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LUÍS NASSIF
A ciranda dos juros
O economista , ligado a
uma consultoria conhecida, é bastante requisitado pela
mídia por estar em permanente
disponibilidade para entrevistas. É entrevistado em um programa de rádio por um comentarista arguto. O tema são os juros.
Sua opinião é a de que os juros precisam ficar altos agora,
porque para o segundo semestre
as expectativas são otimistas,
mas no momento a realidade
não é, com a inflação em alta e
a crise internacional campeando.
Então no segundo semestre o
Banco Central poderá baixar os
juros, caso as expectativas positivas se concretizem? Também
não, porque provavelmente o
dólar vai subir, por conta das
eleições, pressionando a inflação no primeiro semestre de
2003.
Ou seja, expectativa positiva
não pode reduzir juros porque a
realidade é negativa. E realidade positiva não pode reduzir juros porque a expectativa é negativa. Além disso, o quadro internacional é "complicadíssimo".
Mas como complicadíssimo, se
os últimos indicadores demonstram recuperação das economias norte-americana e européia? Ah, mas essa recuperação
é feita em cima de endividamento das empresas e, quando
cessar essa bolha, volta a crise.
O que os juros altos têm a ver
com a crise norte-americana,
não se ouse indagar. O que está
em questão é essa visão extraordinariamente parcial segundo
a qual, em qualquer hipótese, os
juros precisam ser altos.
Tudo dito com uma segurança inacreditável. A economia é
composta de um conjunto de
forças e contraforças. Podem-se
relacionar dez elementos que
justificariam a queda dos juros
e dez que justificariam a sua
manutenção. O especialista
competente e isento consegue
estabelecer as correlações, estabelecer as medidas e definir
qual tendência prevalecerá.
Os mais ouvidos -justamente por sua capacidade de simplificar tudo- são aqueles que relacionam as variáveis que lhes
interessam, sonegando as que
vão contra a tese defendida.
Em momentos de turbulência,
a elevação das taxas de juros
em si, não necessariamente o
nível dos juros, tem efeito pedagógico. Por isso mesmo, em momentos de calmaria, a prioridade número um do BC deveria
ser derrubar o mais rapidamente possível as taxas, até para poder suspendê-las em momentos
de instabilidade, mas partindo
de um patamar moderado.
Agora o mercado começou o
jogo da volatilidade, com essas
interpretações sobre a ascensão
de Lula nas eleições. E o que fará o BC? Suspenderá os juros,
partindo de uma base bastante
alta, em um momento em que
são justamente as elevadas taxas de juros que impedem a recuperação da economia e da própria popularidade do governo.
E-mail - lnassif@uol.com.br
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