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Populismo ainda inibe investimento estrangeiro no país
Governo apela para tabelamento de preços e boicote a produtos; falta de investimentos no setor energético pode provocar apagão
Calote e congelamento de tarifas dos serviços afugentam investidor externo, que teme retórica antinegócios de Kirchner
DA REPORTAGEM LOCAL
Apesar do "milagre" econômico, não são poucos os obstáculos para que a Argentina possa se tornar realmente um tigre
latino. A inflação segue em alta,
faltam investimentos, especialmente estrangeiros, em setores
tão estratégicos como a energia. O país pode sofrer um apagão se mantiver o crescimento.
A inflação, que foi de 3,7% em
2003, primeiro ano da gestão
Kirchner, ultrapassou os 12%
no ano passado. Em 2006, deve
chegar a 13%.
Kirchner encontrou vários
culpados para a alta de preços.
Já pediu publicamente um boicote aos postos de gasolina da
Shell e às duas maiores redes de
supermercados. O governo não
pára de lançar tabelamento de
preços. O preço da gasolina em
Buenos Aires é de 1,90 peso
(US$ 0,60), enquanto no Brasil
é de R$ 2,49 (US$ 1,11).
As taxas residenciais de água,
luz, gás e demais serviços privatizados no país estão sem reajuste desde 2001, apesar de o
peso valer um terço do que valia na época da paridade com o
dólar. "A gasolina vale o mesmo
que valia quando o barril do petróleo custava a metade do que
custa hoje", diz o consultor de
energia Daniel Gerold.
Algumas empresas deixaram
o país, como a francesa Suez,
que estava no setor de água e
saneamento. O governo estatizou alguns serviços. Outras,
com os lucros reduzidos e sem
previsão de reajuste das tarifas,
não investem mais.
"Há um grande risco de apagão e de racionamento em poucos anos porque ninguém está
investindo", diz um diretor da
maior companhia petrolífera
do país, a YPF-Repsol, que pediu anonimato.
Castigo externo
Há vários sinais de que, depois do calote da dívida externa
e com as diatribes do presidente com as multinacionais, a Argentina ainda é castigada internacionalmente. Em visita pela
América do Sul em maio, o presidente francês Jacques Chirac
esteve no Brasil e no Chile, mas
ignorou a Argentina. Uma descortesia estudada. O ex-presidente Carlos Menem foi afagado em todo o seu mandato.
Em 2005, a Argentina recebeu pouco mais de US$ 4 bilhões de investimentos estrangeiros diretos. O Chile, mais de
R$ 7 bilhões. Até a Colômbia,
com uma economia que equivale à metade da argentina, recebeu R$ 3,9 bilhões.
Boicote à carne
Em março, o presidente mostrou o quanto a inflação assusta
o governo. Pediu aos argentinos que deixassem de comer
carne, enquanto o preço não
baixasse. Apesar de sua alta popularidade, a sugestão de boicote não convenceu. Ele então
decretou a proibição de exportação da carne por seis meses,
para que o preço caísse.
"Exportamos o que comemos. Com o câmbio alto, todo
mundo quer exportar carne,
em vez de vender ao mercado
interno", diz o economista Carlos Melconian. "Se exportarmos, o preço sobe mais."
Depois de protestos barulhentos dos produtores agropecuários, o governo decidiu na
semana passada permitir a exportação de alguns cortes, mas
desde que as exportações não
cheguem a 40% do exportado
em 2005.
"Mas fica difícil criticar um
governo com uma economia
que cresce 9% ao ano e que reduziu o desemprego de 20% para 10%. Então continuamos a
alimentar o "monstro"", diz o
diretor de um dos maiores bancos argentinos, que, fiel à opinião, pediu anonimato.
(RJL)
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