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TENSÃO ENTRE VIZINHOS
Países mais pobres do bloco negociam reformulação que lhes permita atrair mais investimentos
Uruguai e Paraguai querem mudar Mercosul
LÉO GERCHMANN
DA AGÊNCIA FOLHA, EM MONTEVIDÉU
Uruguai e Paraguai negociam
uma reformulação no Mercosul
para permitir que, como membros mais pobres, possam atrair
investimentos externos importantes em suas economias. Enquanto Brasil e Argentina têm
realizado freqüentes reuniões bilaterais, eles já promovem contatos paralelos.
Os contatos foram confirmados
pela chancelaria paraguaia. ""É necessário aprofundar o Mercosul",
disse o vice-chanceler paraguaio,
Rúben Lescano, que vê uma ""conjuntura crítica em razão da falta
de instrumentos para a construção comunitária" referente a
acordos externos.
Já na noite de segunda, quando
a imprensa uruguaia divulgou a
possibilidade de o país mudar de
status no Mercosul (deixando de
ser membro pleno e passando a
mero sócio), o chanceler uruguaio, Geraldo Gargano, telefonou de Washington (onde está
com o presidente Tabaré Vázquez) para a chanceler paraguaia,
Leila Rachid, informando-lhe da
intenção de mudar o bloco, mas
sem deixá-lo. Rachid concordou.
A Folha tentou ontem detalhar
os contatos com a vice-chanceler
uruguaia, Belela Herrera, autoridade diplomática mais graduada
em Montevidéu enquanto Gargano está em Washington, mas ela
não pôde atender.
Uruguai e Paraguai esperam
com discrição os desdobramentos. Hoje, Vázquez concede entrevista na Casa Branca, após reunião de negócios com o presidente dos EUA, George W. Bush.
Uruguaios e paraguaios consideram o Mercosul, apesar de todas as restrições ao atual modelo,
a fórmula adequada para fortalecer a região. Para ilustrar a crítica
predominante ao bloco, a economista Dolores Benavente, assessora da Câmara de Comércio uruguaia, diz: ""O Mercosul é como
uma família: o Brasil é o pai; a Argentina, a mãe; Uruguai e Paraguai, os filhos. Um pai não desautoriza uma mãe", disse.
O problema para o Uruguai é
que seus contatos com EUA, Europa, Cuba, China e Índia podem
inviabilizar sua presença no bloco. Aprovada há seis anos para
evitar assédios, a Resolução 32 estipula que os membros plenos
não poderão negociar acordos individualmente. Além disso, para
deixar de ser membro pleno e
passar a mero associado, o Uruguai precisa da concordância de
Brasil, Argentina e Paraguai.
O fundamento legal para a
eventual decisão de mudar para
sócio está no artigo 21 do Tratado
de Assunção. O artigo 22 completa: deve haver negociação de 60
dias para se concretizar a liberação do tratado, após o pedido.
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