São Paulo, sábado, 04 de maio de 2002

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LUÍS NASSIF

A ciranda dos juros

O economista , ligado a uma consultoria conhecida, é bastante requisitado pela mídia por estar em permanente disponibilidade para entrevistas. É entrevistado em um programa de rádio por um comentarista arguto. O tema são os juros.
Sua opinião é a de que os juros precisam ficar altos agora, porque para o segundo semestre as expectativas são otimistas, mas no momento a realidade não é, com a inflação em alta e a crise internacional campeando.
Então no segundo semestre o Banco Central poderá baixar os juros, caso as expectativas positivas se concretizem? Também não, porque provavelmente o dólar vai subir, por conta das eleições, pressionando a inflação no primeiro semestre de 2003.
Ou seja, expectativa positiva não pode reduzir juros porque a realidade é negativa. E realidade positiva não pode reduzir juros porque a expectativa é negativa. Além disso, o quadro internacional é "complicadíssimo". Mas como complicadíssimo, se os últimos indicadores demonstram recuperação das economias norte-americana e européia? Ah, mas essa recuperação é feita em cima de endividamento das empresas e, quando cessar essa bolha, volta a crise.
O que os juros altos têm a ver com a crise norte-americana, não se ouse indagar. O que está em questão é essa visão extraordinariamente parcial segundo a qual, em qualquer hipótese, os juros precisam ser altos.
Tudo dito com uma segurança inacreditável. A economia é composta de um conjunto de forças e contraforças. Podem-se relacionar dez elementos que justificariam a queda dos juros e dez que justificariam a sua manutenção. O especialista competente e isento consegue estabelecer as correlações, estabelecer as medidas e definir qual tendência prevalecerá.
Os mais ouvidos -justamente por sua capacidade de simplificar tudo- são aqueles que relacionam as variáveis que lhes interessam, sonegando as que vão contra a tese defendida.
Em momentos de turbulência, a elevação das taxas de juros em si, não necessariamente o nível dos juros, tem efeito pedagógico. Por isso mesmo, em momentos de calmaria, a prioridade número um do BC deveria ser derrubar o mais rapidamente possível as taxas, até para poder suspendê-las em momentos de instabilidade, mas partindo de um patamar moderado.
Agora o mercado começou o jogo da volatilidade, com essas interpretações sobre a ascensão de Lula nas eleições. E o que fará o BC? Suspenderá os juros, partindo de uma base bastante alta, em um momento em que são justamente as elevadas taxas de juros que impedem a recuperação da economia e da própria popularidade do governo.

E-mail - lnassif@uol.com.br



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