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TRABALHO
Para o ministro, Volks pode usar as demissões como estratégia a fim de pressionar o governo em ano eleitoral
Defasagem cambial é "desculpa", diz Marinho
SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O ministro do Trabalho, Luiz
Marinho, minimizou os problemas com a valorização do real em
relação ao dólar alegados pela
Volkswagen para justificar o corte
de 6.000 funcionários no Brasil
nos próximos dois anos, mas sinalizou com ajuda do governo.
Apesar de afirmar que a defasagem cambial é uma "desculpa" da
empresa que está fazendo uma
reestruturação mundial, o ministro disse que o governo está disposto a discutir o efeito da taxa de
câmbio nas exportações do setor e
insinuou que o anúncio pode ser
uma estratégia para pressionar o
governo num período eleitoral.
"Se o problema é o câmbio, estamos abertos para analisar possibilidades que estejam à disposição do setor, para verificar a retração nas exportações automotivas." Ele ressaltou que qualquer
saída, nesse caso, não seria isolada
para a empresa e, sim, direcionada a todo o segmento. "Assim como não há dinheiro público para
a Varig, não há para a Volks. Se
houver algo, será para um conjunto da economia."
Dizendo que está calejado nesse
tipo de negociação, Marinho
acredita que a decisão da Volks
pode ter "algo mais" por trás, como alguma demanda ou a tentativa de pressionar o governo em período de eleição. "Sou calejado
[nesse tipo de conversa]. Às vezes,
eles [os empresários] "trucam"
primeiro para depois apresentar o
pleito", disse, referindo-se ao jogo
de cartas em que um jogador blefa
para intimidar o adversário.
Para ele, essa não é primeira crise da empresa e nem será a última. "A Volks é a maior do setor,
vem perdendo participação no
mercado e se ajustando ao longo
dos anos. Preciso ver se o tamanho [das demissões anunciadas] é
o que eles precisam ou se querem
aproveitar a conjuntura para forçar o governo a discutir política
para o setor."
Se o problema da montadora é o
nível do câmbio no Brasil, "por
que a empresa vai demitir também na Alemanha e em outros
países?", questionou ele, acrescentando que "então o problema
não é com o cambio brasileiro".
O ministro disse que irá procurar o presidente da empresa no
Brasil e os representantes do sindicato dos metalúrgicos do ABC
"para entender o problema" e, irritado, ironizou: "Essa é a desculpa da Volks [o câmbio]. Precisamos saber se é verdade ou se é um
balão de ensaio. Se é uma reestruturação global, não há o que fazer.
Mas a Volks não deve dizer que o
problema é cambial; eles que assumam os problemas deles".
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