São Paulo, sábado, 04 de maio de 2002

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Exportador brasileiro renegocia com vizinho

LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Para evitar maiores prejuízos com as vendas à Argentina, os exportadores brasileiros partiram para a renegociação de prazos e redução dos juros cobrados de seus compradores. As companhias nacionais ainda têm a receber cerca de US$ 500 milhões dos importadores argentinos, segundo a AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil).
A maior dificuldade hoje em receber é que muitas empresas argentinas estão quebradas ou com grave problema de caixa (sem recursos disponíveis). "Não há outro jeito, temos de negociar. A situação lá é seriíssima", disse José Rubens de la Rosa, diretor-geral da Marcopolo, fabricante de ônibus que teve em 2001 faturamento líquido de R$ 1,05 bilhão.
"Sem dúvida, muitos importadores já quebraram. Eles compravam mercadoria à relação de um para um [um dólar valia um peso", agora devem três para um [para cada dólar de dívida são necessários três pesos". O maior problema agora é do importador", diz José Augusto de Castro, diretor da AEB.
Segundo De la Rosa, a Marcopolo tem ampliado os prazos de pagamento para os exportadores e reduzido os juros cobrados.
Pelo balanço de 2001, a empresa ainda tinha R$ 34 milhões a receber de companhias argentinas. De la Rosa ressalta que a empresa tem algumas vantagens em relação a outros exportadores. "Temos garantias para todas as vendas. Em último caso, podemos retomar os ônibus. Além disso, nossos compradores estão com seus ônibus rodando. É um cliente que sempre arrecada. O caso é dar prazo para eles pagarem."
O setor calçadista tem sido um dos mais prejudicados com a crise argentina. O país vizinho representava aproximadamente 11% das exportações do setor, que no ano passado somaram US$ 1,6 bilhão. "Depois da desvalorização do peso, eles [os importadores" ficaram sem condições de pagar. Estamos renegociando os prazos", disse Ênio Schein, vice-presidente da Abicalçados (Associação Brasileira das Indústrias de Calçados).
Segundo Schein, ainda não se pode falar em perdas para o setor justamente porque os exportadores estão concedendo mais tempo para que os compradores retomem os pagamentos. De acordo com ele, a grande maioria dos empresários não chegará nem a cobrar juros dos importadores.
Para De la Rosa, o governo tem de acelerar a implantação do novo modelo de CCR (Convênio de Crédito Recíproco) -um tipo de seguro que garante o pagamento das exportações dos países conveniados- para que o comércio entre os dois países seja reativado.
Em maio de 2000, o Banco Central do Brasil limitou as operações de comércio por esse mecanismo a valores de até US$ 100 mil e a prazos de financiamento de até um ano. Por isso, o CCR é praticamente inexistente hoje.



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