São Paulo, sábado, 04 de maio de 2002

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País precisa de menos empréstimos em 2003

LEONARDO SOUZA
NEY HAYASHI DA CRUZ

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Brasil vai precisar captar em 2003, entre empréstimos e investimentos diretos na economia, cerca de US$ 43 bilhões no mercado internacional para fechar suas contas externas. O valor, obtido a partir de estimativas feitas pelo Banco Central e pelo mercado, é 10% menor do que os US$ 47,7 bilhões que devem ser necessários neste ano.
No mercado interno, serão R$ 142,247 bilhões de títulos públicos federais (que representam dívida) que terão de ser renovados no ano que vem, contra R$ 176,9 estimados para 2002.
Se a rolagem da dívida do país dependesse somente do total a ser pago, o próximo presidente iniciaria seu mandato sem maiores dificuldades para lidar com os credores externos e internos do Brasil. Mas o que determinará o maior ou menor grau de dificuldade para financiar as contas externas e interna do país será o juro que os credores cobrarão para continuar a emprestar ao país, dado o risco que o novo governo representará para o pagamento de suas dívidas.
"O tom dos candidatos [à Presidência da República" quanto ao que farão em relação à rolagem das dívidas vai contribuir para a definição de juros maiores ou menores. Evidentemente, se o discurso for o de penalizar o credor, ele ficará refratário a emprestar ao país", disse Octavio de Barros, economista-chefe do BBV Banco.
Ou seja, quanto maior a aversão do investidor estrangeiro, mais altos serão os juros cobrados do tomador do crédito (o Brasil).
A maior parte do endividamento externo do país hoje é do setor privado, e não do público. Dos US$ 26,114 bilhões de amortizações para este ano, US$ 16,677 bilhões são do setor privado.
Juros altos inibem o tomador privado a renovar seus empréstimos no exterior. Muitos optam por buscar o crédito no mercado local, em reais. Menor ingresso de dólares na economia pode significar maior pressão sobre o câmbio. Depreciações da moeda costumam representar aumento da inflação. Inflação mais alta dá menos espaço ao BC para reduzir os juros básicos da economia.
Numa situação como essa, o endividamento sobe por dois lados. No primeiro, a dívida lá fora aumenta pois os juros cobrados para renová-la são maiores. No mercado interno, a parcela da dívida atrelada a moeda estrangeira e a pós-fixada (corrigida a juros de mercado) se elevam.
Segundo dados do BBV Banco, a taxa de renovação dos empréstimos privados externos em março estava em 68,5%. Naquele mês, o dólar manteve-se praticamente estável, entre outros motivos, porque o ingresso de investimento direto no país tem se mantido alto, garantindo boa quantidade de dólares na economia para cobrir as contas externas.
Mas a taxa de juros cobrada no exterior para a negociação dos títulos brasileiros tem subido nos últimos dias. Também contribuiu para a piora do quadro brasileiro o aumento da inflação acima do previsto pelo governo, o que fez o BC a segurar a baixa de juros.
A necessidade de financiamento externo de um país é calculada com base nos gastos com o pagamento de parcelas da dívida externa e no déficit em transações correntes.



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