São Paulo, sexta-feira, 04 de junho de 2004

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RETOMADA?

Órgão do governo projeta alta de preços acima da meta e Selic em 15,5% em dezembro, mas eleva previsão de crescimento

Ipea vê inflação, juros e PIB maiores no ano

CHICO SANTOS
DA SUCURSAL DO RIO

O Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), órgão do Ministério do Planejamento, reviu para cima suas estimativas de inflação e de taxa de juros para o fechamento deste ano, mas também aumentou levemente sua previsão anterior para o crescimento da economia. O tom do "Boletim de Conjuntura" de junho, divulgado ontem, é de otimismo em relação à consistência da retomada do crescimento.
A taxa de inflação, cuja projeção feita em março era de 5,7%, praticamente no centro da meta do governo (5,5%), passou no trabalho de junho para 6,5%. A nova previsão do Ipea se alinha com a sinalização de que o centro da meta não será atingido, já feita pelo Banco Central na ata do Copom (Comitê de Política Monetária) de maio.
A taxa Selic (juros básicos) para o último trimestre do ano teve sua previsão ajustada de 14,4% em março para 15,5% no documento deste mês. Para a taxa média do ano, o Ipea ajustou a previsão de 15,4% para 15,9%. Quanto ao crescimento econômico, medido pelo PIB (Produto Interno Bruto), a previsão passou de 3,4% para 3,5% de março para junho.
"Com o desempenho do primeiro trimestre bem melhor que o esperado, o natural seria subir mais [a previsão do PIB]. Só que, com isso, veio também um quadro de mais incerteza em razão da mudança no cenário externo", disse Paulo Levy, diretor de Estudos Macroeconômicos do Ipea.
"É isso, então, que está fazendo com que, no balanço dos fatores, fiquemos mais ou menos no mesmo patamar em que vínhamos anteriormente", afirmou Levy, ressaltando ser provável que o Ipea esteja subestimando a possibilidade de crescimento. Segundo ele, o correto pode ser "3,5% com algum viés de alta", podendo a taxa ficar em torno de 3,8%.

Inflação
Sobre o aumento da inflação projetada, Levy disse que o Ipea tem observado uma "resistência" das medidas de núcleo de inflação (fórmulas que buscam suavizar os fatores de volatilidade da taxa cheia) numa faixa entre 0,60% e 0,70% ao mês, quando o coerente com uma inflação próxima ao centro da meta seria um núcleo em torno de 0,50% ao mês.
Pressões dos preços industriais e, mais recentemente, dos preços agrícolas no atacado e a recente desvalorização do real em relação ao dólar são fatores que contribuem para que se espere uma inflação maior, segundo o Ipea. Levy disse que a projeção de 6,5% já engloba uma estimativa de aumento da gasolina de até 10%.
Caso a recente alta do petróleo no mercado internacional leve a Petrobras a fazer um repasse maior, o impacto da gasolina na inflação teria que ser reavaliado.
Em relação aos juros, o Ipea avalia que a alta da inflação, combinada com as incertezas do mercado internacional, sugere ao BC um controle maior para evitar que a inflação saia de controle. "A gente projeta que elas [as taxas de juros] voltem a cair, mas de maneira muito gradual", disse Levy.
Para o Ipea, o importante é que ficou comprovado pelos números do PIB do primeiro trimestre (crescimento de 1,6% sobre o trimestre anterior e de 2,7% sobre o mesmo trimestre de 2003) que o controle da política monetária "não abortou a recuperação".


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