|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
TENSÃO ENTRE VIZINHOS
PDVSA tem técnicos no país e ajuda estatal boliviana; ministro diz que Venezuela fará investimentos
Estatal venezuelana auxilia nacionalização
FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A SANTA CRUZ DE LA SIERRA
O governo boliviano tem utilizado funcionários da estatal venezuelana PDVSA para fazer levantamentos técnicos e vistoriar as
operações de empresas multinacionais que atuam no país, segundo avaliação interna da Petrobras
Bolívia, que vê uma "predominância" dessa empresa na debilitada YPFB (Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos), a estatal
boliviana.
"Os funcionários da YPFB estão
sendo apoiados técnica e logisticamente por um contingente da
PDVSA", disse à Folha um funcionário da Petrobras Bolívia, sob
a condição do anonimato. Segundo ele, em várias ocasiões, funcionários da Petrobras testemunharam a presença de assessores da
estatal venezuelana nas oficinas
da YPFB em La Paz, embora não
tenham se reunido formalmente
com eles.
"No caso da Petrobras Refinación, nos foi solicitado o ingresso
do pessoal da PDVSA nas refinarias", disse esse funcionário, que
não soube informar se o pedido
havia sido aceito. A solicitação,
segundo ele, foi feita utilizando o
nome da YPFB.
Outro funcionário da Petrobras
confirmou à Folha que uma comitiva de três técnicos da YPFB e
três da PDVSA estiveram na refinaria da Petrobras em Cochabamba sob o pretexto de uma inspeção. De acordo com o decreto
de nacionalização de segunda-feira, essa planta e a refinaria da estatal brasileira em Santa Cruz passarão a ter o controle acionário do
Estado boliviano.
"Em Santa Cruz, chegou uma
comitiva de 26 venezuelanos da
PDVSA antes das medidas. E antes eles haviam visitado todas as
instalações petrolíferas da Bolívia", disse esse funcionário.
Em sua interpretação pessoal, a
PDVSA ajudou a nacionalização
ao assegurar o suporte técnico para a operação.
O presidente da YPFB, Jorge Alvarado, confirmou a presença de
técnicos da PDVSA no país, mas
ele disse que são apenas 12 no momento e que a missão deles não é
auxiliar o governo boliviano, mas
avaliar futuros investimentos no
país.
"Existem convênios com a
PDVSA para ela participar em
projetos em toda a cadeia hidrocarbonífera. Por isso, os técnicos
venezuelanos estão aqui, avaliando a informação que temos para
participar na exploração, produção e industrialização. A PDVSA
fará investimentos em toda a cadeia", afirmou ontem.
Uma das grandes beneficiadas
pela alta do petróleo, a PDVSA
(Petroleros de Venezuela S.A.), é
bem maior do que a Petrobras: é a
quarta maior do setor no mundo,
com vendas de US$ 46 bilhões em
2003. A estatal brasileira é a 15ª
maior, segundo a publicação "Petroleum Intelligence Weekly".
O faturamento da PDVSA tem
sido instrumento do presidente
Hugo Chávez para financiar a
chamada "petrodiplomacia".
Em contrapartida, a YPFB é a
grande prima pobre das três empresas, dispondo atualmente de
apenas 650 funcionários (a Petrobras Bolívia tem 838), quase todos
empregados na burocracia. Uma
das prioridades do governo Evo
Morales é promover a chamada
refundação da estatal.
O ministro de Hidrocarbonetos
da Bolívia, Andrés Soliz, anunciou ontem que a YPFB deve fechar nos próximos dias um acordo com a PDVSA para instalação
de uma indústria separadora de
gás no departamento (Estado) de
Santa Cruz.
Texto Anterior: Tarso descarta "postura imperial" Próximo Texto: Frase Índice
|