0,57%. O dólar teve pequena alta de 0,46%, para R$ 2,408. Os C-Bonds, títulos da dívida externa brasileira, subiram 0,82%. O risco-país, medido pelo índice Embi+, do JP Morgan, caiu quatro pontos ou 0,45%, para 879 pontos.
Na segunda-feira, Merrill Lynch e Morgan Stanley reduziram suas recomendações para os títulos brasileiros. Anteontem o ABN Amro fez o mesmo. A justificativa das instituições foram as incertezas políticas no país, com a melhora no desempenho do pré-candidato da oposição Luís Inácio Lula da Silva (PT) nas pesquisas de intenções de voto para as eleições presidenciais deste ano.
O Santander informou que sua decisão nada teve a ver com o cenário político-eleitoral do país. Pelo menos não diretamente. A justificativa espanhola foi a onda de pessimismo que tomou os mercados em relação ao Brasil após os anúncios de rebaixamentos feitos pelos outros três bancos.
Esses desencontros, que alternam pessimismo e otimismo, por vezes extremados, são característicos do mercado. Ontem, em minutos, os indicadores financeiros que projetavam mais um dia de fortes perdas, se recuperaram.
"O mercado passou por um ajuste, necessário há um bom tempo. Os relatórios de bancos são corriqueiros e não tiveram o peso que está sendo atribuído a eles", diz Alan Gandelman, da corretora Ágora Sênior, de volta ao Brasil após uma temporada no banco de investimentos Goldman Sachs. Ele lembra que, há um mês, se falava em um otimismo que levou o dólar para baixo de R$ 2,30.
"Houve a crise do petróleo, com os problemas no Oriente Médio, o agravamento da situação argentina e o mercado praticamente ignorou. Agora incorpora isso e, também, o mau desempenho do candidato do governo," diz.
Dawber Gontijo, estrategista-chefe do HSBC, concorda: "O que houve nos últimos dias foi um pessimismo superdimensionado por todos". Ainda segundo os analistas, deve se ressaltar que nada impede que as avaliações desses bancos mudem em um mês.
"É como se os bancos tirassem uma fotografia de um país", explica Gandelman. "A partir dela, eles elaboram o relatório. O texto reflete apenas um momento isolado. Uma mudança de avaliação vai depender do que uma nova foto revelar." Para ele, cabe discutir se é correto ou não soltar uma avaliação sobre um fato não consumado. "Faltam cinco meses para as eleições e elas não estão nem ganhas nem perdidas para o governo. E, qualquer que seja o candidato eleito, não há nenhum sinal concreto hoje de que ele irá promover uma ruptura com a atual política econômica".
Um indicativo do quanto a avaliação de um banco de investimento pode ser efêmera foi dado ontem pelo próprio Merrill Lynch. Após rebaixar a recomendação para títulos brasileiros, a instituição manteve sua recomendação positiva para a compra de ações de empresas do Brasil.
O estrategista de renda variável para a América Latina da Merrill Lynch, Robert Berges, em entrevista à Folha afirmou que a decisão sobre os títulos se baseia no curtíssimo prazo. "Minha avaliação sobre o mercado de ações brasileiro abrange um horizonte maior, de três a seis meses. Acredito que José Serra [PSDB] vencerá a eleição, que os preços do petróleo irão se estabilizar e haverá espaço para a redução dos juros e para a melhora do risco do país."



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