São Paulo, quinta-feira, 04 de maio de 2006

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TRABALHO

Para o ministro, Volks pode usar as demissões como estratégia a fim de pressionar o governo em ano eleitoral

Defasagem cambial é "desculpa", diz Marinho

SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministro do Trabalho, Luiz Marinho, minimizou os problemas com a valorização do real em relação ao dólar alegados pela Volkswagen para justificar o corte de 6.000 funcionários no Brasil nos próximos dois anos, mas sinalizou com ajuda do governo.
Apesar de afirmar que a defasagem cambial é uma "desculpa" da empresa que está fazendo uma reestruturação mundial, o ministro disse que o governo está disposto a discutir o efeito da taxa de câmbio nas exportações do setor e insinuou que o anúncio pode ser uma estratégia para pressionar o governo num período eleitoral.
"Se o problema é o câmbio, estamos abertos para analisar possibilidades que estejam à disposição do setor, para verificar a retração nas exportações automotivas." Ele ressaltou que qualquer saída, nesse caso, não seria isolada para a empresa e, sim, direcionada a todo o segmento. "Assim como não há dinheiro público para a Varig, não há para a Volks. Se houver algo, será para um conjunto da economia."
Dizendo que está calejado nesse tipo de negociação, Marinho acredita que a decisão da Volks pode ter "algo mais" por trás, como alguma demanda ou a tentativa de pressionar o governo em período de eleição. "Sou calejado [nesse tipo de conversa]. Às vezes, eles [os empresários] "trucam" primeiro para depois apresentar o pleito", disse, referindo-se ao jogo de cartas em que um jogador blefa para intimidar o adversário.
Para ele, essa não é primeira crise da empresa e nem será a última. "A Volks é a maior do setor, vem perdendo participação no mercado e se ajustando ao longo dos anos. Preciso ver se o tamanho [das demissões anunciadas] é o que eles precisam ou se querem aproveitar a conjuntura para forçar o governo a discutir política para o setor."
Se o problema da montadora é o nível do câmbio no Brasil, "por que a empresa vai demitir também na Alemanha e em outros países?", questionou ele, acrescentando que "então o problema não é com o cambio brasileiro".
O ministro disse que irá procurar o presidente da empresa no Brasil e os representantes do sindicato dos metalúrgicos do ABC "para entender o problema" e, irritado, ironizou: "Essa é a desculpa da Volks [o câmbio]. Precisamos saber se é verdade ou se é um balão de ensaio. Se é uma reestruturação global, não há o que fazer. Mas a Volks não deve dizer que o problema é cambial; eles que assumam os problemas deles".


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