São Paulo, quinta-feira, 04 de maio de 2006

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TENSÃO

Só dois dias depois, EUA reagem a Evo Morales

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

Coerente com a falta de política do governo Bush para a América Latina, os Estados Unidos demoraram dois dias para reagir à nacionalização do gás na Bolívia. Mesmo assim, indiretamente.
A secretária de Estado, Condoleezza Rice, citou o perigo de "demagogos e autoritários" no continente, em discurso em reunião no Conselho das Américas, ontem pela manhã, em Washington.
As nações e as organizações regionais devem atuar decididamente para evitar que os avanços do desenvolvimento democrático sejam arruinados por "demagogos ou ditadores", disse.
A população está impaciente para ver os resultados de décadas de espera de desenvolvimento na região e não pode viver somente de "esperança", mas não deve se sentir "abandonada" à sorte destes. Para a secretária, todo o continente "marcha para a democracia", com exceção de Cuba.
Para Washington, liderados ideologicamente por Fidel Castro, de Cuba, Hugo Chávez, da Venezuela, e Evo Morales, da Bolívia, representam uma guinada perigosa do continente rumo à esquerda populista, que pode ser seguida por Peru e México, que passam por eleições neste ano.
Com ela concordaria o subsecretário para assuntos da região, Thomas Shannon, tanto no discurso que antecedeu a chefe quanto em entrevista em seu gabinete. "A Bolívia deu passos que vão ter conseqüências interessantes na região. Não sabemos ainda quais, mas há obviamente países que serão bastante afetados pelas iniciativas adotadas."
No momento do discurso da manhã em que o governo de Evo Morales foi citado mais diretamente, Shannon disse que a falta de resposta aos direitos da população "propiciou o surgimento de um novo populismo, especialmente na zona andina". E que, diferentemente do populismo do passado, este "leva consigo um certo nível de ressentimento social, o que é preocupante".

Agência de energia
A nacionalização dos hidrocarbonetos pela Bolívia enviou mensagem preocupante às empresas de petróleo que pode reduzir o investimento na América Latina se outros países seguirem o exemplo, disse ontem a AIE (Agência Internacional de Energia).
O órgão disse que alguns países da região estão "embarcando em um caminho perigoso" ao alterar sua relação com multinacionais de energia.
William Ramsay, vice-diretor da AIE, advertiu para que o país governado por Evo Morales não siga o exemplo da Venezuela. "Se você não chegar ao equilíbrio correto entre interesses das empresas e do país, no final o país perderá. Veja a capacidade de produção da Venezuela: caiu dramaticamente. Esse é o preço", disse ele.
Já o governo espanhol anunciou que vai enviar uma delegação político-técnica à Bolívia para esclarecer o alcance da nacionalização.


Colaborou a Redação


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