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OPINIÃO ECONÔMICA
Governo rico, povo pobre
ABRAM SZAJMAN
Quando se afirma que o
Brasil tem uma das mais altas cargas tributárias do mundo e
que os mais pobres pagam, proporcionalmente à sua renda,
mais imposto que os ricos, nem
sempre é possível ter presente as
exatas quantidades de dinheiro e
de pessoas envolvidas nesse tipo
de análise.
Ao permitir comparações entre
a arrecadação de tributos, os gastos do governo e das famílias brasileiras, o software ProConsumo,
desenvolvido pela Fecomercio
em parceria com a Tendências
Consultoria, revelou que os impostos diretos como o IR (Imposto de Renda), o IPVA (Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores) e o IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano) já representam o quinto
maior grupo de despesas da população.
Com efeito, os gastos com impostos somam R$ 35 bilhões por
ano ou R$ 2,9 bilhões mensais,
superiores às despesas com vestuário (R$ 2,8 bilhões mensais) e
educação (R$ 2,1 bilhões mensais) e abaixo apenas de habitação, alimentação, transporte e
saúde, que, nessa ordem, ocupam os quatro primeiros lugares.
Esse ranking registra apenas os
impostos diretos. É impossível
saber com exatidão o quanto é
dragado pelos tributos indiretos,
pois incidem nos diversos produtos e serviços com alíquotas
muito diferentes. Se considerarmos que os preços trazem embutidos, em média, cerca de 30% de
impostos e aplicarmos esse percentual sobre o total das despesas
das famílias (R$ 62,7 bilhões
mensais), teremos ao menos R$
19 bilhões gastos todos os meses
com a tributação indireta, o que
desbancaria a habitação e seus R$
18,2 bilhões do primeiro lugar.
Somando os impostos diretos
aos indiretos, mais as contribuições e taxas, chegamos aos quase
40% do PIB que a carga tributária
representa hoje, o que nos coloca
no patamar dos países escandinavos na hora de pagar ao Estado, embora não ultrapassemos
em muito as nações africanas na
qualidade dos serviços públicos.
Em 2004, a renda das famílias
que vivem com até dois salários
mínimos por mês foi de R$ 3,5 bilhões mensais, enquanto as receitas fiscais do Tesouro totalizaram
R$ 28,5 bilhões por mês. Isso significa que só o governo federal
arrecada por mês aquilo que 54
milhões de pessoas levam oito
meses para ganhar. E, na hora de
gastar, a União despende R$ 7,3
bilhões com salários e encargos
de seus funcionários, mais que o
dobro do que os menos favorecidos dispõem para sobreviver.
Se houvesse uma redução de
12,5% na carga tributária, sobrariam recursos para dobrar a capacidade de consumo da classe E
(renda familiar de até dois mínimos). Em outra comparação, o
total arrecadado em impostos
apenas pelo governo federal é
maior que a soma dos rendimentos dos brasileiros que ganham
até dez salários mínimos.
Quando verificamos que os recursos direcionados mensalmente para o Tesouro Nacional eqüivalem aos ganhos somados de
143 milhões de pessoas (82% da
população), torna-se inevitável a
constatação: ou o Estado brasileiro arrecada em demasia, ou os
trabalhadores ganham muito
pouco, ou ambas as coisas, uma
em decorrência da outra.
A conclusão é que os recursos
drenados pelo Estado são os que
faltam para aumentar a renda
dos consumidores e ativar as
vendas do comércio, a geração de
empregos e até a própria arrecadação, que deveria se pautar pelo
princípio de tirar pouco de muitos, em vez de fazer o oposto.
O Brasil tem, de fato, um mercado consumidor invejável, mas
mantém a imensa maioria da população alijada do processo de
consumo ou condenada ao subconsumo. Esse mercado potencial deveria receber maior atenção da política econômica.
Quando o Plano Real acabou
com o imposto inflacionário, aumentou a renda da população de
menor poder aquisitivo. O mesmo pode voltar a ocorrer se a carga tributária se reduzir ou, ao
menos, se o seu resultado for devolvido à população por meio de
programas sociais, em vez de
sustentar uma máquina governamental perdulária e ineficiente.
Abram Szajman, 65, é empresário é
presidente da Federação e do Centro do
Comércio do Estado de São Paulo e presidente do Conselho de Administração
do Grupo VR.
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