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TENSÃO
Só dois dias depois, EUA reagem a Evo Morales
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
Coerente com a falta de política
do governo Bush para a América
Latina, os Estados Unidos demoraram dois dias para reagir à nacionalização do gás na Bolívia.
Mesmo assim, indiretamente.
A secretária de Estado, Condoleezza Rice, citou o perigo de "demagogos e autoritários" no continente, em discurso em reunião no
Conselho das Américas, ontem
pela manhã, em Washington.
As nações e as organizações regionais devem atuar decididamente para evitar que os avanços
do desenvolvimento democrático
sejam arruinados por "demagogos ou ditadores", disse.
A população está impaciente
para ver os resultados de décadas
de espera de desenvolvimento na
região e não pode viver somente
de "esperança", mas não deve se
sentir "abandonada" à sorte destes. Para a secretária, todo o continente "marcha para a democracia", com exceção de Cuba.
Para Washington, liderados
ideologicamente por Fidel Castro,
de Cuba, Hugo Chávez, da Venezuela, e Evo Morales, da Bolívia,
representam uma guinada perigosa do continente rumo à esquerda populista, que pode ser seguida por Peru e México, que passam por eleições neste ano.
Com ela concordaria o subsecretário para assuntos da região,
Thomas Shannon, tanto no discurso que antecedeu a chefe
quanto em entrevista em seu gabinete. "A Bolívia deu passos que
vão ter conseqüências interessantes na região. Não sabemos ainda
quais, mas há obviamente países
que serão bastante afetados pelas
iniciativas adotadas."
No momento do discurso da
manhã em que o governo de Evo
Morales foi citado mais diretamente, Shannon disse que a falta
de resposta aos direitos da população "propiciou o surgimento de
um novo populismo, especialmente na zona andina". E que, diferentemente do populismo do
passado, este "leva consigo um
certo nível de ressentimento social, o que é preocupante".
Agência de energia
A nacionalização dos hidrocarbonetos pela Bolívia enviou mensagem preocupante às empresas
de petróleo que pode reduzir o investimento na América Latina se
outros países seguirem o exemplo, disse ontem a AIE (Agência
Internacional de Energia).
O órgão disse que alguns países
da região estão "embarcando em
um caminho perigoso" ao alterar
sua relação com multinacionais
de energia.
William Ramsay, vice-diretor
da AIE, advertiu para que o país
governado por Evo Morales não
siga o exemplo da Venezuela. "Se
você não chegar ao equilíbrio correto entre interesses das empresas
e do país, no final o país perderá.
Veja a capacidade de produção da
Venezuela: caiu dramaticamente.
Esse é o preço", disse ele.
Já o governo espanhol anunciou
que vai enviar uma delegação político-técnica à Bolívia para esclarecer o alcance da nacionalização.
Colaborou a Redação
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